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Aceita: Anitta no candomblé e no país onde o povo do axé sofre com a intolerância religiosa

Ataques por clipe gravado em terreiro não é surpresa no Brasil com tanto ódio e racismo religioso

ODS 10ODS 16 • Publicada em 17 de maio de 2024 - 09:36 • Atualizada em 21 de maio de 2024 - 10:23

Na correria do dia, parecia que a cada segundo, se perdia um seguidor. O motivo: ter professado, a partir de um clipe, a sua fé. E daí pronto, não adiantava nem mesmo ser a Anitta. Sim, aquela que é a Girl from Rio e leva os brazucas mundo afora. No fim das contas, era só mais uma, não qualquer, mas ainda assim como um dos ‘’piores’’ pejorativos: o de ‘Anitta macumbeira’.

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Seu choque foi perder – ou se livrar, na real – de pouco mais de 200 mil seguidores, que, não podemos categorizar, batem cabeça diferente da moça de Honório Gurgel. E aqui cabe ressaltar para não incorrer em mais preconceito: nem todos que deixaram de acompanhar a cantora são evangélicos. Ok?

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Mas o caso do clipe da música Aceita reflete em nós uma questão: é pecado então dizer axé ao invés de amém? Será que chegamos ao tamanho intolerável que o diferente não se faz necessário, e é preciso reiterar uma única religião, num Brasil de realidades tão múltiplas?

Anitta no vídeo clipe de Aceita, gravado em terreiro de Candomblé: ataques por intolerância religiosa (Foto: Divulgação)
Anitta no vídeo clipe de Aceita, gravado em terreiro de Candomblé: ataques por intolerância religiosa (Foto: Divulgação)

É preciso sinalizar, sempre que possível, que toda escolha é política, incluindo as artísticas. Anitta sabe disso – e, por isso, o faz com maestria.

E talvez hoje seja uma das artistas que mais toca na ferida, expõe suas dores e também aponta para quais caminhos seguir. Assim, por exemplo, o fez durante a corrida presidencial de 2022, quando tornou, sutilmente, sua ignorância política, casa de todos nós. Pelas redes, administrou junto a professora de política e apresentadora Gabriela Priolli, um telecurso em novos tempos. A atitude já tinha acontecido, para fins de entretenimento, durante a pandemia.

O caso de Anitta espanta, mas não totalmente. Segundo dados da Anistia Internacional Brasil, o Brasil registrou, em 2023, 2.124 violações de direitos humanos relacionadas à intolerância religiosa. As religiões de matriz africana foram as mais afetadas. Deixar de seguir a malandra não é uma violação, mas os ataques nos comentários podem ser considerados.

Anitta no terreiro de Candomblé onde gravou o vídeo de Aceita: letra da música diz ‘nunca vou mudar, não é tão difícil de aceitar’ (Foto: Divulgação)

Não se pode, nesta altura do campeonato, subestimar a inteligência, tampouco a História. O povo de axé lida com intolerância religiosa há muito tempo, meio milênio, mais ou menos – ou até mais.

A liberdade religiosa é garantida pela nossa Constituição. Já a intolerância, o ódio e o racismo religiosos merecem denúncia, com penalização severa. Afinal de contas, professar uma religião – seja ela qual for – não dá a ninguém o direito de atacar as demais.

Pode-se não seguir, tampouco converter. Só é preciso uma coisa: respeito.

P.S.: o ataque sofrido pela artista foi num dia 13 de maio, dia de Preto Velho. A proteção vem forte.

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