Ao fazer uma busca na internet pelo termo Santa Fé do Sul, surgem algumas particularidades sobre o município, com pouco mais de 30 mil habitantes, situado na região Noroeste de São Paulo. Considerado uma estância turística, recebe visitantes de todo o Brasil à procura da prática de esportes náuticos e da pesca esportiva. Mas é um outro potencial local menos conhecido o responsável por uma transformação econômica na cidade e também em sua vizinhança: as fazendas de peixes, onde são produzidas toneladas de filé de tilápias consumidas em todo o país e que, futuramente, ganharão o mercado internacional.
O que tem acontecido no Noroeste de São Paulo é apenas uma amostra do que se passa em outras áreas do país. Hoje, o Brasil está 15ª posição na criação de peixes em cativeiro no mundo, com a perspectiva de fechar 2017 produzindo entre 7 e 10% a mais do que no ano anterior. A atividade movimenta cerca de R$ 4,3 bilhões/ano e gera 1 milhão de empregos diretos e indiretos. Paraná, Rondônia e São Paulo são os maiores fornecedores. E não há crise que afete a evolução do setor.
A força da tilápia
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Veja o que já enviamosA produção de tilápias representa a metade de todos os tipos de peixes produzidos em cativeiro no país. A reprodução de peixes nativos, como pirarucu e tambaquis, também vem ganhando força, principalmente no estado de Roraima. Os bons ventos representam mais trabalho e estruturação devido às exigências do mercado nacional e internacional, que levaram à modernização da atividade e à busca de mais excelência e otimização na cadeia produtiva. A produção interna, no entanto, ainda não supre a demanda nacional, que cada vez mais consome proteína de peixe. A presença no mercado internacional ainda é tímida, já que, no momento, é mais rentável a venda no Brasil. As exportações representam pouco mais de um por cento da produção total, mas são vitais para abrir novas frentes comerciais.
A boa notícia é que ainda há muito espaço para expansão aqui e lá fora. No Noroeste de São Paulo, por exemplo, a piscicultura já é o terceiro maior empregador, atrás apenas dos setores públicos e de serviços. A região já produz 30 mil toneladas ao ano e pode chegar a 122 mil.
Modernização da produção
Tecnologia é palavra-chave nessa evolução. No estado de São Paulo, a criação de tilápias nos sistemas de tanques-rede é um bom exemplo desse avanço. O #Colabora visitou a Ambar-Amaral, uma das empresas que se modernizaram e passaram a concentrar todas as etapas de produção em suas instalações. As principais vantagens? Pescado de melhor qualidade, maior produtividade e rentabilidade, além de maior controle da segurança alimentar.
Criação de alevinos (peixes recém saídos do ovo), fabricação da ração, engorda dos peixes nos tanques, abate nos frigoríficos e distribuição. Todas essas etapas são concentradas nas sedes da empresa em Santa Fé do Sul e Rubinéia, de onde saem 18 toneladas de filés de tilápias diariamente e de 2,1 mil a 2,2 mil toneladas/ano. E a expectativa é de crescimento em 2018, como vem acontecendo nos últimos anos. Esse sistema verticalizado é essencial para o aumento e a qualificação da produção, explica José Augusto Aquino, gerente administrativo de controle de piscicultura do grupo Ambar-Amaral.
“Hoje é muito importante esse sistema, porque ele facilita o manejo. Nós conseguimos acelerar a produção, o que reduziu os custos e melhorou a qualidade. Temos condições de controlar todo o processo e garantir rapidez e eficiência. Deixamos para trás a operação praticamente manual e nos modernizamos”, explicou Aquino.
Um dos resultados dessa mudança foi a conquista, em outubro, da certificação internacional para a exportação de filé de tilápias – obtido só por outras duas empresas e que é de fundamental importância para viabilizar a exportação para mercados mais exigentes, como os países da União Européia, por exemplo. A expectativa do grupo é buscar espaço no mercado externo a partir de 2018.
Menor impacto ambiental
A concentração de todas as etapas de produção também tem reduzido o impacto da atividade no meio ambiente: o controle do uso – quantidade e qualidade – das rações evita o vazamento dos tanques e a interferência na dieta dos animais nativos; a retirada de peixes mortos dos tanques-rede e a compostagem deles em áreas controladas também reduzem o risco de contaminação.
“Com a produção de ração, por exemplo, conseguimos melhorar a qualidade dos insumos, evitamos o desperdício, já que cada tanque recebe o necessário, dentro das análises feitas individualmente. Isso evita impacto no meio ambiente e aumenta a economia no final do processo. A produção de alevinos também tem ajudado no desenvolvimento de peixes de melhor qualidade, com maior aproveitamento”, enumera Aquino.
Um dos pontos favoráveis ao sistema de produção de peixes em tanques é o monitoramento constante da qualidade água, o que garante a importância de se manter o meio ambiente saudável, preservando todo o ecossistema, evitando poluição e acúmulo de rejeitos. Sem água limpa não há produção, destaca Eric Routledge, chefe-adjunto do setor de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Pesca e Aquicultura.
