Às vésperas de mais uma Conferência do Clima (COP), a urgência da agenda climática e social impõe ao setor privado um imperativo: a sustentabilidade deve ser o motor do crescimento, e não apenas um departamento. O segmento de moda e têxtil, em especial, carrega um histórico de grandes desafios, sendo globalmente responsável por até 8% das emissões de gases de efeito estufa (segundo consultoria internacional S2F Partners) e enfrentando problemas sociais crônicos na cadeia de fornecimento, como o trabalho análogo à escravidão.
Neste cenário de cobrança e transformação, a adoção de critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) deixou de ser opcional. E poucas avaliações globais comprovam essa prioridade de forma tão contundente quanto a Certificação Sistema B, um selo que atesta o compromisso de uma empresa com os mais altos padrões de desempenho social, ambiental, transparência e responsabilidade.
No Brasil, que possui a maior cadeia têxtil completa do Ocidente, com mais de 1,3 milhão de empregos diretos, casos de sucesso se tornam faróis. Não por acaso, grandes players do mercado têm buscado essa validação, como o Grupo Soma, que certificou todas as suas 15 marcas, e a Hering, que obteve o selo em 2021.
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Veja o que já enviamosNeste movimento, a Lunelli, uma das maiores referências do mercado da moda com 44 anos de história, emerge como um case fundamental de como a estratégia ESG se traduz em valor real, indo além do discurso. Recentemente certificada como Empresa B, a companhia catarinense juntou-se a um movimento global de transformação, alcançando 82.1 pontos em sua avaliação. O feito a insere em um grupo seleto: são apenas 18 empresas de moda e vestuário no mundo com mais de mil colaboradores a ostentar o Selo B.
ESG na Prática: pessoas no centro da decisão
A Certificação B, ao focar na dimensão ‘S’ do ESG, evidencia que a responsabilidade corporativa deve impactar diretamente a vida dos colaboradores. Viviane Cecilia Lunelli, presidente da empresa que leva o nome da família, destaca que o selo só foi possível graças à força coletiva e à centralidade das pessoas na gestão. “Passamos a fazer parte de um seleto grupo, que integra um movimento global de transformação, composto por negócios que colocam as pessoas e o planeta no centro das decisões, e que atuam de forma colaborativa para gerar impacto positivo e duradouro. Essa conquista só é possível porque temos um time que acredita e atua com intenção. Que cria e faz Moda com Significado todos os dias”, aponta.
A visão de “fazer moda com significado” se materializa em programas como o plano de previdência complementar, o LunelliPrev — acessível a todos e com contribuições da empresa — que visa transformar o colaborador na progressão de “Trabalhador + Poupador + Investidor”. Com uma adesão que já alcançou 86,8%, a iniciativa é um reflexo prático do compromisso social da empresa, que, segundo Viviane, busca “de fato estar melhorando a vida das pessoas e cumprindo nossa ideologia na prática”.
Essa importância da certificação é sentida na rotina. Para Adriane Enke Klein, que trabalha na área de Engenharia de Produto, o Selo B traduz-se em pertencimento e orgulho: “Significa se sentir bem fazendo e participando do propósito, tenho orgulho da minha trajetória na empresa e é ótimo fazer parte deste desenvolvimento. Nós nos envolvemos em vários processos e é gratificante quando entregamos com excelência”, conta.
Na esfera ambiental (‘E’), os desafios do setor têxtil, especialmente o alto consumo de água e a geração de resíduos, demandam inovação. Mariana Riskoski Emmerich, gerente de Sustentabilidade da Lunelli, detalha como a meta de ecoeficiência é monitorada e superada. “Realizamos o monitoramento mensal do consumo de água total e por quilo de malha produzida. Temos uma meta interna de produção considerando 100 L/Kg malha e temos operado abaixo deste consumo. Em 2024, mesmo com o aumento da produção, tivemos um consumo de água por quilo de malha produzido de 97,8 L/Kg”.
Esta eficiência, ela complementa, gera economia operacional, provando que sustentabilidade e lucratividade caminham juntas. Processos como a estamparia digital – a maior do Brasil – exemplificam a busca por menor impacto.
A Certificação B exige, ainda, que as boas práticas se multipliquem. Em parceria com o Sebrae/SC, a Lunelli promove o encadeamento produtivo, oferecendo consultoria especializada a fornecedores terceiros, com foco em sustentabilidade, mitigando riscos sociais e qualidade, reforçando a crença na chamada moda responsável.
Em um momento em que a transparência e a responsabilidade corporativa são a chave para a longevidade empresarial, especialmente com a proximidade da COP30 e a crescente pressão do mercado por uma “moda em tempos de ESG”, o case Lunelli demonstra o caminho. Ser uma Empresa B não é o destino final, mas o início de um ciclo de evolução contínua, onde o sucesso econômico (R$ 1,6 bilhão em faturamento) se alinha com a construção de um futuro mais inclusivo e equitativo, provando que a maior estampa pode ser a sustentabilidade.
