Não menor, nem tão grande – um ser surgindo no meio de foliões, como uma alma passante a bailar entre aqueles que se alegravam com os gritos carnavalescos. Não era uma ilusão, não era uma visão turva pelo embaraço da cerva gelada ou da caipirinha no ponto. Era simplesmente a existência de uma criança frente ao colorido das pessoas.
Nas mãos, balas que simbolizam seu sustento e o olhar de quem impunha uma ajuda, uma prece para que alguém olhasse para baixo, na iniciativa de resolver suas súplicas. Os deuses da alegria também podem dar comida a quem pede; água a quem tem sede; e purpurina para quem deseja brilhar.
Com a retomada das ruas pelo carnaval, o contraste era latente. De um lado, a euforia do reencontro. Do outro, o desamparo que obriga as pessoas a viverem sem condições, chances e nem possibilidade de festejar.
Talvez de encontro com a Beija-Flor de Nilopólis e seu enredo “Brava Gente! O Grito dos Excluídos No Bicentenário da Independência”, que reivindicava não só um verdadeiro olhar frente à Independência, mas também um novo horizonte para quem está relegado até o momento – e contando. Sobretudo por entender que aqueles que não estão nesse espaço também lutam, todos os dias, para construir um Brasil melhor, ainda que nem sempre sejam reconhecidos.
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Veja o que já enviamosEntre o corte oriental e ocidental das avenidas e povos, cidades partidas e unidas pela animação das ruas. Sem novidade, só constatação. Para enfim, no fim, ensejar dias melhores para sempre e pra gente, ainda mais longe dos calendários e realizações concretas de mudanças. Que não se dão no agora, nem podem; mas que ficam cada vez mais longe do futuro que pode apaziguar os corações.
Ainda que sereias se materializassem na frente de quem mais houvesse, de que o poeta entrasse na briga por ela, cultuando a beleza de uma deusa maia, o que fica é a vontade do esfomeado. Apenas e simplesmente esse último sendo o mais nobre, com o mais simples dos pedidos: comida.
Assim vivi o Carnaval, sem deixar de olhar para os lados e sobretudo com o que me deparava pela frente. Como aquela criança, não menor, nem tão grande, somente um ser surgindo no meio de foliões, como uma alma passante a bailar entre aqueles que se alegravam com os gritos carnavalescos. Não era uma ilusão, não era uma visão turva pelo embaraço da cerva gelada ou da caipirinha no ponto. Era simplesmente a existência de uma criança frente ao colorido das pessoas.
Com balas nas mãos, só pedia uma coisa: comida.