Maya Angelou: de abuso e racismo na infância a lições de superação, arte e ativismo

Documentário sobre Maya Angelou mostra sua trajetória do abuso e do racismo na infância até o sucesso na literatura e a transformação em referência para a comunidade negra nos EUA (Foto: Divulgação)

Documentário mostra as muitas facetas da escritora negra norte-americana homenageada com sua imagem em moedas de dólar

Por Oscar Valporto | ODS 10ODS 5 • Publicada em 3 de abril de 2024 - 09:10 • Atualizada em 8 de abril de 2024 - 09:54

Documentário sobre Maya Angelou mostra sua trajetória do abuso e do racismo na infância até o sucesso na literatura e a transformação em referência para a comunidade negra nos EUA (Foto: Divulgação)

Nos Estados Unidos, o começo de abril é marcado por eventos para celebrar a trajetória da escritora Maya Angelou, primeira mulher negra a ser homenageada estampando uma moeda (um quarto de dólar) americana. Poeta, memorialista e ativista, Marguerite Ann Johnson (seu nome de batismo) faria 96 anos neste dia 4 de abril e o Canal Curta se une às homenagens exibindo o documentário Maya Angelou: Ainda me levanto, que também está disponível no CurtaOn – Clube de Documentários, canal de streaming também abrigado no Prime Video, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma.

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O grande trunfo do documentário Maya Angelou: And Still I Rise (título de um de seus poemas mais conhecidos) é a participação da própria personagem principal – não apenas como entrevistada, mas também como narradora e como consultora dos diretores Bob Hercules e Rita Coburn-Whack. Quando a escritora morreu, em maio de 2014, o filme já estava em produção – a última entrevista feita pelos diretores com Maya havia sido quatro meses antes. “A história de Maya era simplesmente enorme e, embora o filme dure duas horas, poderíamos facilmente ter feito um filme de seis horas”, disse, em entrevista, Rita Coburn-Whack, que foi produtora do programa semanal de rádio da escritora, transmitido pela PBS (emissora pública dos EUA) entre 2006 e 2010.

Os diretores – com a ajuda da escritora – analisaram 4 mil fotografias para selecionar as 314 que estão no filme e mais de 150 horas de vídeos antigos para chegar aos 29 minutos que foram usados no documentário. Assim, o filme traz imagens inéditas de Maya, revelando um retrato de sua vida pessoal e pública, usando as suas próprias palavras. Logo no começo do documentário, a ex-senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton diz que seria triste se Maya Angelou ficasse conhecida apenas por uma coisa – em referência ao seu famoso livro “I Know Why the Caged Bird Sing” (Eu Sei por que o Pássaro Canta na Gaiola). O documentário cuida de mostrar suas muitas outras facetas.

Maya Angelou: documentário em exibição no Curta mostra trajetória de escritora, falecida em 2014, que completaria 96 anos em abril (Foto: Reprodução/Facebook)

Os diretores constroem a história de de abuso e negligência da primeira parte da vida de Maya Angelou, com a voz rouca – e inconfundível para muitos americanos – de Maya Angelou conduzindo sua trajetória, contando o trauma de ser estuprada pelo namorado da mãe aos oito anos de idade. Durante cinco anos, a pequena Marguerite Ann ficou muda, sem dizer uma palavra. Ela reencontra a voz quando aprende poesia, lendo todos os livros da biblioteca negra da cidade de Saint Louis, no Missouri, estado do Meio Oeste.

Maya, apelido dado pelo irmão, passou parte da infância com a avó, no sul dos EUA, e aos 14 anos, voltou a morar com a mãe, em Oakland, na Califórnia. Na vizinha São Francisco, depois de passar pela escola de assistência social, foi a primeira melhor a dirigir um bonde. E foi mãe solteira aos 17 anos: os depoimentos do filho, Guy, sobre a vida com Maya (e a vida sem ela) ajudam a compor outra parte dramática dessa trajetória. Também em São Francisco, ela começou uma carreira nos palcos como cantora e dançarina em musicais. Participou de turnês pelo país e pela Europa, gravou um disco e começou a se envolver nos movimentos pelos direitos dos negros americanos.

Maya Angelou já escrevia poemas, mas sua consagração literária veio com o livro de memórias “I Know Why the Caged Bird Sing” (Eu Sei por que o Pássaro Canta na Gaiola), de 1969, centrado em sua infância traumática O livro se tornou o primeiro best-seller de não ficção escrito por uma afro-americana. Foi o primeiro de seis livros de memórias: Maya Angelou também publicou livros de poemas, histórias para crianças, ensaios e até livros de culinária, enquanto se transformava numa referência para a comunidade negra dos EUA – principalmente para as negras americanas – pela sua ativa participação nos movimentos pelos direitos civis e pelos direitos das mulheres.

Maya Angelou e a moeda de um quarto de dólar em sua homenagem (Foto: Reprodução/Facebook)

Em 2010, o então presidente Barack Obama concedeu a Maya Angelou a Medalha Presidencial da Liberdade; em 2013, ela recebeu o Literarian Award, prêmio honorário da National Book Foundation por suas contribuições à comunidade literária. Em 2022, foi homenageada pela Casa da Moeda com sua homenagem estampada em moedas de 25 centavos (quarter): as moedas cunhadas têm em uma face (a outra é semelhante a todas de um quarto de dólar) o perfil da autora e ativista com imagens de liberdade de suas obras: um pássaro voando, os raios do sol e os próprios braços de Angelou levantados para o céu.

“Você pode encontrar muitas derrotas, mas não deve ser derrotado. Na verdade, pode ser necessário que você enfrente a derrota para saber quem você é”, afirma Maya Angelou em uma entrevista a BBC que aparece logo no começo do documentário onde também está registrado o momento histórico quando ela recita seu poema “On the Pulse of Morning” na posse de Bill Clinton, como presidente dos EUA em 1993. Clinton, Hillary e a apresentadora Oprah Winfrey são alguns dos entrevistados do filme. “Eu vejo Maya Angelou transcendendo ser apenas uma mulher negra, mas também sendo uma mulher negra em seu período de tempo e acompanhando a história em grande parte com sua vida”, disse a diretora Rita Coburn-Whack, também negra.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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