(De Belém, Pará) – “Os impactos das mudanças climáticas não são distantes, sentimos eles na escassez dos peixes nos rios e na quebra de safra de açaí”. O depoimento é de Fabrina Carvalho, 21 anos. Com a voz firme e um semblante de preocupação, a jovem descreve os desafios enfrentados por comunidades ribeirinhas e das periferias da cidade de Santana, no Amapá.
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O painel “Juventudes e crianças que sustentam o agora: território, clima e lutas vivas” abriu espaço para jovens que fazem parte da resistência à exploração da natureza e à crise do clima em seus territórios. O encontro foi realizado nesta segunda-feira (10/11) no espaço do Círculo dos Povos, na Zona Verde da COP30 (30° edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima).
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Veja o que já enviamosMorador de Cuiabá (MT), Vinícius Costa, 23 anos, relata a importância do reconhecimento do papel de jovens ativistas, como representantes de comunidades e territórios. Ao mesmo tempo, ele observa os desafios que afetam a formação de novas lideranças, principalmente, no Centro-Oeste, região em que o agronegócio possui uma presença muito forte.
Além de Vinícius e Fabrina, o painel contou com a participação de Marcelo Borges. Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMG) e morador de Goiás, Marcelo foi um dos responsáveis por idealizar o “Folhas que Salvam”. A iniciativa busca capacitar jovens para a construção de alternativas para problemas ambientais em suas comunidades.
“Viemos com essa perspectiva de trazer todas as regiões do Brasil para entender um pouco mais sobre como podemos impactar o nosso território”, explica Fabrina, representante do Norte da Academia Latino-Americana de Liderança (LALA) na COP30. Em comum, os três jovens também são responsáveis por projetos para lidar com problemas socioambientais nos territórios em que vivem.
Iniciativas socioambientais
Nascida em uma comunidade ribeirinha chamada “Ilha do Pará”, Fabrina nasceu e cresceu em contato com o rio. Para ela, a crise climática afeta a cultura e a construção da identidade das futuras gerações. “Cuidar também é resistir e a juventude amazônica tem essa potência”, afirma a jovem.
Como uma forma de ter mais acesso à educação, Fabrina se mudou para Santana, ainda assim, mantém o vínculo com os saberes ribeirinhos. Após o contato com o ambiente urbano e com a iniciativa científica no Instituto Federal do Amapá (IFAP), ela ajudou a criar o “Projeto Oásis”, voltado para estudantes de comunidades empobrecidas.
Criada em 2022, a iniciativa foi uma das premiadas no Prêmio LED 2025 e ampliou a atuação para outros estados da Amazônia, além do Amapá. “Vamos em escolas públicas para falar sobre a Amazônia e iniciação científica”. Segundo Fabrina, ainda estudante universitária, o projeto trabalha com uma metodologia para valorizar a potência da Amazônia.
No Pantanal, Vinícius Costa é um dos idealizadores do Coletivo CapiClima, iniciativa também protagonizada por jovens. O objetivo do projeto é realizar eventos e ações de conscientização sobre temas como insegurança alimentar, racismo ambiental e desigualdade de gênero nas comunidades locais.
Jovens na COP30
Além do painel nesta segunda-feira, diferentes atividades envolvem jovens durante a COP30. Um dos destaques é a programação Cidade das Juventudes, o primeiro acampamento do tipo em conferências do clima. O espaço foi organizado pela Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República e pela Campeã Climática de Juventude da COP30.
O acompanhamento fica no prédio conhecido como Curro Velho e abriga jovens de mais de 80 países, além de uma programação com oficinas de graffiti, papel semente, serigrafia e plenárias temáticas. As atividades na Cidade das Juventudes seguem até o dia 21 de novembro, com foco em temas como territórios, biomas, gênero e clima.
Crianças e jovens estão entre os grupos mais afetados pela crise climática e por desastres, cada vez mais intensos e frequentes no presente. “A voz da juventude na COP é essencial, porque as decisões que estão sendo tomadas agora servem para entendermos como desenvolver soluções para o agora e para o nosso futuro”, destaca Fabrina Carvalho.
