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Coluna | Qual o Brasil que você quer?

Talvez este seja esse o maior desafio que iremos enfrentar nos tempos vindouros. E é exatamente por isso que devemos pensar sobre isso hoje, agora

ODS 1ODS 2 • Publicada em 22 de setembro de 2022 - 09:25 • Atualizada em 22 de setembro de 2022 - 09:27

Talvez esta seja uma das perguntas mais presentes no cotidiano dos brasileiros e não é muito difícil perceber que as respostas não são fáceis. Exatamente porque estamos em um momento que exige a atenção e uma grande mobilização para pensarmos em escolher um caminho que leve o Brasil para frente, na busca de um estado verdadeiramente democrático e laico, que reconheça suas fragilidades mas que, acima de tudo, seja capaz de manter o compromisso de garantir direitos e promover o bem estar de sua população.

Com o que vimos após o período mais duro da pandemia do coronavírus e com toda a dificuldade que temos tido para (re)organizar estratégias capazes de fortalecer uma retomada que considere a má gestão pública e as lambanças do atual governo como corresponsáveis pelo agravamento da pobreza e dificuldade de acesso a direitos básicos para uma parcela significativa de nossa população (e que agora se manifesta sem filtro e sem limites), precisamos refletir sobre qual o modelo de país que queremos viver e deixar para as próximas gerações.

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Ao longo da história, enfrentamos diversos golpes, enfrentamos uma ditadura cívico-militar-heterocisnormativa, estivemos sob o julgo de uma monarquia e de outras formas de governo até a nossa “redemocratização”, e, após ela, pudemos observar governos de direita e de esquerda para fazer um balanço dos últimos 34 anos – após a criação de nossa Constituição federal. E não é tão difícil olhar para trás e perceber qual o regime que mais nos permitiu pensar, defender e lutar por um estado forte e a garantia de uma população que tenha comida no prato, saúde e educação públicas de qualidade, e um salário digno.

Seja pelas ações do governo ou ausência delas, uma política antidemocrática, autoritária, anti-ciência e conservadora trouxe de volta a recessão, a fome, a violência e amentou o abismo social em nosso país. Afetou diretamente grupos historicamente minorizados como as mulheres, pessoas empobrecidas, negras, idosos, PCD, pessoas vivendo com HIV, LGBTI+, indígenas e outros povos tradicionais, pessoas que não têm sua humanidade reconhecida, cujas existências tem sido vistas como indesejáveis a um estado que atua em prol da manutenção do status quo de uma classe privilegiada. E isso não se trata de identitarismo, mas de olhar para essas pessoas atentamente e perceber que o lugar social que elas ocupam é marcado diretamente pelas experiências vivenciadas por elas no dia a dia. E isso me faz lembrar que a democracia instituída até aqui no Brasil não alcança todas as pessoas igualmente.

Eleições: momento de pensar sobre o Brasil (Imagem: Reprodução)

Grande parte dos problemas que temos enfrentado – seja no sistema de saúde ou de assistência social, sejam questões políticas e econômicas – já vinham sendo denunciados e vivenciados pela maior parte dos brasileiros, e passavam por um processo de acirramento antes mesmo de ser declarada a pandemia da covid-19. É importante lembrar disso para que discursos falaciosos não tentem manipular a opinião pública a fim de imputar culpa à pandemia sobre o que já estava posto. O dólar já estava caro, o desemprego alto, a gasolina e os preços já estavam enfrentando aumento naquele período entre 2018 e inicio de 2020, devido aos resquícios do enfraquecimento democrático que ocorreu pós golpe 2016, deixando como consequência uma maior instabilidade no país e acirrando a polarização política, que, como consequência, trouxe uma desinteresse na política e mais ainda, deixou o brasileiro comum desesperançoso.

Nesse sentido, vimos escancaradas as mazelas e lutas que já vinham sendo travadas e que fazem parte da estrutura de manutenção das desigualdades no Brasil. Nenhuma dessas pautas ou as necessidades que vemos emergirem nesse cenário atual são recentes. Todas as lutas que vimos até agora são velhas conhecidas e só agora estão sendo expostas como as maiores feridas causadas à humanidade pelo capitalismo neoliberal e a política genocida do atual governo. E onde você estava diante disso tudo? Antes de chegarmos até aqui?

O que a reforma trabalhista trouxe de bom para o Brasil, senão o aumento do trabalho informal? O que a reforma tributária acrescentou, de fato, à economia? Quem são as pessoas que acessam as políticas de assistência social e que estão cadastradas no Cadastro Único, por exemplo? Quem são as pessoas que utilizam SUS normalmente? 80% delas são negras, de acordo com a última pesquisa. O desmonte do SUS, ganhou um gás com a PEC 55, que congelou os investimentos na saúde e em outras áreas por 20 anos — e que precisa urgentemente ser revogada. As políticas de assistência social e da educação agonizam com cortes de verbas, e o SUS precisa ser defendido, mesmo que opere com muitas limitações. Afinal, vemos uma potência gigantesca de seus trabalhadores e defensores para a garantia de um serviço público que dê conta das necessidades da população brasileira.

É urgente olhar para as pessoas em situação de rua ou em uso abusivo de álcool e drogas, para os asilos e casas de acolhimento/repouso, para 90% da população de travestis e transexuais que utilizam a prostituição como fonte primária de renda. Precisamos incluir a luta antirracista no nosso cotidiano e relações pessoais, assim como a luta contra o machismo e a LGBTfobia. Da mesma forma, é necessário defender os direitos das pessoas que se encontram no sistema prisional, onde a tortura é uma regra que permitimos; lutar pela manutenção das terras indígenas, dos trabalhadores do campo e movimento sem terra; estar junto dos movimentos estudantis e aqueles por moradia; discutir o impacto das queimadas e do desmatamento da Amazônia nas mudanças climáticas; fortalecer a luta antimanicomial. É nossa responsabilidade ouvir o que as pessoas estão precisando nesse momento, inclusive para entender que suas necessidades vêm de outros tempos e os processos complexos de negação de seus direitos.

Todas as estratégias anteriores têm falhado. O poderio militar bélico, a indústria de armamento, a reforma da previdência ou trabalhista, os planos de saúde caríssimos, o privilégio de acesso a saúde de qualidade e a tecnologia de ponta têm sido insuficientes para nos livrar do que temos visto. Está muito nítido nesse cenário o colapso do sistema capitalista e das próprias relações que nós temos com o mundo à nossa volta. E precisamos definir qual compromisso que assumiremos na defesa de nosso país, de nossas liberdades e desejos de justiça.

É fato que as eleições não resolverão todos os problemas existentes ou farão desaparecer o impacto de um governo tão anti povo como o que temos hoje. Talvez este seja esse o maior desafio que iremos enfrentar nos tempos vindouros. E é exatamente por isso que devemos pensar sobre isso hoje, agora. Afinal, pensando nas eleições que se aproximam, não é uma tarefa tão difícil assim escolher um projeto de Brasil que nos garanta um pouco de democracia, com direitos e sobretudo com a participação do povo nas decisões que afetam suas vidas, nas políticas públicas e para fortalecer as relações com o estado.

Mas diz aí, qual é o Brasil você quer?

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