Mesmo com 274 línguas indígenas no Brasil, a Constituição promulgada em 1988 só tinha até hoje exemplares na língua portuguesa. E agora temos uma primeira versão em língua indígena, que está em Nheengatu (conhecida como Língua Geral ou Tupi moderno). Mas versões em outras línguas virão, de acordo com a ministra dos Povo Indígenas, Sônia Guajajara. A Constituição em Nheengatu foi feita por um grupo de 15 indígenas bilíngues da região do Alto Rio Negro e Médio Tapajós.
Leu essas? Série especial A força das línguas indígenas
Esse é um momento histórico para os povos indígenas porque, durante muito tempo, nós estivemos invisibilizados na política e nas leis que regem o nosso país. É com muita luta e com muita resistência que as nossas línguas tradicionais existem e resistem.
O nheengatu não é uma língua indígena amazônica. Ela foi levada primeiro para o Pará no século XVII pelos colonizadores jesuítas que tiveram contato com os Tupinambá. A língua passou, então, a ser usada como idioma de contato entre indígenas de diversas etnias, brancos e caboclos, espalhando-se por várias regiões amazônicas, incluindo o Alto Rio Negro, onde hoje o Nheengatu é uma língua co-oficial, falada por diversas etnias, como os Baniwa, Baré e Warekena.
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Veja o que já enviamosO Nheengatu é uma das quatro línguas indígenas co-oficiais de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, município brasileiro com a maior população indígena do país. Foi lá, em São Gabriel, o lançamento da Constituição – a presidente do STF e do CNJ, Rosa Weber, e outras autoridades estiveram no evento ocorrido na Maloca (Casa do Saber), da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Apesar de ser considerada ameaçada pela Unesco, o Nheengatu vem ganhando força e recentemente ganhou a sua Academia da Língua Nheengatu, cujo presidente Edson Kurikanwe Baré, foi um dos tradutores da Constituição Federal para a língua.