Software calcula pegada de carbono de produtos de metal e ajuda a reduzir emissões

Desenvolvido por empresa alemã, sistema favorece otimização da produção, com consumo mínimo de matéria-prima e energia

Por Natália Boere | ODS 12 • Publicada em 16 de agosto de 2024 - 09:58 • Atualizada em 21 de agosto de 2024 - 16:44

Estande da PSI em feira da Associação de Ferro e Aço: software para calcular pegada de carbono de produtos de metal (Foto: Divulgação PSI Metals)

O Acordo de Paris, tratado mundial para reduzir o aquecimento global, firmado em 2015 na 21ª Conferência das Partes (COP21), estabelece como meta zerar as emissões de carbono até 2050. Tarefa árdua para uma indústria que, sozinha, é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, como a siderúrgica. Líder no fornecimento de soluções em gestão de produção para a indústria de metais, a empresa alemã PSI Metals desenvolveu o software Product Carbon Footprint (PCF), que é capaz de rastrear as pegadas de carbono da produção de cada peça de metal em tempo real. E, desta forma, ajudar a reduzir as emissões de CO2.

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“O rastreamento das pegadas de carbono é importante porque é a base para uma produção otimizada no que diz respeito ao ajuste da qualidade do produto com mínimo consumo de material e energia e máxima produtividade”, explica Martin Schlautmann, gerente de produção de líquidos, descarbonização e gerenciamento de energia na PSI Metals. 

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Confira abaixo os principais trechos da conversa de Schlautmann com o #Colabora.

Martin Schlautmann, da PSI Metals: aumentar a eficiência dos processos, economizar energia e minimizar as perdas na produção (Foto: Divulgação / PSI Models)
Martin Schlautmann, da PSI Metals: aumentar a eficiência dos processos, economizar energia e minimizar as perdas na produção (Foto: Divulgação / PSI Metals)

Como surgiu a ideia para o PCF? Como ele foi criado e com que objetivo?

O primeiro pedido veio de um cliente, que já usa o nosso sistema de execução de fabricação. Ele nos perguntou se éramos capazes de usar os dados já coletados durante a produção, de monitoração e rastreamento, para calcular as emissões de gases de efeito estufa, que estão relacionadas à cada etapa da produção. E também para dar alguns dados da pegada de carbono do produto no final da produção de uma determinada peça de material. E nós dissemos que era possível fazer isso. 

A indústria siderúrgica sozinha é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa. Isso representa mais ou menos um terço de todas as emissões industriais. Então, essa é realmente uma grande taxa de emissão de CO2 proveniente do aço. E é por isso que haverá um grande efeito se realmente descarbonizarmos esta indústria

Martin Schlautmann
Gerente de produção de líquidos, descarbonização e gerenciamento de energia na PSI Metals

O cliente pode obter uma aprovação do produto com esses dados de qualidade e, no final, a pegada de carbono deste produto nada mais é do que um indicador de qualidade adicional. E de consumo de energia, eletricidade, consumo de gás natural, sucata de um produto e assim por diante. E podemos levar isso em conta para calcular as emissões de CO2 relacionadas em tal etapa de produção. 

De que forma o software pode ajudar a cumprir a meta de zerar as emissões de carbono até 2050 estabelecida no Acordo de Paris, tratado mundial para reduzir o aquecimento global, firmado na 21ª Conferência das Partes (COP21) em 2015?

O PCF fornece a documentação do progresso da descarbonização, que é solicitada pelo Acordo COP 21 em Paris sobre o clima. As metas têm que ser cumpridas até 2045, 2050. Para que os clientes (das indústrias siderúrgicas) conduzam esse processo, essas etapas têm que ser documentadas. Um cliente automotivo, por exemplo, precisa validar suas bobinas e rastrear o que está acontecendo em relação à pegada de carbono dos seus produtos.

Como é possível calcular a emissão de carbono de um único produto de metal?

Existem várias etapas de produção. A chamada fase upstream, a fase líquida, é a que mais emite CO2. Se produzir ferro líquido em um alto-forno, você pode medir por tonelada de ferro líquido quanto CO2 é emitido 

Por outro lado, se isso for processado posteriormente, você poderá realmente rastrear cada calor em uma fornalha básica de oxigênio, onde ela recebe, digamos, um pouco de energia elétrica para aquecê-la mais. Essa energia elétrica pode ser medida pelo seu fornecedor de eletricidade.

