Candidatos do agronegócio predatório

ONG Repórter Brasil lança ferramenta interativa para eleitor monitorar postura dos postulantes à reeleição inimigos do meio ambiente e dos povos do campo

Por Liana Melo | ODS 14 • Publicada em 14 de setembro de 2018 - 09:05 • Atualizada em 14 de setembro de 2018 - 22:12

Votacao da Tercerizacao na Camara. Foto de Mateus Bonomi/ Agif/ AFP
 Dos 373 deputados federais que estão disputando à reeleição, 66,5% deles votaram a favor de pautas que levaram ao retrocesso na área ambiental. Foto de Mateus Bonomi/ Agif/ AFP
Dos 373 deputados federais que estão disputando à reeleição, 66,5% deles votaram a favor de pautas que levaram ao retrocesso na área ambiental. Foto de Mateus Bonomi/ Agif/ AFP

Dois em cada três deputados federais candidatos à reeleição este ano têm atuação legislativa nociva ao meio ambiente, aos povos indígenas e aos trabalhadores rurais. O MDB foi o partido mais hostil aos avanços no campo, tendo liderado a aprovação do conjunto de retrocessos socioambientais da atual legislatura. Seu contraponto no plenário da Câmara foi o Psol, seguido do PT. O parlamentar que personificou o pior desempenho na casa foi o tucano e ruralista Nilson Leitão, do Mato Grosso, autor do projeto de lei que altera a regulamentação do trabalho rural e inclui a possibilidade de que trabalhadores sejam pagos com comida e moradia.

O diagnóstico é da ONG Repórter Brasil, responsável pelo Ruralômetro – banco de dados interativo que avalia o comportamento dos deputados federais eleitos em 2014 diante da agenda socioambiental. Com a proximidade das eleições, a ferramenta foi atualizada, passando a contar com o botão “candidato 2018”, onde é possível o eleitor acompanhar o desempenho do candidato e se informar se o parlamentar cometeu crimes ambientais ou infrações trabalhistas, se é réu ou condenado no Supremo Tribunal Federal (STF), e quais deles são proprietários rurais.

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Ou seja, 66,5% dos candidatos à reeleição votam e propõem pautas contrárias a agenda socioambiental

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Dos 513 deputados federais, apenas 492 deles foram incluídos na plataforma. Motivo: dois deles morreram durante o mandato (os deputados João Castelo/ PSDB e Rômulo Gouvêa/ PSD) e 19 outros foram excluídos porque não pontuaram, ou seja, participaram de menos de duas votações no plenário sobre os temas avaliados. É o caso, por exemplo, do deputado cassado Eduardo Cunha, condenado na Lava Jato. A pontuação dos parlamentares foi calculada segundo os seguintes critérios: como cada um votou na legislatura 2014/2018 e quais foram os projetos de lei propostos.

Dos deputados avaliados pelo Ruralômetro, 373 deles estão disputando à reeleição e, pasmem, 248 tiveram atuação deplorável do ponto de vista socioambiental. “Ou seja, 66,5% dos candidatos à reeleição votam e propõem pautas contrárias a agenda socioambiental”, comentou Ana Magalhães, coordenadora de Jornalismo da Repórter Brasil. Entre eles estão os deputados Marco Antônio Cabral (MDB-RJ), Jerônimo Goergen (PP-RS), André de Paula (PSD-PE), Valdir Colatto (MDB-SC), Vicentinho Júnior (PR-TO) e Pedro Paulo (DEM-RJ). Entre os ex-ministros que querem manter sua cadeira na Casa, estão Leonardo Picciani (MDB-RJ), Osmar Serraglio (PP-PR) e Ricardo Barros (PP-PR). É, sem dúvida, uma ferramenta inédita de pesquisa para a campanha eleitoral de 2018.

No Ruralômetro, cada deputado foi pontuado dentro de uma escala equivalente ao que seria a temperatura corporal: de 36⁰C a 42⁰C. Quanto pior o impacto dos projetos que o parlamentar votou ou propôs, mais alta é a sua temperatura. Também é possível descobrir quais deputados têm multa no Ibama e quem foram os parlamentares que violaram a lei trabalhista e deixaram de recolher o INSS. Os filtros revelam ainda quais receberam financiamento de empresas autuadas por infrações ambientais ou flagradas por trabalho escravo na campanha de 2014. Segundo o levantamento, 57% dos eleitos receberam, ao todo, R$ 58,9 milhões em doações de empresas autuadas pelo Ibama por cometerem infrações ambientais. Outros 10% foram financiados com R$ 3,5 milhões doados por empresas autuadas por trabalho escravo.

Nilson Leitão, por exemplo, foi diagnosticado com “febre ruralista”, tendo atingido a temperatura de 42⁰C, enquanto Augusto Carvalho (SD-DF) ficou com 36,2°C. Carvalho é autor do projeto de lei que proíbe a administração pública de comprar móveis de madeira rara ou extraída ilegalmente. O deputado faz parte de um grupo de 35 deputados federais que tiveram atuações parlamentares avaliadas como favoráveis à agenda socioambiental. Navegar no Ruralômetro é um oportunidade rara de conhecer de perto a atuação dos parlamentares brasileiros em pautas fundamentais da agenda socioambiental. Cada bolinha do gráfico corresponde a uma biografia. Triste constatar que o agronegócio predatório tem aliados por todos os lados.

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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