Os smartphones e os pequenos agricultores na África

Revolução digital atinge vários países do continente e multiplica os resultados da agricultura

Por José Eduardo Mendonça | Economia Verde • Publicada em 14 de maio de 2018 - 09:22 • Atualizada em 16 de maio de 2018 - 13:49

Produtores de tomate na Etiópia . Falta de infraestrutura e treinamento impediam o crescimento da produção. Foto Banco Mundial
Produtores de tomate na Etiópia . Falta de infraestrutura e treinamento impediam o crescimento da produção. Foto Banco Mundial

Preços mais baixos de smartphones estão levando a uma revolução digital na África, permitindo que usuários usem a internet e aplicativos em um nível sem precedentes. Um dos setores mais beneficiados por esta transformação é a agricultura. Até 2025, metade da população da África, de um bilhão de pessoas, terá acesso à internet, e haverá 360 milhões de smartphones no continente, de acordo com a empresa de consultoria McKinsey. Isto poderá levar o setor de agricultura a uma receita de US$ 3 bilhões por ano.

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Os aplicativos para a agricultura já são muitos, incluindo diagnoses veterinárias, técnicas de plantio e mercados virtuais. O momento é apropriado. A produção mundial de alimentos terá de aumentar 70 por cento até 2050 para atender a demanda, e a África tem mais da metade das terras não utilizadas globalmente, segundo as Nações Unidas

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O crescimento no uso de dados ocorre apesar de problemas como os custos de acesso e a falta de cultura digital em alguns lugares da África. Quênia, Egito, Nigéria e África do Sul são os países mais adiantados, e outros, como Argélia, Camarões e República Democrática do Congo já começam a entrar na nova era com tecnologia 3G. No geral, os serviços móveis geram atualmente 6.7 por cento do PIB continental, em um total de cerca de U$ 150 bilhões em valor econômico.

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Os aplicativos para a agricultura já são muitos, incluindo diagnoses veterinárias, técnicas de plantio e mercados virtuais. O momento é apropriado. A produção mundial de alimentos terá de aumentar 70 por cento até 2050 para atender a demanda, e a África tem mais da metade das terras não utilizadas globalmente, segundo as Nações Unidas.

Produtor de abacaxi no Benin. O país já é um dos maiores exportadores da fruto no continente. Foto Yanick Folly/AFP

Até bem pouco tempo, os pequenos agricultores africanos não conseguiam se aproveitar da situação por falta de infraestrutura, treinamento, capital e avanços tecnológicos. Sua produção girava em torno de uma tonelada métrica por hectare, comparada a sete toneladas em mercados desenvolvidos.

“A África é a chave para a oferta mundial de alimentos, e é essencial usarmos este potencial”, diz Mark Davies, diretor da Esopo. Sua empresa dá aconselhamento e liga agricultores a compradores no mercado virtual. Seus usuários pagam um dólar por mês pelo serviço e faturam com ele até US$ 20 mil anualmente.

Outros aplicativos lançados recentemente na África incluem monitoramento de gado no Quênia (iCow) e mercado online M-Farm, que tem participação da Samsung e ajuda agricultores quenianos a acessar o mercado para precificar seus produtos. Agrega pedidos de implementos agrícolas para diminuir custos e vende os produtos no atacado, reduzindo custos de marketing relacionados. E os usuários podem ainda utilizar serviços financeiros.

Em Botswana, a start-up Modisar monitora gado e dá aconselhamento sobre alimentos, vacinas e finanças via mensagem de texto. A Mewanko Farm, em Camarões, criou um mercado online para agricultores para a venda de produtos em um esquema que, espera, irá melhorar a renda de 13 milhões de pessoas. A Safaricom, do Quênia, que em 2011 fez uma parceria com a chinesa Huawei para a fabricação de um smartphone Android de US$100, oferece novos serviços como aplicativos que ajudam no enfrentamento de desafios sociais de pequenas comunidades.

O app WeFarm auxilia a resolver problemas de tecnologia partilhando informações. O serviço informa sobre sementes mais resistentes a secas. O EZFarm é um projeto da IBM sendo testado no Nairobi e no Quênia, e envolve a implantação de sensores que coletam e transmitem dados para a nuvem da empresa e atualiza as informações a cada minuto. O Agtag é uma revista eletrônica que fornece artigos, notícias de todo o mundo, com tópicos que vão de safras, equipamentos, gado, água, ao agroprocessamento. As informações podem ser partilhadas com outras plataformas.

No médio prazo, todos estes recursos irão minimizar alguns dos fatores que impedem o desenvolvimento da agricultura na África – como baixo uso de insumos modernos, desorganização de mercados, acesso a crédito, baixa produtividade, secas e sazonalidade das safras.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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Um comentário em “Os smartphones e os pequenos agricultores na África

  1. Nikolai tesla disse:

    Apesar de a revolução verde ter impactado muito a agricultura e pecuária mundial, com a elitização dos maquinários e insumos, é legal ver que tecnologias mais acessíveis a pessoas com situações econômicas ruins, como os smartphones, têm sido de grande auxílio a produtores rurais que antes viam-se amalgamados a uma situação de exclusão tecnológica.

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