Wanderson da Silva sobre Vigário Geral: ‘Tinha medo de andar na rua e morrer. Superei isso com a ajuda da psicologia’

Vigário Geral e a chacina na visão de dez moradores

Por Leonne Gabriel | ODS 11ODS 8 • Publicada em 27 de agosto de 2018 - 16:22

Wanderson da Silva, 21 anos, estudante de psicologia (Foto: Juliana Nascimento)
Wanderson da Silva, 21 anos, estudante de psicologia (Foto: Juliana Nascimento)

Eu sou Wanderson da Silva porque quase todo mundo tem Da Silva em Vigário Geral.  Sou nascido e crescido em Vigário. Minha família está aqui desde os primórdios da comunidade. Faço psicologia na Veiga de Almeida, com bolsa Prouni pelo Enem. Na minha família, ninguém concluiu a faculdade. Minha mãe e minha tia chegaram a entrar, mas desistiram no caminho. Depois que entrei na faculdade, tive mais credibilidade da comunidade, me chamavam para dar aula para as crianças, foi um movimento bem legal. A comunidade nos cobra isso, é um vínculo muito fraternal. Eu sempre digo pros meus amigos: quando começa o tiroteio, eu posso entrar na casa que eu quiser e vice-versa. Conviver na comunidade é ser comunitário. Um ajuda o outro. A vida sempre foi assim.

Eu não peguei a chacina, mas meu avô conta que, quando foi trabalhar, viu muitos corpos e sangue na rua.  Isso criou em Vigário uma lenda, se ninguém morreu hoje é porque demos sorte, mas amanhã vai acontecer. Eu tenho a história da “Grande Guerra” (quando traficantes de Parada de Lucas invadiram Vigário Geral e assumiram o controle da comunidade, em 2007) e, quem estava aqui há 25 anos, lembra como sobreviveu à chacina. Meu avô toda semana falava que ia ter invasão e não tinha. Ele ficava nesse medo constante de que ia ter invasão a qualquer momento.  Eu, também desenvolvi um quadro de ansiedade. Uma vez, quando estava passando na passarela que dá acesso à comunidade, começou um tiroteio. Saí correndo para dentro da casa de um vizinho. Isso foi perto do meu aniversário, e eu queria muito chamar meus amigos para minha festa, mas fiquei pensando no risco de chamar alguém e começar um tiroteio. Tinha medo de andar na rua e morrer. Superei isso com a ajuda da psicologia”.

Leonne Gabriel

Leonne Gabriel é graduado em Comunicação Social jornalismo e publicidade e propaganda com ênfase em Tecnologias e Mídias Digitais na PUC-Rio. Atualmente integra o time de jornalismo do Canal Futura como apresentador. É ganhador do Prêmio ANF de Jornalismo 2019 na categoria melhor reportagem de educação e do Prêmio Ubuntu de Cultura 2019 na categoria jornalista revelação.

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