Assim, é possível saber quanto CO2 foi emitido durante a produção de eletricidade. Se você usa gás natural, também pode calcular isso para cada metro cúbico de gás natural. Você tem alguns quilos de CO2 emitido. Então, você pode apenas fazer o balanço de massa do produto.

Na linha de produção, você pode calcular isso por outro lado. Durante a produção, temos alguns processos, tempos ociosos, processos de preparação de uma determinada linha onde não há material. Então, por essas regras, bem simples, você tem realmente (o volume de emissão de CO2) por peça individual do produto.

Poderia me dar alguns exemplos de produtos siderúrgicos para que as pessoas possam calcular a dimensão desta indústria e o impacto dela? 

Há diferentes tipos de produtos, produtos longos e produtos planos e barras e bobinas. Na indústria siderúrgica, se você ainda opera um alto-forno, normalmente produz cerca de 1,8 toneladas de CO2 por tonelada de aço.

No final das contas é preciso aumentar a eficiência dos processos e realmente ter mudanças disruptivas na tecnologia: economizar energia, usar o mínimo possível para realmente minimizar as perdas na produção, porque tudo isso também economiza emissões de CO2

Martin Schlautmann
Gerente de produção de líquidos, descarbonização e gerenciamento de energia na PSI Metals

Assim, a tendência atual é substituir esses altos-fornos pelos fornos elétricos a arco ou DRI (ferro de redução direta), onde não se utiliza coque para reduzir o minério de ferro, mas sim hidrogênio. E se esse hidrogênio for produzido verde, com energia verde, então você tem mais ou menos um ferro verde, que passa a ser a matéria-prima para a produção de aço.

E ainda existem alguns processos de gás natural, que também serão substituídos mais ou menos por eletricidade, eletricidade verde ou por hidrogênio completo, sem emissões de CO2. Então, há uma grande variedade de pegadas de CO2.

Se você tem, como eu falei, a rota do alto-forno, você tem mais ou menos duas toneladas a mais (de CO2) por tonelada de aço. Se você já está usando a produção de forno elétrico a arco ou DRI, você está com 200 quilos e não duas toneladas de CO2 por tonelada de aço. Então isso é um grande passo em frente.

Sim, porque a indústria siderúrgica é uma das mais poluentes de todas… 

A indústria siderúrgica sozinha é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa. Isso representa mais ou menos um terço de todas as emissões industriais. Então, essa é realmente uma grande taxa de emissão de CO2 proveniente do aço. E é por isso que haverá um grande efeito se realmente descarbonizarmos esta indústria.

De que forma o rastreamento de pegadas de carbono pelo PCF ajuda a reduzir, de fato, a emissão de CO2?

O rastreamento das pegadas de carbono é importante porque é a base para uma produção otimizada no que diz respeito ao ajuste da qualidade do produto com mínimo consumo de material e energia e máxima produtividade. O rastreamento do PCF por si só não salva nenhuma molécula de CO2. No final das contas é preciso aumentar a eficiência dos processos e realmente ter mudanças disruptivas na tecnologia: economizar energia, usar o mínimo possível para realmente minimizar as perdas na produção, porque tudo isso também economiza emissões de CO2. E essa é uma tarefa que pode ser realizada por um sistema de gestão de produção.

Já é sabido, mas é sempre importante reforçar. Por que é importante zerar as emissões de carbono? Quais são os riscos das emissões de carbono para o meio ambiente e para a nossa existência? 

A ligação entre o aquecimento global e a concentração de CO2 na atmosfera é uma relação estabelecida e que continua aumentando. Portanto, se a concentração de CO2 na atmosfera aumenta, amplia ainda mais o aquecimento global, que todos nós já podemos sentir hoje. 

Estes últimos 13 meses foram os mais quentes já registrados. Estamos enfrentando 1,6 graus Celsius acima da temperatura do final do século XIX. Então, isso significa que temos que reduzir essas emissões.

Natália Boere

Natália Boere é jornalista baiana com mais de 20 anos de experiência. Trabalhou por 12 anos no jornal O GLOBO e colabora com o #COLABORA desde que o mundo é mundo. Alguém aí ouviu falar no “Naty de bicicleta”?! #procuresaber

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