O plano deu certo. No ar, pairando sobre nossas cabeças, uma tensão diferente. O risco de alguma atitude, uma ação mais enérgica e efetiva de quem, há quatro anos, anulou tudo que havia sido pensado como democrático (ou minimamente tentado como projeto de democracia). Mais um Sete de Setembro sequestrado pelo atual presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. Envernizado, o patriotismo envernizou-se, mais uma vez, de verde e amarelo, como símbolo de amor à nação. Quando, na real, estava mais reiterado do que nunca a idolatria ao líder. Um enviado ungido por Deus, a fim de cumprir sua missão.
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Se antes predominava o receio de não ter fôlego e mais uma mobilização “para a massa”, o que se viu no correr da última quarta-feira, ao meu ver, foi tudo o que se precisava. Para as fotos? Para os vídeos cortados e partilhados no Instagram, Twitter, TikTok e Whatsapp? Para inserção nas campanhas eleitorais em rádio e TV? Sim para todas as interrogações. E além: para colocar na rua, ou fazê-la ficar dividida, entre os dois pólos de tensão. E não – não é Bolsonaro versus Lula, apenas. É o campo antidemocrático, sob égide da violência exacerbada em discurso e ações, e o campo que confia e legitima o voto nas urnas, que apoia às instituições.
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Veja o que já enviamosNesse jogo de nós contra eles, a inviabilidade de viver pacificamente; já que pensar diferente tornou-se motivo principal de até mesmo acabar com uma vida. Além dos xingamentos e demais atos que só enfatizam o quanto perdemos o senso ou a capacidade de reunificar o outro lado.
Pelo olhar de quem observou os atos no Rio, acompanhando a chegada de Bolsonaro para encontro na Praia de Copacabana, além dos reflexos da reunião de apoiadores em regiões do entorno, o sentimento-constatação que fica é pensar à frente: quanto tempo demorará para que consigamos resgatar um mesmo ideal de país? Será que pensar sobre isso é uma utopia e nunca mais retornaremos ao objetivo único e principal de um projeto de Brasil?
Fico a refletir sobre os impactos na minha geração, que não esperava enfrentar, de uma vez só, o trauma do desmonte. E, em cenário de terra arrasada, formará uma nova geração submersa a essa narrativa quase determinista de guerra, onde negação, desrespeito e descaso fazem parte de uma leitura enviesada da Constituição.
Se o lado de lá vocifera ódio, o daqui precisa ressignificar como tratar de temas e dogmas que passaram a ser fixação. E ao mesmo tempo, não deixar de tratar a realidade dura que faz o país morrer pela fome e as faltas de assistências.
Daqui, assisto tudo me colocando a pensar meios, jeitos e, mais do que problemas, soluções. Ainda que só venha uma mensagem na cabeça: vai ser, é e está muito difícil.