“Eu sou Wanderson da Silva porque quase todo mundo tem Da Silva em Vigário Geral. Sou nascido e crescido em Vigário. Minha família está aqui desde os primórdios da comunidade. Faço psicologia na Veiga de Almeida, com bolsa Prouni pelo Enem. Na minha família, ninguém concluiu a faculdade. Minha mãe e minha tia chegaram a entrar, mas desistiram no caminho. Depois que entrei na faculdade, tive mais credibilidade da comunidade, me chamavam para dar aula para as crianças, foi um movimento bem legal. A comunidade nos cobra isso, é um vínculo muito fraternal. Eu sempre digo pros meus amigos: quando começa o tiroteio, eu posso entrar na casa que eu quiser e vice-versa. Conviver na comunidade é ser comunitário. Um ajuda o outro. A vida sempre foi assim.
Eu não peguei a chacina, mas meu avô conta que, quando foi trabalhar, viu muitos corpos e sangue na rua. Isso criou em Vigário uma lenda, se ninguém morreu hoje é porque demos sorte, mas amanhã vai acontecer. Eu tenho a história da “Grande Guerra” (quando traficantes de Parada de Lucas invadiram Vigário Geral e assumiram o controle da comunidade, em 2007) e, quem estava aqui há 25 anos, lembra como sobreviveu à chacina. Meu avô toda semana falava que ia ter invasão e não tinha. Ele ficava nesse medo constante de que ia ter invasão a qualquer momento. Eu, também desenvolvi um quadro de ansiedade. Uma vez, quando estava passando na passarela que dá acesso à comunidade, começou um tiroteio. Saí correndo para dentro da casa de um vizinho. Isso foi perto do meu aniversário, e eu queria muito chamar meus amigos para minha festa, mas fiquei pensando no risco de chamar alguém e começar um tiroteio. Tinha medo de andar na rua e morrer. Superei isso com a ajuda da psicologia”.