Sem saber o que dar de presente para aquele amigo ligado em ecologia, sustentabilidade e preocupado com a questão do lixo? Na França, a última moda é ter uma galinha. Com um apetite voraz, ela é capaz de comer até 200 quilos de restos alimentares por ano e passou a ser a “queridinha” da vez. Tanto que ter uma galinha em casa foi é um dos 7 gestos ecológicos listados durante a COP 21 pela ONG Zero Waste. Até a Ségolène Royal, Ministra da Ecologia, do Desenvolvimento Sustentável e da Energia ganhou duas galinhas, da raça Marans, que ciscam na maior desenvoltura nos jardins do Ministério, em Paris.
[g1_quote author_name=”Gilbert Meyer” author_description=”Prefeito da cidade de Colmar” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A vantagem para a cidade e para a população é imediata, pois o imposto sobre o lixo gerado é calculado pelo volume. Com menos lixo, os contribuintes pagam menos e isso é um enorme incentivo
[/g1_quote]Ter galinhas no quintal e alimentá-las com restos de comida não é uma novidade. A novidade é que depois de ciscarem no campo, as galinhas voltam às cidades com um papel valorizado. A gestão do lixo urbano é um dos itens mais importantes e complexos da agenda pública. Tanto que cada vez mais cidadãos assumem a responsabilidade pela redução do seu próprio lixo. Em média, um terço do lixo domiciliar provém de restos alimentares. Isso equivale a 150 quilos jogados fora por ano, por habitante na França.
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Veja o que já enviamosCerca de 50% dos franceses moram em casa com quintal. Se cada um deles tivesse uma galinha – na verdade duas pois elas não são solitárias – seriam milhões de toneladas de lixo que não precisariam ser coletados.
Disputa por uma ave
A galinha passou a fazer parte das soluções postas em prática por várias prefeituras na França para reduzir o lixo alimentar e consequentemente reduzir a fatura – Châtillon, Versailles, Toulouse, Amiens, Besançon, Colombes, Aubagne, Colmar….a lista é enorme. Gilbert Meyer, prefeito da cidade de Colmar, conta que a cidade reduziu 80 toneladas de lixo alimentar em 2015. “A vantagem para a cidade e para a população é imediata, pois o imposto sobre o lixo gerado é calculado pelo volume”. Gilbert Meyer explica também que o lixo custa caro para as prefeituras: “nossos custos praticamente dobraram entre 2000 e 2012 com os equipamentos de coleta, transporte, estocagem, tratamento e incineração”. Com menos lixo gerado, os contribuintes pagam menos e isso é o que incentiva a população. Incentiva tanto que a cidade já distribuiu 430 galinhas e dezenas de famílias estão numa lista de espera. Até agora foram 430 galinhas distribuídas em Colmar, 1500 em Lot-et-Garonne, 700 em Mouscron, 570 em Grand Villeneuvois… e em Paris?
Poleiros urbanos e coletivos
Uma experiência de fazenda urbana vem atraindo a atenção e a adesão de parisienses e visitantes que passam pela cidade. Instalada no norte de Paris, numa antiga estação de trem desativada, o novo espaço abriga restaurante, loja, horta e… poleiro! Numa proposta ecologicamente correta, La REcyclerie foi pioneira na criação de uma fazenda urbana. Lá, 19 galinhas, 1 galo e 2 patos deglutem os restos alimentares gerados pelo restaurante – são entre 150 a 200 clientes por dia que ao fim de suas refeições são convidados a limpar seus pratos. O resultado? Praticamente “zero resíduo alimentar” e 4.000 ovos por ano que são distribuídos entre os moradores locais e voluntários que cuidam da horta, organizam as visitas semanais e promovem ateliers para as crianças. Baseada sobre o princípio dos 3 Rs – reduzir, reutilizar e reciclar, a iniciativa vem despertando interesse de prefeituras e até de outros países interessados em copiar o modelo.
Existem várias raças de galinhas. Só na França são mais de 40 catalogadas – custando €25 em média. É uma compra de “atitude” que atrai mais as mulheres. “Nossas clientes são mulheres bem informadas, preocupadas com o meio ambiente e autônomas. Autônomas até para gerenciar o lixo que geram”, explica o responsável pelo setor de aves da rede Truffaut, que desde 2010 registra 100% de crescimento nas vendas das aves. Nessa nova tendência, arquitetos e designers trabalham para integrar os ambientes da sala de jantar e do poleiro, criando um espaço em harmonia e de atitude. Nessa volta às soluções simples, talvez o porco seja o próximo queridinho da vez.