Foi. E foi mais, sempre mais, nunca pouco. Chegar aqui me colocou numa posição que jamais havia pensado: a de ter resistido, mesmo quando o mundo e as evidências diziam que…não. E não porque eu não queria, mas, sim, porque a vida se impunha.
Nos sete últimos meses, quatro cirurgias – sem contar algumas infecções. Uma faculdade pra terminar, trabalhos. Equilibrar na balança a função de filho-cuidador-profissional-gestor-pessoa-cidadão-homem, sem que houvesse chance pro erro ou quase isso. Tio, amigo, parceiro. Um porto seguro para uma ponte em que transitaram e transitam milhares de pessoas que, juntas, montam um panorama que também sou eu. E onde me fortaleço.
Entre mudanças e separações – e não foram poucas – me limito a dizer: sobrevivi.
Nas idas e vindas de uma saúde baqueada, com a trajetória repleta de reviravoltas e plot-twists dos mais clichês ao inimagináveis, nunca estive tão certo em dizer que tanto eu, quanto o país, vivemos um ano conturbado. E foi difícil acreditar que haveria saída.
No macro, a tensão provocada pela eleição desde o princípio. O estardalhaço. O ódio nas ruas pintadas de verde e amarelo. Jamais o “isso ou aquilo”, mas sim, “isso E aquilo”, para qualquer conversa. Ou não.
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Veja o que já enviamosMentiras contadas, replicadas, as fofocas. O ataque direto ou indireto. As mortes por uma pandemia que insiste em permanecer entre nós, além das outras que existem (como o racismo, principal chaga de nosso patropi, e a fome). O descalabro de outro tipo de morte: o das políticas públicas, quando mais se pautou a existência delas, e até com viés eleitoreiro.
Uma Copa em que participamos, mas não vencemos. O flerte com endeusamento à violência através de vivas e salvas por quem nos representa pelas chuteiras diretamente ao….Messias? O mesmo que agora chora e deixa Brasília rumo aos Estados Unidos. Férias, descanso ou fuga?
No meio da festa do rock, um samba. Na quebrada, a batida de tudo isso em 150 bpm – e só assim para cadenciar a correria que era estar submerso a tantos acontecimentos. Antigamente faltava a palavra, hoje não mais. Talvez só credulidade ou choque (e não choquei, ok?).
A perda de figuras das mais importantes (como Pelé, Gal, Erasmo e a lista não pára), indo de vez para o panteão, e até aqueles que saberemos que não estarão mais aqui, mas não mais pertinho em vida. Mas isso tá mais pra minha vida.
O que eu queria dizer nessa carta, meu amigo Brasil, é que agora só nos resta agarrar às esperanças. Não só aquela trazida pelo bicho, mas também o sopro de vida que se têm ao abraçar com os braços abertos o novo que vem. E chega na manhã de um domingo. Olha que especial?
Te dizer que por vezes ou outra, o brilho nos olhos para o que se apresentava faltou. Mas, como segue o lema, nós não desistimos. Eu não desisti. E parece que você também não.
Mas sem muitas expectativas, afinal, como cantou a pedra o poeta Sérgio Vaz: “o ano novo tem cara de gente boa, mas não confie nele, confie em você”.
Feliz novos dias. Té já.