Aconteceu novamente. Em uma segunda-feira, 8 de abril, choveu mais no Rio de Janeiro do que a previsão para todo o mês de abril. Aconteceu novamente. A cidade parou, as ruas ficaram alagadas, carros foram arrastados e pessoas morreram. Aconteceu novamente. Diante da tragédia anunciada, o prefeito da hora, o bispo Marcelo Crivella, culpou o excesso de chuva, as falhas no sistema de alarmes e aproveitou para tentar dividir a responsabilidade com a Cedae. Não que ela não mereça. Mas como diria a jovem deputada Tabata Amaral, do PDT de São Paulo, isso é muito pouco para quem está há mais de dois anos no comando da prefeitura.
[g1_quote author_name=”Paulo Canedo” author_description=”Professor da Coppe” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]O trabalho de manutenção quase nunca é feito, ainda temos canos de chumbo espalhados pela cidade, que foram instalados no tempo do Imperador D. Pedro II
[/g1_quote]Tabata ficou conhecida nacionalmente por interpelar o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez em uma audiência no Congresso. O vídeo viralizou nas redes sociais, virou um sucesso de público e de crítica. “Parece que não há sequer um ministério”, dizia a parlamentar estreante de apenas 25 anos: “Em um trimestre não é possível que o senhor apresente um Power Point com dois, três desejos para cada área da educação. Cadê os projetos? Cadê as metas? Quem são os responsáveis?”, dizia a deputada.
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Veja o que já enviamosAs mesmas cobranças poderiam ser feitas para o prefeito Crivella na Câmara de Vereadores: “Cadê os projetos? Cadê as metas? Quem são os responsáveis?”. É fato que choveu muito, choveu demais. É verdade também que a população não tem feito a sua parte, é mal-educada e continua jogando lixo nas ruas e entupindo os bueiros. Mas se o trabalho tivesse sido feito, as consequências seriam muito menores. Não é de hoje que o Rio de Janeiro sofre com as chuvas. As águas de março ou de abril já mataram muito gente por aqui, nas favelas e no asfalto. Se o problema é antigo, o que os nossos prefeitos vêm fazendo para minimizá-lo? Ganha uma bala Juquinha quem lembrar a última vez que um buraco foi aberto na cidade com o objetivo de trocar uma tubulação antiga por uma nova.
“Quando um buraco é aberto na rua, normalmente é para consertar um vazamento”, garante o professor Paulo Canedo, da Coppe. “O trabalho de manutenção quase nunca é feito, ainda temos canos de chumbo espalhados pela cidade, que foram instalados no tempo do Imperador D. Pedro II. A última vez que houve um trabalho mais sistemático de substituição foi no projeto Rio-Cidade, no início dos anos 90”, explica.
Para Canedo, a nossa infraestrutura de drenagem não é adequada e alagamentos como os que aconteceram esta semana e em fevereiro último voltarão a ser registrados. Segundo ele, o material usado nas tubulações do Rio é basicamente o mesmo de outras cidades desenvolvidas do mundo, o que falta é acompanhar a vida útil e trocar sempre que for necessário: “Os técnicos da prefeitura têm essas informações, basta ter planejamento e recursos para fazer o que precisa ser feito. Algumas tubulações simplesmente se desfizeram como tempo, são restos de ferro retorcidos”.
Mas trocar ou modernizar a rede de drenagem de uma cidade como o Rio deve ser algo bastante demorado e caro. Certamente. E aí que entram os projetos, as metas e os responsáveis. Como não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, é preciso priorizar, identificar as áreas mais ameaçadas e prioritárias. Ter um projeto conceitual pronto para cada área, com custos aproximados e alternativas de solução. Isso facilitaria muito o trabalho do prefeito, de qualquer prefeito, desde que ele queria realmente gerenciar o solucionar os problemas. Caso contrário, é só esperar pela próxima tragédia.