“Este é o meu sotaque de Boston”. Assim começa o novo filmete de promoção turística da cidade americana e esta coluna. Aqui vou escrever todo mês sobre um tema que me mobiliza já há alguns anos: como o setor de viagens e turismo pode ter mais diversidade e ser mais inclusivo e sustentável. E por que Boston para dar início à conversa? Porque a nova fase da campanha All Inclusive Boston foi a que mais me chamou a atenção na recente edição da International Pow Wow (IPW), a maior e mais importante feira de turismo dos Estados Unidos, que reuniu mês passado cerca de cinco mil pessoas de todo o mundo em Orlando, na Flórida. Como jornalista especializada em viagens e turismo, participo desde 2004 da IPW. E esta foi a primeira vez que diversidade & inclusão tiveram tanto destaque nas apresentações dos vários destinos americanos à imprensa internacional.
No caso de Boston, o “este é meu sotaque” significa os mais diferentes jeitos de falar. Mas cidade não foi a única a valorizar as diferentes comunidades locais (inclusive a maior comunidade brasileira nos EUA). Vizinha de Boston na Costa Leste, Nova York promoveu roteiros inspirados nas comunidades negra, latina e asiática. Do outro lado do país, na Costa Oeste, West Hollywood, em Los Angeles, também promoveu a diversidade: “Gostamos de pessoas diferentes de nós e diferentes entre si”, disse Tom Kiely, presidente e CEO do escritório de turismo. West Hollywood foi o endereço de uma das primeiras paradas LGBTQ+ nos EUA, em 1970, e hoje 40% da população local se identifica como LGBTQ+.
Já Chicago trouxe para a IPW 22 um guia de visitantes em que destaca os hotéis aprovados pelo Travel Advocacy Group, pioneiro na defesa dos direitos LGBTQ+. O certificado TAG Approved reconhece em todo o mundo, desde 1998, acomodações com as melhores práticas para receber a comunidade LGBTQ+. Há opções de diversas categorias em diferentes áreas de Chicago, como o luxuoso Fairmont Millenium Park, do grupo Accor; o Marriott da Magnificent Mile ou mais econômico La Quinta by Wyndham, no Loop. Outro destaque do guia são serviços de empresas que pertencem a mulheres. Há vários com o selo “Women-owned business”, de hotéis a serviços de transporte, como o All About Charter.
Chicago chamou a atenção também para atrações que contam um pouco da história afro-americana. Entre elas estão o DuSable Black History Museum e o bairro de Bronzeville, a área de South Side onde nasceu e cresceu Michelle Obama. Centro da cultura afro-americana em Chicago na primeira metade do século 20, Bronzeville tem muitos restaurantes, murais coloridos e galerias de arte, como a Guichard.
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Veja o que já enviamosOs nativos americanos não estão de fora nesta nova fase de promoção do turismo americano. O estado de Utah está trabalhando diretamente com os indígenas, em programas nos quais eles contam e compartilham história, cultura, gastronomia. O objetivo desta e de outras ações é se posicionar como líder no “turismo inclusivo, responsável e sustentável”. Cerca de 60 mil indígenas, de mais de 50 diferentes tribos, vivem atualmente em Utah.
Capital americana, Washington DC teve como ponto alto da sua apresentação a nova praça da cidade, a Black Lives Matter Plaza, em Downtown, e a promoção do conceito de DEI District, sigla em inglês para diversidade, equidade e inclusão. DC destacou ainda o imperdível National Museum of African American History and Culture, no National Mall, inaugurado em 2016 pelo então presidente Barack Obama.
San Antonio, no Texas, se apresentou como a comunidade mais diversa dos Estados Unidos depois de DC. Mas o que realmente me chamou a atenção no destino, que sediará a IPW em 2023, foi um detalhe nada insignificante quando se fala sobre diversidade e inclusão. A cidade foi a única a ter tradução simultânea em libras durante a conferência. Ainda é longo o caminho.
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Leu essa? No meio do rio, moradores da turística Ilha do Combu, no Pará, buscam água potável