“A aquicultura, em especial a piscicultura, é uma das atividades produtivas que tem como premissa preservar o meio ambiente, pois, se a qualidade ambiental se deteriorar, um peixe não terá as condições de crescer e virar um produto a ser comercializado e consumido.”
O alto valor nutritivo da proteína de peixe, agregado ao baixo custo de produção e ao manejo sustentável do meio ambiente, transformam a piscicultura em uma das atividades agrícolas mais atraentes, tanto para o produtor como para o desenvolvimento de toda a sociedade.
Mais emprego e renda
Hoje, no Noroeste de São Paulo, três mil pessoas trabalham diretamente no setor. A expectativa é que o sistema aquífero de Ilha Solteira, no Rio Paraná, possa gerar até 18 mil empregos diretos, com a liberação de novas licenças de exploração, em andamento. Além de Santa Fé do Sul, a aquicultura se espalha por municípios vizinhos como Rubinéia (mais especificamente no distrito de Esmeralda), Três Fronteira, Aparecida do Taboado, Suzanápolis e Ilha Solteira, todos estão em um raio de 50 km, e são limítrofes com o reservatório hidrelétrico de Ilha Solteira.
Emerson Esteves, proprietário da aquicultura Peixe Vivo, em Esmeralda, no município de Rubinéia, ao lado de Santa Fé do Sul, conta que está dobrando a produção de alevinos, atualmente em 40 milhões/ano. Este número, porém, ainda não atende à crescente demanda.
“A piscicultura é um divisor de águas em Rubinéia. Antes dela havia muitos jovens sem emprego e, hoje, boa parte está trabalhando em alguma atividade da cadeia produtiva. Aqui no distrito de Esmeralda, por exemplo, são cerca de 600 habitantes. O principal empregador era a prefeitura, com 40 pessoas. Hoje, o peixe já gera 80 empregos e com a expansão vamos ter que buscar mão-de-obra fora do distrito”, explicou Esteves.
Para Marilsa Fernandes, secretária de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Aquicultura de Santa Fé do Sul, o ano de 2018 será ainda melhor do que 2017: “A piscicultura vem crescendo na região e há um potencial de expansão muito grande. Hoje, é utilizada apenas um quinto da capacidade do reservatório de Ilha Solteira. Isso mostra bem o potencial de produção de tilápias e o que representa para nós. Os produtores estão bem organizados, com uma associação forte e representativa, o que está pressionando as autoridades a agilizar os processos de autorização e, consequentemente, impulsionar a produção.”
O futuro da aquicultura
Routledge acredita que a aquicultura representa um ótimo caminho para a produção brasileira. “O Brasil possui um grande potencial na área de aquicultura, mas hoje não produz sequer o suficiente para atender a demanda interna. Temos um potencial incrível e não deveríamos precisar importar peixes. Temos empresas qualificadas, com documentação em dia, com investimentos, apenas esperando as autorizações para começar a produzir”, afirma Routledge, destacando que a produção de tilápias é a que tem maior potencial de crescimento imediato, só dependendo da liberação das autorizações de exploração.
Já no caso dos peixes nativos, como o tambaqui, tambacu e pirarucu, que dominam a produção em Rondônia, o pesquisador afirma que ainda existe a necessidade de aperfeiçoamento genético para facilitar a comercialização. “São necessárias melhorias genéticas para diminuição de espinhos, chegar ao peso ideal dos peixes e facilitar sua reprodução”, enumera.
Burocracia no caminho
Não é por acaso que tanto a secretária de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Aquicultura de Santa Fé do Sul como o pesquisador da Embrapa toquem no ponto da liberação de autorizações de operação para que a evolução do setor seja ainda maior. Segundo Francisco Medeiros, secretário-executivo da PeixeBr (a associação brasileira de piscicultura), há projetos com potencial de produção de 3 milhões de toneladas de peixes ao ano em processo de aprovação na Secretaria de Aquicultura e Pesca, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (antiga Seap, que pertencia ao extinto Ministério da Pesca e Aquicultura). “A liberação desses pedidos, alguns tramitando há anos, mudaria o panorama do setor em todo o Brasil”, destaca Medeiros.
Todos os projetos localizados em águas do governo federal precisam da aprovação inicial da União para, aí sim, seguirem os processos de licenciamento ambiental de cada estado.
“Linhas de crédito existem e estão disponíveis. Falta apenas a regularização dos projetos que estão à espera da outorga da Secretaria de Aquicultura e Pesca. As razões da demora são diversas: faltam funcionários, falta estrutura, já alegaram até a falta de computadores para realizar os trâmites burocráticos. Nos últimos dois anos, tivemos uma linha de financiamento de R$ 500 milhões do BNDES e apenas conseguimos utilizar R$ 60 milhões. Em caso de projetos em águas estaduais onde a legislação é mais ágil, como no Paraná, São Paulo e Roraima, o setor está em uma escalada de crescimento acelerada. Temos tudo para mudar esse panorama e transformar o Brasil em um dos maiores produtores de peixe em cativeiro do mundo”, finaliza Medeiros.
Em nota, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços informou que há cerca de 2,8 mil demandas protocoladas em diferentes estágios de regularização. Esse trabalho é centralizado pelo ministério, mas há outras instituições envolvidas no processo de avaliação.
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