(De Belém, Pará*) – O Brasil criará um fundo para financiar ações de adaptação e justiça climática, alimentado com parte dos lucros da exploração do petróleo, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira (06), em sessão da Cúpula do Clima. Segundo Lula, “direcionar parte dos lucros obtidos com a exploração de petróleo para a transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento”.
Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis, demanda o acesso à tecnologia de financiamento para os países do Sul Global
Logo no início de seu discurso, em uma sessão sobre transição energética, Lula adotou um tom de defesa de uma transição gradual. “Já sabemos que não é preciso desligar máquinas e motores, nem fechar fábricas ao redor do mundo de um dia para o outro”, disse.
No pronunciamento, que levou cerca de 10 minutos, Lula também não mencionou o avanço de pesquisas para novas explorações de petróleo na região marítima da Foz do Amazonas, na costa do Amapá, um trecho da chamada Margem Equatorial. A licença aprovada pelo Ibama ocorreu semanas antes do início da COP30 e causou reação da sociedade civil.
“A Terra não comporta mais o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que vigorou nos últimos 200 anos. 75% das emissões de gases do efeito estufa têm origem na produção e no consumo de energia”, disse o presidente. “Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis, demanda o acesso à tecnologia de financiamento para os países do Sul Global”, ressaltou.
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Veja o que já enviamosAo aprofundar o tema, Lula criticou o que classificou como “dívidas externas impagáveis” e propôs que financiadores internacionais considerem formas de trocar dívidas por financiamento em iniciativas de redução de emissões de gases de efeito estufa e de transição energética.
O presidente ainda adiantou que o Brasil estabelecerá um fundo “para financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover justiça climática”. Segundo ele, os países em desenvolvimento, como o Brasil, podem considerar o direcionamento dos lucros com a exploração de petróleo para transição energética. “O mundo precisa de um mapa do caminho claro para acabar com essa dependência dos combustíveis fósseis”, disse.
Minerais críticos
Na mesma sessão sobre transição energética, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o tema da transição energética exige um olhar atento também para a produção de minérios. “É impossível discutir transição energética sem falar dos minerais críticos essenciais”, disse o presidente brasileiro na segunda sessão temática prevista na Cúpula do Clima. O evento é realizado desde ontem (6), e se encerra nesta sexta-feira (07/11), sendo uma espécie de “pontapé inicial” da COP30, que inicia a partir da próxima segunda-feira (10), em Belém, capital do Pará.
Ao abordar o tema, Lula reafirmou que acredita que a transição energética representa um “novo paradigma de desenvolvimento e uma grande oportunidade para promover transformações estruturais na sociedade e na economia”. Na sequência, deixou um recado indireto sobre o atual cenário, em que países do Sul Global e em desenvolvimento, como o Brasil, são fornecedores de matéria-prima e exportam minério, mas compram tecnologia com valor agregado.
Conforme lembrou Lula, os minerais críticos usados no setor são fundamentais para a confecção de baterias, painéis solares e sistemas de energia. “Para gerar emprego e renda e gozar de segurança energética, os países em desenvolvimento precisam participar de todas as etapas dessa cadeia global de valor”, disse.
O tom foi adiante do que Lula já havia abordado em outras ocasiões internacionais recentes. Conforme Amazônia Vox mostrou em reportagem publicada esta semana, no final de outubro, na Indonésia, o presidente fez a mesma conexão da transição energética e mineração, ao afirmar que é necessário romper a lógica atual.
“Não pretendemos reproduzir a condição de meros exportadores de commodities. Queremos agregar valor em nosso território, com responsabilidade ambiental e respeito às comunidades locais”, afirmou em seu discurso.
Em setembro, na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos, Lula abordou o tema afirmando que “a corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos”, disse.
*Reportagens de Daniel Nardin, Kiara Worth e Ricardo Garcia
**Estas reportagens foram produzidas pela Amazôna Vox, por meio da Cobertura Colaborativa Socioambiental da COP 30. Leia as reportagenas originais aqui e aqui
