Estudo do Instituto Escolhas, divulgado nesta sexta (21/05) mostra que os brasileiros poderiam economizar R$ 101 bilhões até 2030 em suas contas de luz, se já possuíssem geladeiras que consomem menos energia, seguindo os critérios de eficiência energética estabelecidos pela referência internacional da United for Efficiency (U4E), iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. “A falta de atualização da etiqueta energética é um prejuízo para o consumidor, que economizaria R$ 360 por ano na conta de luz. Mas também tem um impacto para o meio ambiente e para o país”, afirmou o economista Carlos Manso, coordenador-técnico do estudo, durante o webinar de lançamento.
Coordenadora da Iniciativa de Eficiência Energética do ICS (Instituto Clima e Sociedade), que apoiou a realização do estudo, Kamyla Borges também destacou a importância do debate sobre energia. “Não é uma questão apenas de quem produz geladeiras e de quem consome e, sim, de toda a sociedade brasileira. Estamos, hoje, diante de uma situação crítica no fornecimento de energia. O Brasil só não está racionamento porque vive essa crise econômica provocada pela pandemia”, afirmou Kamyla Borges, que também coordena a Rede Kigali que promove ações ligadas à melhoria da eficiência energética: os aparelhos de ar-condicionado eram o foco inicial mas geladeiras também estão no seu radar.
[g1_quote author_name=”Rafaela Silva” author_description=”Coordenadora de Projetos do Instituto Escolhas” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Essa falta de atualização, com os parâmetros inalterados há 15 anos, faz com que a maioria dos produtos atualmente no mercado já estejam nesse patamar, apesar de gastar mais energia do que produtos vendidos em outros países
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosDe acordo com o trabalho do Instituto Escolhas, organização como foco em produzir estudos, análises e relatórios sobre sustentabilidade, a adoção do padrão internacional de eficiência energética em geladeiras no Brasil pode reduzir as emissões em 56 milhões de toneladas de CO2eq até 2030, o equivalente a tirar de circulação 3,3 milhões de automóveis por ano. O documento aponta ainda que a adoção desse padrão economizaria 130 TWh de energia elétrica, o suficiente para abastecer 71 milhões de domicílios por ano, ou seja, 98% das residências brasileiras.
Como destacou Carlos Manso, pesquisador da Universidade Federal do Ceará, “tudo em relação a geladeiras é superlativo”. As geladeiras representam 32% do consumo residencial no Brasil e está presente em 98% dos lares do país. Há, pelo menos, 78 milhões de geladeiras espalhadas pelas residências brasileiras atualmente e, até 2030, outras 61 milhões serão vendidas – para troca ou para novos consumidores. “É um item fundamental na economia doméstica brasileira, porque pesa muito na conta de luz e não tem como ser controlado como o ar condicionado ou o chuveiro elétrico”, lembra Manso.
No caso das geladeiras, a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE, aquela etiqueta com faixas coloridas que pode ser encontradas em vários aparelhos e até em veículos) não passa por atualização desde 2006. “Essa falta de atualização, com os parâmetros inalterados há 15 anos, faz com que a maioria dos produtos atualmente no mercado já estejam nesse patamar, apesar de gastar mais energia do que produtos vendidos em outros países”, afirmou, no lançamento virtual, Rafaela Silva, coordenadora de projetos do Instituto Escolhas e doutora em Ecologia e Biodiversidade pela Universidade Estadual Paulista.
Rafaela lembrou ainda que o governo brasileiro concede subsídios à indústria para fabricação desses produtos que, hoje, já não têm real eficiência energética. “Essa defasagem na etiquetagem só está beneficiando hoje a indústria. Não atende ao consumidor, que poderia economizar mais, nem ao país que gastaria menos energia”, argumentou.
