Transformação social não se faz só por meio de ações, mas do entendimento da realidade local. Foi exatamente da vontade de compreender melhor a realidade brasileira que há quase 30 anos, o Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial foi fundado pelo jornalista norte-americano Norman Gall, em São Paulo. Junto de economistas, empresários, lideranças públicas e jornalistas, o think tank busca formas de superar os problemas institucionais que inibem o desenvolvimento humano no Brasil e na América Latina.
Para atingir este objetivo, desde 1987, já organizou mais de 230 seminários e conferências, financiou diversos pesquisadores e publicou 50 edições de seu informativo Braudel Papers. Os temas tratados vão de segurança pública, reformas educacionais, fenômenos climáticos a grupos terroristas; todos elementos que ajudam a compreender a complexa sociedade contemporânea.
Em 2011 surgiu também a oportunidade de ampliar contextualização destas informações. O blog “Brasil, Economia e Governo” traz textos que pretendem explicar as escolhas feitas pelo setor público quando se trata da gestão econômica. Os autores são assessores parlamentares concursados e especialistas responsáveis pelos pareceres técnicos que respaldam o trabalho legislativo. Com o conhecimento adquirido nas pesquisas e experiência profissional, ajudam outros eleitores a compreender melhor os meandros da política brasileira.
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Veja o que já enviamosO instituto tem duas vocações de pensar o Brasil, tendo contato com a sociedade e as soluções possíveis, surgem ideias de como trabalhar para melhorá-lo. Nosso debate seria pobre se não tivesse estes dois eixos
[/g1_quote]Mais do que compreender e explicar a realidade do Brasil, o instituto articula ações para transformá-la. O diretor-adjunto da entidade, Lourival Sant’Anna, relembra o início do programa Academia de Ciência, que dá suporte a professores de ciências da rede pública de ensino para a manutenção de laboratórios e execução de atividades experimentais. Atualmente atingindo 5.247 jovens de escolas de São Bernardo do Campo e Guaratinguetá, o projeto surgiu de um seminário para discutir os rumos do ensino público de Ciências, realizado em 2005. Após notar a demanda de iniciativas na área durante o encontro, um ano depois o programa estava com um piloto em três escolas na grande São Paulo.
A fórmula de atividades no contraturno formando grupos de jovens estudantes e possibilitando seu desenvolvimento já era utilizada pelo instituto há alguns anos. Em 2000 surgiu o programa Círculos de Leitura, desenvolvido após pesquisas de campo nas escolas públicas da periferia de grande São Paulo um ano antes, quando se constatou que a prática da leitura era inexistente, faltava reflexão e não se promovia debate na sala de aula.
A metodologia é relativamente simples. Educadores pagos e voluntários se dividem para trabalhar com grupos de 10 a 15 jovens. Cada aluno recebe seu próprio livro e os alunos se alternam lendo em voz alta durante os encontros, fazendo pausas para discutir sobre o significado dos trechos lidos. Os títulos escolhidos são grandes clássicos da literatura como “A Odisseia”, de Homero, “A Trilogia Tebana”, de Sófocles, “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare.
O projeto atua em cinco escolas do distrito paulistano de São Miguel Paulista e em outras 52 do estado do Ceará. No total, são mais de 7 mil alunos atingidos pelas atividades. “Permitir que um jovem acredite que pode almejar muito mais é um fator transformador que não tem como mensurar seu real impacto“, afirma a adiministradora, Margarida Guimarães. Dentre os resultados práticos dos programas está a presença de dois ex-membros dos Círculos de Leitura do Ceará dentre os estagiários do instituto. Ambos se mudaram para São Paulo e cursam ensino superior em faculdades tradicionais com bolsa integral.
Parcerias
Para viabilizar todos os projetos o instituto conta com parcerias. A Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) sede espaço para o escritório, onde é realizada grande parte dos seminários e há salas para abrigar pesquisadores financiados pela organização. Para suas atividades usuais, o Braudel conta com o apoio institucional de doadores como Grupo Ultra, Safra, Estadão, Bradesco, Itaú, Armínio Fraga, Jayme Garfinkel e Miguel Lafer. O orçamento foi de R$ 1,1 milhão em 2014. O balanço deste ano ainda não foi fechado. A entidade não publica prestação de contas no site. Divulga informações financeiras apenas para seus membros e parceiros.
Já os projetos educativos dependem do financiamento de empresas. A empresa química alemã BASF financia a Academia de Ciências, daí a escolha das cidades. A empresa tem fábricas em São Bernardo do Campo e Guaratinguetá. Já os Círculos de Leitura são financiados pelo Instituto Votorantim, via Programa de Ação Cultural (Proac), Unilever, Fundação Itaú Social e Secretaria de Educação do Estado do Ceará. A parceria com o setor público garantiu a capilaridade do projeto no estado nordestino.
Para o futuro, a organização espera conseguir fazer com que os programas educacionais se tornem política pública para atingir ainda mais alunos. Em 2016, um programa de avaliação de impacto liderado pelo Insper ajudará a mostrar os resultados dos programas na vida dos estudantes. A vontade de expandir para atingir ainda mais jovens e de mais localidades é forte, resta encontrar investidores para a ampliação.
Ampliar a atuação internacional também está no radar. Em 2016, serão duas conferências internacionais: uma em março sobre democracia em parceria com o Instituto Fernando Henrique Cardoso e outra sobre a escassez de água em São Paulo, Lima e Cidade do México. Além disso, há a intenção de traduzir para o inglês os textos do blog “Brasil, Economia e Governo”.