Após mais de uma década de retrocessos sob governos conservadores (Tories), a recente vitória do Partido Trabalhista (Labour) no Reino Unido marca um ponto de virada crucial na luta global contra a crise climática. Sir Keir Starmer, o novo primeiro-ministro, anunciou durante a campanha eleitoral sua ambição de transformar a Grã-Bretanha em líder do crescimento sustentável entre as economias do G7. Um dos passos mais significativos nessa direção é a criação da Great British Energy, uma empresa pública de energia limpa, anunciada na semana passada pelo rei Charles na abertura do novo parlamento.
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Já na primeira semana, o novo governo anunciou uma “revolução nos telhados”, com planos para equipar milhões de casas com painéis solares, visando reduzir as contas de energia doméstica e combater a crise climática. O secretário de energia, Ed Miliband, aprovou três grandes fazendas solares no leste da Inglaterra, anteriormente bloqueadas por ministros conservadores. Essas fazendas fornecerão o equivalente a dois terços da energia solar instalada em telhados e no solo em todo o ano passado.
Os conservadores, cada vez mais alinhados à direita do espectro político, frequentemente usavam a desculpa retórica do “pragmatismo” para postergar ações essenciais para a saúde do planeta. Um exemplo claro era o adiamento da proibição de novos carros a gasolina e diesel, que retomará seu planejamento inicial. Além disso, o total cancelamento de novas licenças para empresas de petróleo e gás é uma notícia a ser amplamente comemorada. Só isso já seria uma enorme mudança em relação ao governo anterior, que emitiu quase 50 novas licenças apenas no ano passado. Em outras palavras, o Reino Unido deixa de andar na contramão do clima e retoma o rumo, com potencial para se tornar um modelo global a ser seguido.
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Veja o que já enviamosComo um de seus primeiros atos na semana de estreia na pasta, Miliband suspendeu a proibição dos conservadores para a construção de novas fazendas de vento onshore (em terra). Estudos indicam que a utilização de menos de 3% do território da Inglaterra para a produção de energia eólica e solar em terra poderia gerar energia suficiente para abastecer mais do que o dobro de todos os lares ingleses. Miliband prometeu triplicar a quantidade de energia solar no Reino Unido até 2030, além de dobrar a energia eólica onshore e quadruplicar a energia eólica offshore, e não está perdendo tempo.
A Great British Energy, financiada por um imposto sobre os lucros extraordinários das gigantes de petróleo e gás, é parte central do plano de produzir eletricidade zero carbono até 2030. Mesmo com estas ações, recém anunciadas, os Trabalhistas não estão livres de críticas. Os “Amigos da Terra” (Friends of the Earth) e o Greenpeace analisaram os manifestos dos partidos, que são compromissos solenes com o eleitorado, pontuando-os de 1 a 10 em quesitos essenciais.
No quesito “clima e energia”, o Partido Conservador obteve uma vexaminosa pontuação de 1,5, demonstrando total falta de compromisso com os mecanismos políticos necessários. Segundo as duas ONGs, isso não os surpreende, uma vez que os planos climáticos anteriores dos Conservadores chegaram a ser considerados ilegais pelos tribunais após uma ação judicial de Friends of the Earth.
Já o Partido Trabalhista pontuou 6,5. Eles receberam crédito por políticas como a visão de um sistema de energia zero carbono até 2030, o fim de novas licenças de petróleo e gás, e o compromisso de reduzir as emissões em dois terços até 2030. Perderam pontos por reduzir pela metade o valor de sua promessa de investimento verde de £28 bilhões, priorizando as regras fiscais. No entanto, o financiamento privado deve suprir esse déficit, desempenhando um papel crucial sob o novo governo. À medida que o custo da crise climática aumenta, cresce também a necessidade de criar um ambiente político favorável e fomentar parcerias com o setor privado.
Na questão “natureza e meio ambiente”, o Partido Trabalhista pontuou apenas metade dos pontos disponíveis, principalmente devido à falta de políticas robustas nas áreas ambientais, agricultura e oceanos. Algumas garantias sobre a escala de plantio de árvores ajudam a aumentar a pontuação, mas a falta de compromisso em apoiar uma meta global vinculativa de redução da produção de plástico ou regras de diligência devida para empresas britânicas com cadeias de suprimentos internacionais decepcionou os Amigos da Terra.
Nesse quesito, a pontuação do Partido Conservador foi mais uma vez desastrosa (1,5/10). A conclusão é que os conservadores simplesmente não levam as questões ambientais de forma séria. A única medida foi a promessa de revogar permissões para incineradores, o que é insuficiente para compensar a ausência de políticas sérias em áreas cruciais, como derramamentos de esgoto, agricultura sustentável, plantio de árvores e proteção dos oceanos.
Já o Partido Verde pontuou 10/10 tanto no quesito “natureza e meio ambiente” como em “clima e energia”. Agora com quatro representantes no parlamento, pode ser que consigam aprovar algumas de suas propostas como a criação de um imposto sobre o carbono e a introdução de uma taxa para viajantes frequentes de modo a desencorajar viagens aéreas excessivas.
A ‘nova estratégia industrial’, declarada no manifesto trabalhista, inclui alocar financiamento para hidrogênio verde, captura de carbono e reconstrução da indústria siderúrgica, com a ambição de criar 650.000 empregos nesse setor até 2030. Segundo eles, a estratégia reflete o compromisso do partido de não deixar ‘nenhuma comunidade para trás’, sinalizando uma transição justa para uma economia descarbonizada. A capacitação e requalificação dos trabalhadores está no centro dessa política que planeja incentivar o investimento de longo prazo por meio do Plano de Prosperidade Verde, promovendo parcerias com empresas por meio de um Fundo Nacional de Riqueza.
Essas medidas fazem parte de uma abordagem governamental do Labour baseada em missões de longo prazo. Keir Starmer não fala em governo, mas em uma nova “era”. Uma era de desenvolvimento econômico sustentável, na qual ele deseja levar a Grã-Bretanha à liderança entre as economias do G7. Alinhado a essa visão, Ed Miliband, então secretário sombra para mudança climática e zero carbono, prometeu, em uma entrevista ao jornal “The Guardian”, colocar o clima no centro das políticas internas e ocupar um “vácuo de liderança” no cenário mundial.
“Não há um minuto a perder na busca pela energia limpa até 2030 e na luta pela ação climática. O mundo está fora de rota”, declarou Miliband na entrevista. Segundo ele, há uma crescente conscientização dentro do Partido Trabalhista sobre a escala da tarefa internacional do partido nos próximos anos. Ele considera que o clima está na linha de frente na batalha contra a direita populista em todo o mundo.