“Agora as pessoas pescam no lugar onde ficava meu vilarejo”, diz Nur Hussain, de 28 anos, natural de Kutubdia, ilha de Bangladesh, que pode desaparecer em 50 anos. Lá ainda vivem 100 mil pessoas, mas outros milhares já deixaram o lugar porque suas residências foram cobertas pela água. “Nós tínhamos mesquitas, escolas, mercados, casas. Tudo está submerso. É muito doloroso”, complela Nur. Ilhas como essas são foco de discussões na COP21, que entra nesta segunda-feira na semana decisiva em Paris, pois sua existência está ameaçada. Bangladesh, Filipinas, Myanmar e Haiti estão entre as 10 nações mais afetadas pelas mudanças do clima, diz o grupo Germanwatch.
Nur, como outros 40 mil habitantes de Kutubdia, se mudou para uma área favelizada próxima a Cox’s Bazaar, uma vila-resort a 80 quilômetros. Outros partiram para a capital, Daca. Mas há quem resista, como Hamida Begum. Ela já teve que deixar sua casa tantas vezes que perdeu as contas. “Eu tenho medo de que nossa casa seja destruída de vez. Durante as monções, não podemos viver aqui. Mas é nossa terra. Além disso, não tenho dinheiro para ir a outro lugar”.
Diversas ilhas de Bangladesh estão vulneráveis. O país é um dos que estão em mais baixa altitude e também é um dos mais pobres. “Há cerca de 39 milhões de pessoas vivendo na longa costa do país”, diz o secretário de Meio Ambiente Kamal Uddin Ahmed. “Se tivermos que mover essas pessoas para outras áreas, será uma tarefa difícil para nós”. A área de Kutubdia foi reduzida em um quarto nas últimas três décadas.
Em 2009, o governo criou um fundo para mudanças climáticas de 6% do orçamento total do país. Como esse dinheiro, são tomadas medidas para tentar amenizar os problemas. Uma série de barreiras foi erguida para proteger a terra de inundações e abrigos contra ciclone foram levantados para a população se proteger nas monções. Tudo isso transformou aquele pedaço de paraíso do Golfo de Bengala em uma área de guerra.
“Nós somos pessoas do mar. Tudo o que fazemos é ligado ao mar…Não temos outro lugar para ir”, diz Nur. Esta sensação de perder suas raízes é compartilhado por pequenas nações-ilhas, que também não têm opções para se realocar. O primeiro-ministro de Tuvalu, Enele Sopoaga, disse à AFP recentemente que a nação cogita comprar terras na Austrália ou na Nova Zelândia para alocar a população.
Outro local em risco de desaparecer em três décadas, Kiribati recebeu a solidariedade das Ilhas Fiji, que se ofereceu para receber todos os 100 mil habitantes do atol no Oceano Pacífico, caso não haja mais condições de sobreviver ali. Durante a COP21, o presidente de Kiribati, Anote Tong, ficou agradecido, mas pediu por um acordo na conferência. “O futuro das pessoas, homens, mulheres e crianças, culturas inteiras, comunidades, vilas, cidades e nações, está numa balança. Não podemos continuar indecisos”, ressaltou.
Alguns desses pesquenos países se juntaram a países maiores também vulneráveis às mudanças climáticas, como Bangladesh, para criar o V20, numa associação ao grupo dos mais poderosos, o G20. Uma das grandes batalhas da COP21 é qual o tamanho da ajuda financeira que os países ricos darão a esse grupo.