Carlos Nobre sobre a COP30: “a Ciência está sendo apagada nos textos”

Documento entregue pelos cientistas aos negociadores alerta sobre alguns países estarem fazendo de tudo para dissociar os dados científicos das negociações climáticas

Por Liana Melo | ODS 13
Publicada em 20 de novembro de 2025 - 15:11  -  Atualizada em 20 de novembro de 2025 - 15:19
Tempo de leitura: 5 min

O climatologista Carlos Nobre, um dos cientistas à frente do Pavilhão de Ciências Planetárias da COP 30: apagamento da ciência (Foto: Liana Melo)

(Belém, Pará) – As emissões de CO2 bateram no teto e os principais responsáveis foram as maiores economias do mundo. As projeções dos cientistas mostram que as emissões de CO2 em 2025 vão bater um recorde e superar em 1,1% as de 2024 e restam apenas quatro anos para que o orçamento de carbono de 1,5ºC se esgote.

O cenário alarmante não é novo, mas foi entregue em mãos para os negociadores presente a COP30, na quarta (19/11). O documento foi assinado pelos maiores climatologistas do mundo e escrito no pavilhão da Ciência Planetária, bem próximo a sala dos tomadores de decisão reunidos na Zona Azul, em Belém.

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Faltando apenas um dia para o encerramento, marcado para esta sexta (21/11) da Conferência do Clima – à medida que as horas vão passando, fica mais claro que o resultado dessa COP é ainda uma incógnita –, a adesão dos países ao chamado do presidente Lula para longe dos combustíveis fósseis ainda precisa percorrer um longo caminho e muitas horas e horas de negociação, especialmente com a oposição frontal que vem sendo feita por países dependentes de petróleo, seja como produtores (Arábia Saudita) ou consumidores (Índia).

A dependência contínua de combustíveis fósseis provavelmente fará com que o mundo ultrapasse o limite de 1,5ºC mais rapidamente e por mais tempo”, alerta um dos trechos do documento.

Depois de participar de pouco mais de 35 painéis científicos nesta COP, o climatologista e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, Carlos Nobre, é taxativo: “Zerar os combustíveis fósseis é algo que precisa ser feito até 2040, no máximo 2024”. Nobre foi um dos nove cientistas que assinaram o documento.

O texto dos cientistas não deixa dúvidas ao afirmar que “alcançar as emissões líquidas zero globais exige uma mudança radical de mentalidade e governança em todos os países, bem como, principalmente, a expansão da energia renovável, a eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis e o fim do desmatamento.”

Todos os países tropicais, comentou Nobre, já aderiram à proposta de zerar o desmatamento. “Se for aprovado, será a primeira COP na história das conferências do clima a encerrar com o mapa do caminho para zerar o desmatamento.”

No seu retorno a Belém, na quarta, dia da entrega do documento aos negociadores, Lula, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e a diretora executiva da conferência, Ana Toni, passaram o dia em zilhões de reuniões bilaterais com mais de 50 países, além de representantes do setor privado e a sociedade civil.

Mais de 70 organizações e 82 países apoiaram o mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis – nenhum deles do bloco dos Brics, exceto, obviamente, o Brasil. É uma adesão ainda pequena frente ao alerta feito no documento dos cientistas que essa “é a única opção para evitar uma crise planetária.”

O documento faz mais um alerta preocupante: “Estamos vendo a ciência ser apagada dos textos e isso faz parte de uma estratégia mais ampla de adiamento e negação. Os dados e a ciência são vitais para que tomemos as decisões certas, tanto aqui na COP quanto em nossos países.”

Só a combinação de desmatamento zero com redução contínua do uso de combustíveis fósseis pode evitar “um ecocídio”, diagnostica Nobre, comentando que “corremos o risco de a Amazônia entrar no ponto de não retorno e perdermos 70% de floresta”.

E mais: se o planeta continuar aquecendo, como vem mostrando as projeções, os solos congelados da Sibéria e do norte do Canadá podem liberar algo como 200 bilhões de toneladas de metano, um gás muito mais potente e perigoso que o gás carbônico.

 

 

 

 

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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