Plataforma on-line conecta profissionais 50+ e empresas

Público alvo do Maturisjob. Foto de Divulgação

Maturisjobs

Por Thais Lobo | Mapa das ONGsODS 10 • Publicada em 12 de agosto de 2019 - 09:36 • Atualizada em 12 de agosto de 2019 - 13:51

Público alvo do Maturisjob. Foto de Divulgação
Público alvo do Maturisjob. Foo de Divulgação
A Maturisjobs já ter um cadastro de 94 mil currículos e 800 empresas cadastradas no seu banco de emprego. Foto de Divulgação

O ano é 2060, Brasil. No metrô, banco ou supermercado uma nova realidade, imposta de forma mais silenciosa do que aplicações tecnológicas. Um a cada quatro brasileiros tem 65 anos ou mais, um país de 58,2 milhões de idosos em 41 anos. A projeção do IBGE do ano passado aponta para uma geração mais longeva do que as anteriores, mas que também estará diante do desafio de adiar a saída da população mais velha da força de trabalho. Um futuro que, mesmo com obstáculos, já é presente para muitos.

Criada em 2015, a Maturijobs viu na trajetória de envelhecimento do país uma oportunidade. A empresa de impacto social oferece uma plataforma on-line de recolocação e desenvolvimento profissional para pessoas com 50 anos ou mais, conectando profissionais experientes e empresas. A iniciativa pioneira surgiu pelas mãos do engenheiro de software, de 36 anos, Mórris Litvak, atento à realidade a sua volta.

— Minha avó trabalhou até os 82 anos. Ela era uma mulher ativa, mas após uma queda na rua teve que parar. Ela passou a ficar em casa e a saúde dela decaiu muito rápido. Comecei a refletir sobre essa história familiar e, em 2013, quando vendi uma empresa de tecnologia, resolvi trabalhar com isso. A economia não estava bem e comecei a conhecer muitas pessoas de 50, 60 anos que tinham na idade um fator a mais de dificuldade para se colocar no mercado — lembra Litvak.

Após uma queda de sua avó, Mórris Litvak, fundador da Maturisjobs, percebeu que havia potencial para contratação de pessoas de 50+ pelas empresas. Foto de Divulgação

Com 94 mil currículos e 800 empresas já cadastradas, a Maturijobs não apenas anuncia oportunidades de trabalho como também promove iniciativas de desenvolvimento pessoal, capacitação profissional, empreendedorismo e networking. Cursos, gratuitos e pagos, presenciais ou online, são oferecidos aos cadastrados em temas como empreendedorismo, tecnologia, mudança de carreira, redes sociais, entre outros.

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A diversidade geracional no mercado de trabalho não era um assunto debatido antes. As empresas nem nos atendiam para falar sobre isso. Hoje, muitas empresas já entendem o potencial nesse mercado e seus benefícios. Os chamados “maturis” são profissionais super abertos a aprender, discutir, escutar e ensinar

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— A diversidade geracional no mercado de trabalho não era um assunto debatido antes. As empresas nem nos atendiam para falar sobre isso. Hoje, muitas empresas já entendem o potencial nesse mercado e seus benefícios. Os chamados “maturis” são profissionais super abertos a aprender, discutir, escutar e ensinar. Além disso, trazem outras características complementares aos jovens com a experiência de vida — destaca. — A questão social também é estratégica. Com a população envelhecendo, será preciso desenvolver produtos e serviços. Quem olhar mais cedo para isso, se beneficiará.

Através da plataforma, a empresária paulistana Eliz Tadei conseguiu recrutar profissionais para a sua startup recém-lançada Trevoo, um site que agrega residenciais para idosos.

— Recebi um volume muito grande de candidatos e com currículos muito qualificados. Tive que optar por uma dinâmica de grupo em vez de entrevistas para conhecer todos. Mas os currículos continuaram chegando, e decidi estender o processo de seleção para fazer uma segunda dinâmica. Acabei contratando quatro pessoas, uma a mais do que estava inicialmente planejado — detalha Eliz.

