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Coluna | Cinco conteúdos de justiça climática para maratonar

ODS 10ODS 13 • Publicada em 11 de agosto de 2022 - 08:50 • Atualizada em 13 de agosto de 2022 - 21:28

Nas últimas semanas, uma nostalgia aguda tem me visitado. Já faz um ano que moro fora do Brasil e, nesse intervalo, não voltei “pra casa” nenhuma vez. Embora eu tenha uma personalidade bastante flexível e adaptável geograficamente, me sinto um tanto quanto inconsolável quando perco uma agenda presencial, especialmente quando acontecem no Rio de Janeiro, minha cidade. Em um mês, eu perdi várias programações relacionadas à agenda de justiça racial, reparação das desigualdades e justiça climática. Alegria e tristeza coexistiram, mas foi difícil administrar a saudade do que não pude viver.

Contudo, tenho boas notícias. O dia 9 de agosto foi um dia memorável para mim. Após uma longa caminhada de construção coletiva, finalmente nasceu o “Quem precisa de justiça climática no Brasil?”, livro que idealizei, coordenei a produção editorial e sonhei muito para que ele viesse ao mundo. Este é um estudo inédito baseado em narrativas de justiça climática a partir da visão de lideranças, em sua maioria mulheres, das cinco regiões do nosso país. O lançamento oficial – presencial – foi na tarde de ontem na Conferência Brasileira de Mudança Climática (CBMC), em Recife. Foi um pouco frustrante acompanhar pelo Youtube, mas a felicidade continuou pulsando mesmo de frente pra uma tela. O lugar estava lotado de mulheres – e alguns poucos homens – de diferentes gerações e cidades do Brasil. Mulheres negras, indígenas e brancas participando da discussão sobre justiça socioambiental no país. Novamente, é um paradoxo poder assistir tudo isso em vida, mesmo não estando presente.

Lançamento do livro “Quem precisa de justiça climática no Brasil?”, durante a na Conferência Brasileira de Mudança Climática em Recife (Foto: Pedro Andrade)
Lançamento do livro “Quem precisa de justiça climática no Brasil?”, durante a na Conferência Brasileira de Mudança Climática em Recife (Foto: Pedro Andrade)

Foi inspirada nessas experiências nostálgicas que listei uma seleção de conteúdos gratuitos, disponíveis e didáticos sobre justiça climática. Muita gente me pergunta “o que posso ler para sair do senso comum no tema?” ou “não sei absolutamente nada sobre o tema, por onde começar?”. Gosto de receber essas perguntas, pois recordo de mim mesma – há alguns anos – quando buscava por referências bibliográficas e não encontrava nada muito didático. Fico honrada em colaborar com a caminhada de conhecimento de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos que, de alguma forma, se sentem parte da solução pela justiça climática. Vamos às indicações:

QUEM PRECISA DE JUSTIÇA CLIMÁTICA NO BRASIL?

O estudo em formato de livro minuciosamente ilustrado acabou de sair do forno. Disponível em versão digital e impressa, ele conta com três capítulos principais. Idealizada por mim e construída coletivamente por integrantes do GT de Gênero e Clima, o Observatório do Clima, a publicação apresenta conceitos principais como justiça ambiental, justiça climática, racismo ambiental e interseccionalidade. Na contramão da teorização de experiências, o livro vai a fundo nos dados de desigualdade e em forma de narrativas para propor um novo conceito de justiça climática a partir dos desafios territoriais das cinco regiões do Brasil. Isso quer dizer que o centro da publicação é baseado em entrevistas em profundidade como metodologia, onde 16 lideranças dividiram suas experiências, problemas decorrentes da crise climática e o que vislumbraram como soluções baseadas em muito do que já viram, ouviram e vivenciaram. Além disso, o material também aborda temas como a falta de acesso à energia elétrica na Amazônia, soberania alimentar, migrações climáticas, litigância climática. Para quem gosta de histórias e iniciativas práticas, é um bom ponto de partida para entender os desafios climáticos do nosso país.

