Seca e fome ameaçam a América Central

Depois de um 2018 terrível para agricultores da região, previsão de estiagem até julho deixa 1,4 milhão de pessoas em emergência alimentar

Por Oscar Valporto | ODS 13ODS 14 • Publicada em 17 de maio de 2019 - 08:00 • Atualizada em 20 de maio de 2019 - 14:49

Reservatório de Los Laureles que abastece metade dos 1,2 milhão de moradores da capital de Honduras, Tegucigalpa, afetado pela seca: água a cada quatro dias (Foto Orlando Sierra/AFP)
Reservatório de Los Laureles que abastece metade dos 1,2 milhão de moradores da capital de Honduras, Tegucigalpa, afetado pela seca: água a cada quatro dias (Foto Orlando Sierra/AFP)
Reservatório de Los Laureles que abastece metade dos 1,2 milhão de moradores da capital de Honduras, Tegucigalpa, afetado pela seca: água a cada quatro dias (Foto Orlando Sierra/AFP)

O período de estiagem de 2018. na América Central foi mais longo e mais seco – e quebrou a maior parte da primeira parte da safra de milho e de feijão. O período de chuva, no fim do ano, foi mais curto, mas os temporais vieram com mais força atingindo a segunda parte da safra. A combinação levou as agências da ONU a prever que mais de um milhão de pessoas – 1 milhão e 400 mil – vão passar fome do Panamá ao sul do México.

A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e o PMA (Programa Mundial de Alimentos) ainda estão começando a mobilizar para arrecadar US$ 70 milhões de dólares em doações, mas o Corredor Seco – região que margeia o Oceano Pacífico, indo da costa de Chiapas, no México, até o oeste da Costa Rica e do Panamá – já enfrenta novo período de estiagem.

E fica pior. Esta semana, o Oirsa (Organismo Internacional Regional de Sanidad Agropecuaria) – que reúne o México e oito países centro-americanos – anunciou que o fenômeno El Niño vai provocar nova seca prolongada, pelo menos, até julho, agravando a situação dos agricultores. “É provável que tenhamos uma nova onda de pragas agrícolas, provocada pela estiagem”, afirmou Estuardo Roca, coordenador de um programa do Oirsa sobre mudanças climáticas.

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Agricultores hondurenhos cortam árvores danificadas pela seca e pelas pragas de insetos: agências da ONU calculam 1,4 milhão de pessoas ameaçadas pela fome na América Central (Foto Orlando Sierra/AFP)

Agências da ONU calculam que, até o começo de 2019, 2,2 milhões de pessoas tiveram perdas em suas plantações em El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua, segundo informações de governos. A FAO e o PMA pretendem levar comida diretamente a 700 mil pessoas e ainda usar parte dos recursos para recuperar insumos agrícolas, diversificar fontes de renda dos agricultores do Corredor Seca, estabelecer sistemas de proteção social e melhorar a adequação dos agricultores aos efeitos do clima.

Os efeitos da seca do começo deste ano – que agora, ameaça se prolongar até julho – assustam todos os países da América Central. El Salvador calcula ter perdido mais de 20 mil hectares de plantações de milho em 2018, Na Guatemala, o governo teme que 290 mil famílias de agricultores não tenham o que comer em 2019 com as quebras das safras. Em Tegucigalpa, capital de Honduras, a água está racionada – só cai nas torneiras a cada quatro dias. Na Costa Rica, 300 mil usuários estão ameaçados também pela falta d’água, pela redução do nível dos reservatórios de abastecimento – além das ameaças às plantações de arroz e batata.

As agências da ONU estimam que metade dos quase dois milhões de pequenos produtores de grãos básicos da América Central vivam no Corredor Seco. Essas famílias são formadas por agricultores de subsistência, que consomem a comida que plantam — principalmente milho e feijão.  ”Se uma safra é perdida, os pequenos produtores não têm reservas suficientes de alimentos para comer, vender e sobreviver até a próxima colheita. Precisamos melhorar a resiliência dos habitantes do Corredor Seco. A vigilância e os sistemas de alarme precoce precisam ser fortalecidos. Os efeitos de eventos como secas e chuvas torrenciais precisam ser minimizados por meio de boas práticas agrícolas, que aumentam a adaptação das famílias, fortalecendo os seus meios de subsistência e impedindo que esses eventos climáticos comprometam a sua segurança alimentar e os forcem a migrar”, ressaltou Adoniram Peraci, coordenador sub-regional da FAO para a América Central.

 

 

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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