Pesquisa do IBGE aponta que um a cada quatro brasileiros tem 65 anos ou mais, o que soma um país de 58,2 milhões de idosos em 41 anos. Foto de Divulgação

O perfil do profissional em questão exigia, justamente, uma habilidade que não se conquista facilmente: experiência. Como parte de seus serviços, a startup oferece uma consultoria personalizada para que as famílias possam decidir qual residencial é mais adequado ao seu orçamento e as suas necessidades.

— Por ainda haver um preconceito no Brasil na utilização de residenciais, optamos por atrelar à plataforma um serviço humanizado. Para isso, precisávamos de profissionais com bagagem de vida e credibilidade para falar com as famílias. Aquele tipo de soft skill que não se adquire em sala de aula — resume Eliz. — Estamos muito felizes com as contratações. São pessoas maduras, que entendem o momento da startup e o quanto precisamos de apoio para chegar ao mercado.

Foi o caso também da cirurgiã-dentista Ana Carolina do Valle, CEO da Vitus. O negócio funciona como um concierge para idosos, oferecendo serviços de gestão residencial e de saúde para atendimento em domicílio.

— Notei que havia uma grande quantidade de pessoas fora do mercado porque a sua área de atuação já está completamente superada. Há um preconceito com o profissional 50+. Mas na Vitus não estamos preocupados com a formação acadêmica ou o currículo perfeito, buscamos empatia, bom senso e capacidade de criar soluções para problemas do dia a dia — pondera Ana, que fez nove contratações através da Maturijobs.

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Notei que havia uma grande quantidade de pessoas fora do mercado porque a sua área de atuação já está completamente superada. Há um preconceito com o profissional 50+. Mas na Vitus não estamos preocupados com a formação acadêmica ou o currículo perfeito, buscamos empatia, bom senso e capacidade de criar soluções para problemas do dia a dia

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Segundo pesquisa on-line realizada pela Maturijobs com mil entrevistados, o emprego formal ainda é o principal objetivo da maioria dos profissionais 50+ que está sem ocupação. Porém, para 92% deles a falta de oportunidades profissionais é um dos motivos que os levaram a ser consultores autônomos ou freelancers. Além disso, 48% afirmaram já ter passado por alguma situação profissional em que houve discriminação por conta da idade.

Aos 55 anos, Sandra Naranjo se viu diante do desafio de voltar ao mercado de trabalho após oito anos empreendendo em um negócio próprio. Mesmo com a graduação em administração e um currículo com passagens por empresas de grande porte, Sandra inscreveu-se em mais de 50 vagas durante três meses sem sucesso até descobrir a plataforma de cadastro de currículos e participar dos encontros promovidos pela empresa.

— Foi um alento ver que eu não estava sozinha, que existe uma população muito grande com experiência de vida e profissional que está sendo desprezada pelo mercado de trabalho. O obstáculo já surge na descrição da vaga, que muitas vezes limita o perfil a profissionais de até 45 anos. O fato de poder encontrar empresas que comungam da ideia de que a mão de obra mais velha pode e deve ser absorvida veio como um bálsamo — conta.

A profissional passou pelo processo de seleção da Trevoo e hoje atua como assessora familiar na empresa:

— Me sinto no meu melhor momento profissional. Hoje não busco mais a carreira no sentido do tamanho da minha sala, onde vou parar meu carro ou qual o nome da corporação que está no @ do meu e-mail. Já atingi minhas metas. Busco hoje o prazer de continuar aprendendo e trocar com outras pessoas.

Thais Lobo

É jornalista freelancer. Trabalhou nas editorias de Política, Economia, Internacional e Rio do jornal O Globo durante oito anos. Recentemente, atuou em análises do debate sobre políticas públicas em redes sociais e do impacto de práticas de desinformação.

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