De acordo com o estudo, o subsídio fiscal sobre o Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para as geladeiras com a etiqueta de
eficiência energética ‘A’ do Inmetro equivale a cerca de “R$ 500 milhões por ano que deixam de ser arrecadados pelos cofres públicos. “Como os critérios das etiquetas estão defasados e praticamente todas as geladeiras vendidas já atendem aos requisitos da etiqueta ‘A’, atual, não há diferenciação entre os produtos para a concessão do benefício fiscal, enfraquecendo a política de incentivos”, aponta o documento. “A indústria de geladeiras se beneficia de um subsídio, mas, em contrapartida, não oferece ao consumidor um produto que, de fato, consome menos energia. A sociedade acaba sendo duplamente prejudicada”, acrescenta.
Geladeiras brasileiras longe do padrão internacional
No dia 25 de março de 2021, o Inmetro colocou em consulta pública4 proposta para rever os critérios de eficiência energética das etiquetas das geladeiras, que há mais de 15 anos não são atualizados. ” Para se ter uma ideia, as geladeiras brasileiras são menos eficientes energeticamente do que as dos Estados Unidos, dos países da União Europeia, da Jamaica e do Quênia”, frisa o estudo do Escolhas.
[g1_quote author_name=”Danielle Assafin” author_description=”Coordenadora de Etiquetagem do Inmetro” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]As empresas precisarão fazer gastos milionários para essa adequação. O Brasil tem cinco indústrias nacionais de geladeiras que atendem a 80 milhões de residências e elas precisam ter um prazo para adequar sua plataforma de produção a essas novas exigências
[/g1_quote]Pela proposta do Inmetro, os avanços nos parâmetros de eficiência energética exigidos para os refrigeradores foram organizados em três fases distintas: a primeira, com prazo de adequação até 30 de junho de 2022, introduzirá temporariamente as subclasses A+, A++ e A+++ para indicar refrigeradores que sejam 10%, 20% e 30% mais eficientes do que a atual classe A; a segunda fase, com prazo de adequação até 31 de dezembro de 2025, elimina as subclasses e retorna a etiqueta ao tradicional ranking de A a F, mas com novo padrão de eficiência; a terceira fase, finalmente, estabelece a adoção na íntegra das recomendações da U4E, a partir de 31 de dezembro de 2030.
O estudo aponta que a economia para o consumidor que poderia ser de R$ 101 bilhões ficaria em apenas R$ 17 bilhões com a proposta colocada pelo Inmetro em consulta pública. “A proposta em pauta de atualização da etiqueta de eficiência energética do Inmetro entrará, realmente, em vigor apenas no fim de 2026, e continuará mais branda do que a recomendação internacional. Ou seja, o Brasil continuará atrasado em relação a outros países”, alertou a coordenadora de projetos do Instituto Escolha.
Também presente ao lançamento virtual do estudo, coordenadora do Programa de Etiquetagem do Inmetro, Danielle Assafin, defendeu a necessidade de uma atualização em etapas para permitir a adequação da indústria. “As empresas precisarão fazer gastos milionários para essa adequação. O Brasil tem cinco indústrias nacionais de geladeiras que atendem a 80 milhões de residências e elas precisam ter um prazo para adequar sua plataforma de produção a essas novas exigências”, argumentou.
O estudo do Instituto Escolhas aponta a necessidade de ajustes na proposta, “especialmente na antecipação dos marcos temporários e na adoção de critérios mais rígidos, alinhados com recomendações internacionais de eficiência, como as da U4E, que poderiam produzir ganhos muito maiores para a sociedade e o meio ambiente”.
O Instituto Escolhas enviou suas contribuições para a consulta pública, priorizando três recomendações para o Inmetro: adotar o critério de eficiência estabelecido pela referência internacional da U4E para a fabricação e importação de geladeiras a partir de junho de 2022; adotar um modelo único de etiqueta, com as classes de ‘A’ até ‘F’ a partir de junho de 2022; e revisar os critérios de eficiência das etiquetas a cada 5 anos, seguindo as recomendações da U4E.