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Padre Júlio Lancellotti e a criminalização de quem vive na rua

CPI da Câmara Municipal de São Paulo mira religioso reconhecido por trabalhar junto a dependentes químicos e pessoas em situação de rua

ODS 1ODS 10 • Publicada em 5 de janeiro de 2024 - 09:23 • Atualizada em 7 de janeiro de 2024 - 15:51

Não faz muito tempo que escrevi aqui no #Colabora sobre a necessidade de saudarmos, ainda em vida, a trajetória de brasileiros que doavam-se ao país como missão. Na ocasião, tratava-se de homenagear Danilo Miranda, diretor do Sesc, em São Paulo, que acabara de falecer. Refaço, aqui, o mesmo caminho, agora olhando para frente: é preciso falar de Padre Júlio Lancellotti.

Arregimentando católicos e não católicos, apenas pelo caráter humanitário de suas ações, Lancellotti figura como um desses pares, capazes de pertencerem às listas dos mais célebres dos últimos tempos. Em São Paulo, um ser ativo há décadas, mas que só durante a pandemia da Covid-19, por abrir as portas das igrejas para ajudar quem mais necessitava, fez o país parar, olhar e adentrar ao espaço santo por suas mãos.

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Na figura do padre, mais que um orientador para a fé. Atento às principais questões do país, Júlio está na linha de frente das discussões que acontecem, com uma visão clarificada sobre o que verdadeiramente precisamos para mitigar as desigualdades. Em especial e sobretudo, para reparar o abismo que nos afasta de pessoas em situação de rua e dependentes químicos, de quem o Padre se tornou melhor amigo por ser, em muitas vezes, quem os acolhe.

Padre Júlio Lancellotti, alvo de CPI, dá depoimento em sua igreja: "‘‘Criminalizar trabalho com população de rua e dependência química é tentar tirar o foco da questão da Cracolândia'’ (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil - 03/03/2023)
Padre Júlio Lancellotti, alvo de CPI, dá depoimento em sua igreja: “‘‘Criminalizar trabalho com população de rua e dependência química é tentar tirar o foco da questão da Cracolândia’’ (Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil – 03/03/2023)

Quando a polícia paulista baixou aos cassetetes – como sempre – na Cracolândia, foi ele o primeiro a ir à imprensa e dizer aquilo que ninguém quer. “A Cracolândia existe porque é um negócio rentável. Infelizmente a gente tem que, sem atacar ninguém, sem generalizar, sem dizer que são todos, mas há muito acordo, a Cracolândia funciona em cima de acordos, em cima de lucro, em cima de ganho”, afirmou em entrevista a Leilane Neubarth, da GloboNews.

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Por atuar na urgência de quem precisa, o coordenador da Pastoral do Povo da Rua será investigado na CPI das ONGs, que tramitará na Câmara Municipal de São Paulo a partir de fevereiro, com o início do ano legislativo. A autoria do projeto é do vereador Rubinho Nunes (União Brasil).

Em resposta, a Arquidiocese de São Paulo afirmou ter visto “com perplexidade” a figura de padre Júlio Lancellotti ser alvo de uma CPI. “Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”, diz a nota do órgão da Igreja Católica.

Já o padre, mais uma vez, fez questão de pontuar o real motivo de ser citado. ‘‘Criminalizar trabalho com população de rua e dependência química é tentar tirar o foco da questão da Cracolândia’’.

Patriotismo é quando se diz a verdade para o poder. O padre é um dos maiores patriotas.

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