Brasil: mais pobre e poluído em 2020

Desmatamento da Amazônia e do Cerrado leva a aumenta de 9,5% nas emissões de gases de efeito estufa no país, aponta estudo do Observatório do Clima

Por Liana Melo | ODS 13 • Publicada em 28 de outubro de 2021 - 12:05 • Atualizada em 1 de novembro de 2021 - 01:02

Área desmatada na Amazônia

O rastro do desmatamento costuma deixar feridas profundas na floresta. Às vésperas da Conferência do Clima, a COP26, o Brasil chega em Glasgow, na Escócia, com sua imagem chamuscada pelas queimadas. O desmatamento da Amazônia e do Cerrado foi o principal responsável pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa no país em 2020 – um ano marcado pela Covid-19, onde a economia mundial sofreu um revés, o que causou uma inédita redução de quase 7% nas emissões globais de gases de efeito estufa. Na contramão do mundo, o Brasil registrou um aumento das suas emissões de 9,5%, o que colocou o país na desconfortável posição de ter sido um dos grandes emissores do planeta a registrar alta nesse indicador. Com o aumento das emissões e a queda de 4,1% no PIB, o Brasil ficou mais pobre e mais poluído em 2020.

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Estimativas do Observatório do Clima indicaram que o Brasil emitiu, no ano passado, 2,16 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) contra 1,97 bilhão de toneladas em 2019. O nível de emissões verificado em 2020 foi o maior dos últimos 15 anos. Em sua nona edição, o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) estimou que 40% das emissões brutas do país foram decorrentes da mudança de uso da terra — um aumento de 23,6%, o que mais do que compensou a queda registrada no setor de energia, fortemente afetado pela pandemia e pela estagnação econômica.

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Dois mil e vinte foi o ano que tivemos as maiores emissões do setor em 11 anos, um reflexo claro do desmonte em curso da política ambiental, que tem favorecido a retomada das altas taxas de desmatamento

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A estimativa das emissões brasileiras ocorreu um dia depois de o próprio Observatório do Clima protocolar uma ação civil pública na Justiça Federal do Amazonas. Os acusados são a União e o Ministério do Meio Ambiente. Para garantir a urgente e necessária redução das emissões brasileiras de gases de efeito estufa, o Observatório cobra a atualização do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, lançado em 2008. Treze anos depois, o documento nunca foi atualizado.

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Às vésperas da COP26, a pressão contra o Brasil cresce. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), por sua vez, divulgou, no início dessa semana, um relatório onde constata que o Brasil foi o único país do G-20 que recuou em sua promessa de reduzir suas emissões. Em dezembro do ano passado, ao anunciar sua NDC brasileira, sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada que envolve compromissos voluntários criados pelos países signatários do Acordo de Paris, o governo se comprometeu com uma meta pior do que a anterior — o retrocesso que já ficou conhecido como “pedalada climática“.

Num cenário de desmonte da fiscalização ambiental e de descontrole sobre crimes como grilagem, garimpo e extração ilegal de madeira no governo Bolsonaro, o desmatamento explodiu na Amazônia., atingindo uma área de 10.851 km2, segundo estimativas feitas com base nos dados do sistema Prodes/Inpe. Desmatamento em alta, emissões idem. A região emitiu 782 milhões de toneladas de CO2e. Se fosse um país, a floresta brasileira seria o nono maior emissor do mundo. Se juntar as emissões do Cerrado, um total de 113 milhões de toneladas de CO2, os dois biomas avançam para o oitavo lugar no ranking mundial dos grandes emissores.

“Dois mil e vinte foi o ano que tivemos as maiores emissões do setor em 11 anos, um reflexo claro do desmonte em curso da política ambiental, que tem favorecido a retomada das altas taxas de desmatamento”, concluiu Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), organização que calculou as emissões do setor no relatório do SEEG.

Florestas será um dos quatro temas prioritários do governo do Reino Unido na COP26, junto com mobilidade urbana, transição energética e financiamento. É sobre esses temas que dirigentes de países, representantes da sociedade civil do mundo todo, executivos de empresas e o setor financeiro se debruçarão até o próximo dia 12 de novembro, quando termina aCOP26. É num ambiente que espera deter e reverter a perda e degradação das florestas até 2030 que o Brasil terá exposto seu maior calcanhar de Aquiles: o descontrolado desmatamento na Amazônia.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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