Anjos de bike ajudam cariocas a pedalar

Cerca de 200 voluntários incentivam jovens e idosos a andar de bicicleta

Por Laura Antunes | ODS 17 • Publicada em 27 de dezembro de 2015 - 13:40 • Atualizada em 28 de dezembro de 2015 - 11:53

As atividades do grupo incluem eventos mensais (sempre aos domingos), ao ar livre, para reunir ciclistas. Eles acontecem no Aterro do Flamengo (em frente ao MAM), Niterói e Volta Redonda
As atividades do grupo incluem eventos mensais (sempre aos domingos), ao ar livre, para reunir ciclistas. Eles acontecem no Aterro do Flamengo (em frente ao MAM), Niterói e Volta Redonda
As atividades do grupo incluem eventos mensais (sempre aos domingos), ao ar livre, para reunir ciclistas. Eles acontecem no Aterro do Flamengo (em frente ao MAM), Niterói e Volta Redonda

Na cidade cada vez mais castigada por engarrafamentos e trânsito lento, até mesmo fora dos clássicos horários de rush, os 380 quilômetros de ciclovias existentes no Rio deveriam ser, obviamente, uma alternativa limpa e sustentável para tentar melhorar a mobilidade urbana. Foi apostando nessa proposta que um grupo de cariocas deu o primeiro passo, ou melhor, a primeira pedalada. São entre 150 e 200 voluntários que decidiram doar parte do seu tempo livre para ensinar, quem ainda não sabe, a andar de bicicleta. Tudo gratuitamente. E essa turma, batizada de Bike Anjo, foi além: costuma fazer palestras em escolas sobre educação no trânsito, organizar eventos ciclísticos e até ministrar cursos para motoristas de ônibus sobre a importância da convivência civilizada com as bikes no trânsito.

O bike anjo Miatã Guedes ajuda Luana a dar as primeiras pedaladas

O primeiro grupo Bike Anjo surgiu em São Paulo, há cinco anos. Ele ganhou adesões ao longo desse período e, hoje, já está em cerca de 450 cidades brasileiras e soma um total de 3.034 voluntários. Em 2012, a associação sem fins lucrativos chegou ao Rio, onde, apenas nos dois últimos anos, cerca de mil pessoas receberam aulas de como pedalar nas ciclovias. Desde a formação do grupo carioca, já foram quase cinco mil atendimentos na cidade, calculam os coordenadores da regional.

– A proposta do Bike Anjo é fazer com que, cada vez mais, as pessoas usem as ciclovias e transformem a cidade num espaço mais humanizado, por meio das bicicletas – explica Miatã Braga Fernandes Guedes, um dos coordenadores do Bike Anjo carioca.

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Se compararmos com os quilômetros de vias destinadas aos carros e ônibus, as ciclovias da cidade ainda são em número muito reduzido. Nossa proposta é fomentar essa rede para que ela continue crescendo

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O grupo de voluntários mantém um site, no qual quem quer aprender a pedalar pode se inscrever. Um “anjo” de bike entrará em contato para oferecer a aula prática, que tem uma hora de duração e acontece sempre na região onde mora o aluno. Normalmente, em três aulas, no máximo, já se consegue pedalar com equilíbrio. O que chama atenção dos coordenadores é que os interessados estão em todas as faixas etárias. No entanto, 65% são mulheres.

– Recebemos pessoas de todas as idades. De crianças a idosos querendo aprender a andar de bicicleta ou reaprender, pois muitos nos contam que aprenderam quando jovens e nunca mais exercitaram. O curioso é que o público feminino é o que tem mais interesse, talvez porque os homens adultos fiquem mais constrangidos em estar em local público apreendendo a se equilibrar numa bicicleta. As mulheres não se incomodam – acredita o bike anjo Miatã.

Louca para a aprender a andar de bicicleta, a psicóloga carioca Luana Ribeiro de Almeida, de 34 anos, descobriu recentemente o site do Bike Anjo, e não teve dúvidas: se cadastrou como aluna. Por morar no Leblon, a primeira aula aconteceu no Parque dos Patins, na Lagoa, na segunda quinzena de dezembro. Luana teve Miatã como professor.

Entusiasmada, a psicóloga faz planos para, em breve, poder levar de bicicleta o filho, de 1 ano, para a creche, na Gávea. Hoje, ela percorre esse trajeto, de cerca de dois quilômetros, a pé (empurrando o carrinho do bebê) ou de carro.

– É meu sonho levá-lo de bicicleta, porque é praticamente uma linha reta. Meu marido já tentou me ensinar, mas não consegui. Quando li a respeito do Bike Anjo, me animei e marquei uma aula. Acho que agora vai! – brinca Luana, explicando por que não aprendeu a andar de bicicleta quando criança. – Eu ganhei uma bike quanto fiz 7 anos, mas ela foi roubada da garagem do meu prédio e nunca mais ganhei outra.

Luana foi melhor do que ela mesma esperava. Após as orientações do professor sobre equilíbrio e frenagem, ela conseguiu sair pedalando sozinha já na primeira aula.

– Nossa, eu não esperava pedalar logo na primeira aula! – comemorava ela, aos risos, ao fim do treino, após percorrer cerca de 50 metros sozinha sem cair da bike.

Os bike anjos também dão dicas para quem quer se aventurar a pedalar no trânsito. As atividades do grupo incluem ainda eventos mensais (sempre aos domingos), ao ar livre, para reunir ciclistas. Eles acontecem no Aterro do Flamengo (em frente ao MAM), Niterói e Volta Redonda. Nessas ocasiões, professores também dão aulas aos iniciantes. As datas são divulgadas no site (www.bikeanjo.org). A ideia é replicar esses encontros em outras cidades.

Segundo Miatã, tão importante quanto ensinar a pedalar são os projetos realizados pelo grupo em escolas sobre educação no trânsito. Os anjos também são chamados para atuar em empresas, incluindo as de ônibus.

– Geralmente, esses eventos em empresas ocorrem para realização de campanhas internas que estimulem os funcionários a adotar a bicicleta como transporte para o trabalho. Fazemos ainda treinamentos em empresas diretamente ligadas ao trânsito, com atividades de integração ou dinâmicas, mas já é um pouco mais raro – diz Miatã.

Na avaliação do coordenador do Bike Anjo, a rede atual de ciclovias no Rio ainda não é suficiente.

– Se compararmos com os quilômetros de vias destinadas aos carros e ônibus, as ciclovias da cidade ainda são em número muito reduzido. Nossa proposta é fomentar essa rede para que ela continue crescendo – conclui ele.

Laura Antunes

Depois de duas décadas dedicadas à cobertura da vida cotidiana do Rio de Janeiro, a jornalista Laura Antunes não esconde sua preferência pelos temas de comportamento e mobilidade urbana. Ela circula pela cidade sempre com o olhar atento em busca de curiosidades, novas tendências e personagens interessantes. Laura é formada pela UFRJ.

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