Caos climático: recordes de calor em junho assustam Europa

Espanha e Portugal registraram temperaturas acima de 46 graus; alertas de calor extremo se espalham pelo continente

Por Oscar Valporto | ODS 13
Publicada em 1 de julho de 2025 - 09:02  -  Atualizada em 1 de julho de 2025 - 09:40
Tempo de leitura: 6 min

Termômetro sob o sol marca 48 graus em Sevilha, Espanha: calor bate recorde para junho em países da Europa (Foto: RTE News / Reprodução)

Espanha e Portugal tiveram os dias de junho mais quentes já registrados no último fim de semana. Os recordes de calor foram estabelecidos em El Granado, na região espanhola da Andaluzia, com uma temperatura de 46°C no sábado, enquanto 46,6°C foram registrados na cidade de Mora, no centro de Portugal, no domingo. Julho chega com a onda de calor extremo se espalhando pelo continente com aumento de casos de emergência de saúde relacionados às altas temperaturas e de incêndios florestais.

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Na França, número recorde de alertas de calor está em vigor em toda a França: 84 das 96 regiões continentais francesas – conhecidas como departamentos – estão atualmente sob alerta laranja – o segundo mais alto do país. A ministra do Clima, Agnès Pannier-Runacher, classificou a situação como “sem precedentes”. Alertas de calor também estão em vigor para partes de Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Reino Unido e também de países dos Balcãs, como Croácia e Grécia.

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“O calor extremo não é mais um evento raro – tornou-se o novo normal”, tuitou o secretário-geral da ONU, António Guterres, de Sevilha, Espanha, onde as temperaturas chegaram a atingir 42°C na tarde desta segunda-feira (30/06). Estou vivenciando isso em primeira mão na Espanha, durante a Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento. O planeta está ficando mais quente e mais perigoso — nenhum país está imune. Precisamos de uma #AçãoClimática mais ambiciosa agora”, acrescentou Guterres na rede social.

Na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o alto-comissário Volker Turk fez questão de ressaltar que a onde calor enfrentada na Europa destacava a necessidade urgente de adaptação climática e o afastamento dos combustíveis fósseis, que contribuem para as mudanças no clima do planeta. “O aumento das temperaturas, a elevação do nível do mar, inundações, secas e incêndios florestais ameaçam nossos direitos à vida, à saúde, a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável, e muito mais”, disse Turk, lembrando que, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as ondas de calor estão se tornando mais frequentes e se tornarão ainda mais intensas à medida que o planeta continua a aquecer com as mudanças climáticas provocadas pelo homem.

Estudo publicado ano passado na revista Nature Health apontou que mais de 47 mil pessoas morreram na Europa em 2023 – os países do sul do continente foram os mais atingidos, de acordo com um relatório do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal). Os pesquisadores usaram registos de mortes e temperaturas de 35 países europeus e estimaram que 47.690 morreram por causas relacionadas às altas temperaturas; Espanha, Itália, Grécia e Bulgária foram os países com mais vítimas, percentualmente.

Em Portugal, dois terços do país já estavam em alerta máximo no domingo (29/06) para calor extremo e incêndios florestais. Nesta segunda, as autoridades emitiram um alerta vermelho de calor para sete dos 18 distritos, com a previsão de temperaturas atingirem até 43°C, um dia após registrar uma temperatura recorde de 46,6°C em junho – Lisboa marcou 42°C. Quase todas as áreas do interior estavam sob alto risco de incêndios florestais.

Na Espanha, toda a metade sul do país registrou temperaturas acima da média para junho, gerando alertas de saúde e recomendações de segurança. A Aemet (Agencia Estatal de Meteorologia) informou que junho de 2025 deve quebrar mais recordes, tornando-se o junho mais quente desde o início dos registros.

Na Itália, 21 cidades italianas também estão em alerta máximo para o calor – incluindo destinos turísticos como Roma, Milão e Veneza, assim como toda a ilha da Sardenha. Mario Guarino, vice-presidente da Sociedade Italiana de Medicina de Emergência, disse à agência de notícias AFP que os departamentos de emergência de hospitais em todo o país relataram um aumento de 10% nos casos de insolação.

Na França, quase 200 escolas foram fechadas ou parcialmente fechadas devido à onda de calor, que atinge o país desde a semana passada, mas deve atingir o pico no meio da semana. A França também registrou a eclosão de incêndios florestais no sul da cordilheira de Corbières no domingo, que provocaram a evacuação de duas vilas e ao fechamento de uma rodovia. Na Inglaterra, o tradicional torneio de Wimbledon de tênis começou domingo com calor de 32,3°C, temperatura recorde para o primeiro dia da competição.

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Na Alemanha, o Serviço Meteorológico alertou que a onda de calor deve chegar ao país durante a semana com temperaturas acima de 38°C nesta terça (01/07) e quarta-feira (02/07) – com potencialmente recordes em algumas regiões. A onda de calor já provocou a redução do nível da água no Rio Reno – uma importante rota de navegação da Alemanha -, limitando a quantidade de carga transportada por navios e elevando os custos de transporte.

Também houve recordes de temperaturas e incêndios florestais na Croácia, onde ainda há alertas de calor severo em vigor para áreas costeiras, e outros países dos Balcãs. Na quarta-feira (25/06), a Sérvia registrou seu dia mais quente para junho desde o início dos registros, com a temperatura passando dos 40°C enquanto um recorde de 38,8°C foi registrado em Sarajevo, capital da Bósnia e Herzegovina, na quinta (26/06) Na Eslovênia, a temperatura mais alta de todos os tempos em junho foi registrada no sábado. A temperatura em Skopje, capital da Macedônia do Norte, atingiu 42°C na sexta-feira.

Na Grécia, as temperaturas estão perto dos 40°C desde a semana passada e cidades costeiras próximas à capital, Atenas, foram atingidas por incêndios florestais, com casas destruídas e moradores evacuados. Na Turquia, os bombeiros trabalham há quase uma semana para apagar centenas de incêndios florestais.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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