Campanha de guaranis cobra demarcação e reconhecimento de terras indígenas

Vídeo produzido pelo povo Guarani para cobrar do governo Lula demarcação e reconhecimento de terras indígenas: um ano sem avanços (Foto: Reprodução)

Lideranças da etnia lançam vídeo e manifesto reivindicando homologação de quatro territórios e declaração de limites de outras 10 áreas na Mata Atlântica

Por Oscar Valporto | ODS 16 • Publicada em 16 de abril de 2024 - 09:33 • Atualizada em 23 de abril de 2024 - 09:39

Vídeo produzido pelo povo Guarani para cobrar do governo Lula demarcação e reconhecimento de terras indígenas: um ano sem avanços (Foto: Reprodução)

Às vésperas do Dia Nacional dos Povos Indígenas e a poucos dias do Acampamento Terra Livre, a maior mobilização indígena do país, lideranças e comunidades do povo Guarani relançaram a campanha #DemarcaYvyrupa para cobrar o compromisso do governo Lula com a demarcação de suas terras nas regiões Sul e Sudeste, em áreas de Mata Atlântica. A campanha traz um novo vídeo que já está sendo exibido nas redes sociais de associações indígenas e um manifesto a ser entregue às autoridades.

“Com preocupação, notamos pouco avanço no andamento desses casos, e esse cenário de extrema insegurança jurídica coloca em risco a vida do nosso povo”

Manifesto do Povo Guarani

Na primeira edição da campanha, em 2023, a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) presenteou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, com canetas decoradas com grafismo da etnia, para que fossem usadas para assinar as declarações e homologações de terras indígenas. De acordo com as lideranças, a ministra, então recém-empossada, assumiu o compromisso com a demarcação de 12 territórios.  “Pelo jeito, não era apenas a caneta que faltava: um ano se passou e não vimos uma assinatura sequer “, afirma o manifesto.

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No documento, a CGY lista 14 Terras Indígenas que, de acordo com as lideranças, não têm qualquer pendência em seus processos demarcatórios, dependendo apenas de uma assinatura para seguir para o próximo etapa do processo demarcatório ou serem finalmente regularizadas: quatro estão prontas para terem a demarcação homologada pelo presidente Lula; 10 terras aguardam a assinatura da portaria declaratória – que reconhece limites, oficializando direitos jurídicos do território e garantindo retirada de invasores – pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. “Com preocupação, notamos pouco avanço no andamento desses casos, e esse cenário de extrema insegurança jurídica coloca em risco a vida do nosso povo”, afirma o manifesto.

A CGY planeja presentear o presidente Lula e o ministro Lewandowski com novas canetas com grafismos indígenas. “Incluímos neste presente uma porção da força, da coragem e da responsabilidade que nos legaram nossos xamõi xaryi kuery, para que essas canetas não sejam esquecidas em gavetas, mas mantenham-se firmes, até que a última terra guarani seja demarcada”, reiteram as lideranças em sua carta-manifesto.

A CGY pretende entregar o documento durante a próxima reunião do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), que reúne integrantes de vários ministérios, marcada para esta terça (16/5), em Brasília. “Enquanto não há encaminhamentos necessários à garantia de nossas terras, sofremos com invasões e violências de todos os tipos, inclusive físicas”, acrescenta o manifesto.

O presidente Lula assina demarcação de terras durante Acampamento Terra Livre em 2023: guaranis cobram homologação e reconhecimento de seus territórios em áreas de Mata Atlântica no Sudeste e no Sul (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil - 28/04/2024)
O presidente Lula assina demarcação de terras durante Acampamento Terra Livre em 2023: guaranis cobram homologação e reconhecimento de seus territórios em áreas de Mata Atlântica no Sudeste e no Sul (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil – 28/04/2024)

A CGY afirma que monitora a situação jurídica de todas as terras guarani e fez um levantamento detalhado de cada uma dessas 14 Terras Indígenas, comprovando que elas só não avançaram em seus processos demarcatórios até o momento por falta de decisão política. As quatro TIs prontas para ter a demarcação homologada estão em  Santa Catarina: a TI Morro dos Cavalos, em Palhoça; as TI Pindoty e Tarumã, ambas nos municípios de Araquari e Balneário Barra do Sul; e a TI Piraí, nos municípios Araquari e Joinville.

Antes de listar os 10 territórios que aguardam portaria declaratória, passo anterior à homologação da demarcação, o documento da CGY saúda o novo ministro da Justiça e Segurança Pública.  “Ao ministro Ricardo Lewandowski, externamos os votos de confiança de nosso povo de ver garantidos nossos direitos, em cumprimento à letra da Constituição Federal. Tua chegada é em boa hora – mais que nunca, é tempo de ver reconhecidas e demarcadas as terras indígenas neste país”, afirma o manifesto. As TIs à espera da portaria são a TI Sambaqui, nos municípios de Paranaguá e Pontal do Paraná (PR), a TI Boa Vista do Sertão do Promirim, em Ubatuba (SP), e outras sete em municípios da região do Vale do Ribeira, no estado de São Paulo: TI Pindoty/Araçá-Mirim, TI Guaviraty, TI Tapyi/Rio Branquinho, TI Amba Porã, TI Djaikoaty, TI Ka’aguy Mirim e TI Peguaoty.

O manifesto lembra ainda que o povo Guarani é um dos maiores do país, com cerca de 25 mil pessoas que habitam 157 Terras Indígenas – desse total, apenas 39 terras tiveram o processo de regularização fundiária finalizado, de acordo com levantamento da CGY. “O que vivenciamos são décadas de espera e enfrentamentos para permanência e proteção do que restou de nossas terras tradicionais, roubadas pelos colonizadores. Conscientes de que não há vitória sem luta, seguiremos mobilizados, enquanto a política de regularização fundiária para os povos indígenas não for célere e efetiva”.

 

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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