ONG Teto: cidadania além de quatro paredes

ONG TETO

Por Thais Lobo | Mapa das ONGsODS 1 • Publicada em 15 de julho de 2019 - 08:00 • Atualizada em 15 de julho de 2019 - 15:01

ONG TETO. Foto de divulgação
ONG TETO. Foto de divulgação
As moradias construídas pelos voluntários da ONG TETO têm 18m² e são construídas a um custo médio de R$ 7 mil. Foto de divulgação

Mocambo, grotão, comunidade ou favela. Sinônimos para uma realidade brasileira que não se restringe mais aos grandes centros urbanos. As estatísticas oficiais indicam que, já em 2010, cerca de 11,4 milhões de pessoas viviam em áreas caracterizadas pela carência de serviços públicos essenciais e irregularidade nas construções e vias de circulação. Um número que equivale à população da Bélgica e se tornou o campo de ação da ONG TETO.

— Habitação é o mínimo digno humano. É o que uma pessoa necessita para viver e se desenvolver — resume Nina Scheliga, de 29 anos, diretora-executiva na iniciativa no Brasil.

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Habitação é o mínimo digno humano. É o que uma pessoa necessita para viver e se desenvolver

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Presente em 19 países da América Latina, a instituição nasceu no Chile em 1997 com objetivo de atuar em comunidades com perfil de vulnerabilidade social extrema e déficit habitacional, mobilizando jovens voluntários e lideranças comunitárias. Chegou ao Brasil dez anos depois e hoje está presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Minas Gerais e Recife, com cerca de 100 localidades beneficiadas. Segundo o IBGE, há 6.329 favelas em todo o país,localizadas em 323 municípios.

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— Temos o desafio da dimensão continental do Brasil. Se no Chile o TETO já mapeou todas as comunidades, aqui não conseguimos afirmar isso. Para atingir todas as pessoas que vivem em situação precária de moradia, teremos que ser uma organização muito grande — pondera Nina, que planeja em três anos expandir a atuação para ao menos mais dois estados e ampliar o trabalho nas bases já existentes. — Estamos hoje nas regiões metropolitanas das grandes cidades, mas já percebemos demandas em outros locais dos próprios estados.

Voluntários da ONG TETO erguem, durante um fim de semana, até 50 moradias-padrão. Foto de Divulgação

O trabalho nas comunidades é feito de forma massiva. Durante três meses, grupos de voluntários realizam o mapeamento da área, do perfil populacional e das habitações com maior grau de precariedade. O diagnóstico identifica, assim, as famílias em situação de emergência e o número de casas a serem construídas. Então, durante um fim de semana, são erguidas até 50 moradias-padrão, elevadas do solo, feitas em madeira e com 18m² a um custo médio de R$ 7 mil cada.

— Quando se fala em favela, muitos associam imediatamente à Rocinha, no Rio, ou a Heliópolis, em São Paulo. Esses são locais não urbanizados, porém com uma estrutura visível. A nossa atuação foca nas comunidades de vulnerabilidade social muito clara. São locais com habitações de barro, materiais improvisados, perto de córregos ou áreas de lixo — ressalta Nina.

Desde 2013 no TETO, o analista de projetos e voluntário Hélio de Souza, de 28 anos, se surpreendeu com a realidade a menos de 2 quilômetros da casa onde cresceu na Cidade Tiradentes, distrito da Zona Leste de São Paulo.

— Fui participar da pintura de casas, que ocorre normalmente no final de semana seguinte ao da construção. Mesmo tendo crescido na periferia, vi o quão privilegiado sou por ter tido todas as minhas necessidades básicas atendidas, enquanto há muitas famílias que não as têm — lembra. — Agora, o meu maior aprendizado nesse tempo foi entender que os verdadeiros agentes transformadores são as lideranças comunitárias, os moradores, que topam fazer parte dessa jornada utópica que é um dia não ser necessário lutar para que todos tenham seus direitos básicos atendidos.

De acordo com a demanda de cada localidade, também podem ser construídas infraestruturas adicionais, como espaços de lazer, e realizadas melhorias em vias e acessos, ou mesmo mutirões de coleta de lixo. É o caso do complexo de comunidades do Caximba, em Curitiba, Paraná, que desde 2014 faz parcerias com o TETO.

A instituição estimula os moradores a apresentarem projetos e concorrem a um co-financimento, que é bancado pelo programa FunTETO. Foto de Divulgação

Segundo dados da organização de 2016, 93% das moradias do Caximba usavam tubulações clandestinas para captação da água, 53% destinavam o esgoto doméstico a céu aberto. Além de casas emergenciais, foram erguidas, ao longo dos anos, uma biblioteca, duas sedes comunitárias e uma cisterna coletiva, além da instalação de painéis solares e da doação de equipamentos para aulas de capoeira.

Parte destas ações foi realizada através do programa FunTETO, que estimula moradores a apresentarem projetos e concorrem a um co-financiamento. Havendo aprovação, o TETO disponibiliza 60% do valor, ficando a cargo da comunidade arrecadar 10% e negociar com terceiros os 30% restantes.

— Estamos numa comunidade em que é muito difícil acesso a água, luz… Por isso, precisamos encontrar soluções. Já conseguimos três FunTETO. Fazemos assembleias para definir as ações e, para arrecadar a verba, organizamos bazar, rifa ou almoço beneficente — enumera a líder comunitária Luzia Andrade Cruz, de 47 anos, conhecida como Gaivota. — Percebemos que tínhamos os mesmos objetivos do TETO: formar cidadãos, deixar as pessoas preparadas para enfrentar as dificuldades e curtir as alegrias.

Thais Lobo

É jornalista freelancer. Trabalhou nas editorias de Política, Economia, Internacional e Rio do jornal O Globo durante oito anos. Recentemente, atuou em análises do debate sobre políticas públicas em redes sociais e do impacto de práticas de desinformação.

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