(Belém, Pará) – As emissões de CO2 bateram no teto e os principais responsáveis foram as maiores economias do mundo. As projeções dos cientistas mostram que as emissões de CO2 em 2025 vão bater um recorde e superar em 1,1% as de 2024 e restam apenas quatro anos para que o orçamento de carbono de 1,5ºC se esgote.
O cenário alarmante não é novo, mas foi entregue em mãos para os negociadores presente a COP30, na quarta (19/11). O documento foi assinado pelos maiores climatologistas do mundo e escrito no pavilhão da Ciência Planetária, bem próximo a sala dos tomadores de decisão reunidos na Zona Azul, em Belém.
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Veja o que já enviamosFaltando apenas um dia para o encerramento, marcado para esta sexta (21/11) da Conferência do Clima – à medida que as horas vão passando, fica mais claro que o resultado dessa COP é ainda uma incógnita –, a adesão dos países ao chamado do presidente Lula para longe dos combustíveis fósseis ainda precisa percorrer um longo caminho e muitas horas e horas de negociação, especialmente com a oposição frontal que vem sendo feita por países dependentes de petróleo, seja como produtores (Arábia Saudita) ou consumidores (Índia).
“A dependência contínua de combustíveis fósseis provavelmente fará com que o mundo ultrapasse o limite de 1,5ºC mais rapidamente e por mais tempo”, alerta um dos trechos do documento.
Depois de participar de pouco mais de 35 painéis científicos nesta COP, o climatologista e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, Carlos Nobre, é taxativo: “Zerar os combustíveis fósseis é algo que precisa ser feito até 2040, no máximo 2024”. Nobre foi um dos nove cientistas que assinaram o documento.
O texto dos cientistas não deixa dúvidas ao afirmar que “alcançar as emissões líquidas zero globais exige uma mudança radical de mentalidade e governança em todos os países, bem como, principalmente, a expansão da energia renovável, a eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis e o fim do desmatamento.”
Todos os países tropicais, comentou Nobre, já aderiram à proposta de zerar o desmatamento. “Se for aprovado, será a primeira COP na história das conferências do clima a encerrar com o mapa do caminho para zerar o desmatamento.”
No seu retorno a Belém, na quarta, dia da entrega do documento aos negociadores, Lula, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e a diretora executiva da conferência, Ana Toni, passaram o dia em zilhões de reuniões bilaterais com mais de 50 países, além de representantes do setor privado e a sociedade civil.
Mais de 70 organizações e 82 países apoiaram o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis – nenhum deles do bloco dos Brics, exceto, obviamente, o Brasil. É uma adesão ainda pequena frente ao alerta feito no documento dos cientistas que essa “é a única opção para evitar uma crise planetária.”
O documento faz mais um alerta preocupante: “Estamos vendo a ciência ser apagada dos textos e isso faz parte de uma estratégia mais ampla de adiamento e negação. Os dados e a ciência são vitais para que tomemos as decisões certas, tanto aqui na COP quanto em nossos países.”
Só a combinação de desmatamento zero com redução contínua do uso de combustíveis fósseis pode evitar “um ecocídio”, diagnostica Nobre, comentando que “corremos o risco de a Amazônia entrar no ponto de não retorno e perdermos 70% de floresta”.
E mais: se o planeta continuar aquecendo, como vem mostrando as projeções, os solos congelados da Sibéria e do norte do Canadá podem liberar algo como 200 bilhões de toneladas de metano, um gás muito mais potente e perigoso que o gás carbônico.