ANUÁRIO DE JUSTIÇA CLIMÁTICA

Lançado recentemente também pelo Um Só Planeta, o belíssimo editorial jornalístico traz um storytelling sobre como a proteção das populações mais afetadas pela mudança do clima entra na agenda dos líderes globais. Logo nas primeiras páginas, há um manifesto muito profundo com um trecho que diz: “Este tempo é agora. Por isso nos mobilizamos. Formamos uma aliança para produzir o jornalismo que combate a indiferença, encoraja e gera faísca que inspira. Estamos aqui para, ao seu lado, provocar uma real e transformadora mudança de padrões mentais e comportamentais em relação ao lugar que moramos. A nossa casa”. Dito isso, o anuário também apresenta uma infografia com os principais dados da injustiça climática em dimensão mundial, como índice global de risco climático, assim como a porcentagem das nações mais responsáveis pela crise climática. O material é estruturado em artigos de grandes nomes da agenda climática no Brasil, mas preciso alertar que todas são pessoas brancas, o que para mim é uma contradição grave. Os temas dos artigos, assinados por representantes da sociedade civil e do setor privado, variam entre justiça climática, adaptação, ética do debate, transição energética, entre outros temas. Minha parte preferida, sem dúvida, é a Liga da Justiça – que ilustrou vários e várias ativistas pelo clima no Brasil. Apesar da lacuna que mencionei anteriormente, o conteúdo traz muitas narrativas bem embasadas, além de um projeto gráfico com imagens impactantes.

PARA QUÊ JUSTIÇA CLIMÁTICA?

Lançado no mês de junho, o e-book “Para quê Justiça Climática?” é fruto de uma iniciativa do Grupo de Trabalho de Justiça Climática do The Climate Reality Project Brasil. Em suas vinte e uma páginas e cinco capítulos, ele vai direto ao ponto sobre o que significa a mudança climática e como se dá a construção histórica da justiça climática. Recomendo principalmente para professores e alunos do Ensino Fundamental e Médio, como um forte instrumento de educação climática pela linguagem e objetividade. É um conteúdo que eu, por exemplo, adoraria ter tido acesso quando estava estudando para o vestibular, pois sempre achei que os livros de geografia não davam conta das minhas inquietações sobre a complexidade ambiental do Brasil e do mundo.

JUSTIÇA CLIMÁTICA

Produzido pelo Instituto ClimaInfo, a apostila é parte de um projeto de cursos e é direcionada principalmente para o público de jornalistas. Escrita por mim, destaco três eixos: o desdobramento do movimento de justiça ambiental em justiça climática; o racismo ambiental e a conexão entre gênero e clima. Outro ponto de atenção que levanto no texto é que para que transformações na agenda do clima ocorram a longo prazo, é preciso que a consciência das desigualdades históricas se torne elo estruturante no poder decisório, com representatividade e participação. Como um diferencial, destaco a indicação de vinte porta-vozes de justiça climática no Brasil, cobrindo nomes em uma diversidade de gênero, raça, geração e regionalidades.

GLOSSÁRIO DE JUSTIÇA CLIMÁTICA

Disponível em português, inglês e espanhol, o glossário é uma iniciativa da Plataforma Latino-Americana e Caribe para a Justiça Climática (PLACJC). O documento ilustrado de forma muito minimalista e interessante, aliás, inicia com definições importantes para que comunidades compreendam a agenda climática. Entre os conceitos iniciais, destaco a própria crise climática, dívida ecológica, dívida climática, racismo climático, sul global/norte global e transição justa. Sem dúvidas, aprecio a sensibilidade desse conteúdo, pois muitas vezes usamos esses vocábulos enigmáticos como se já fizessem parte do nosso cotidiano, mas não. No capítulo “jargão climático”, eles apresentam as principais terminologias do debate global. O documento, que também é bem curto, finaliza com propostas de soluções dos povos. Vale destacar que, embora a argumentação do material seja um pouco genérica sem destrinchar em geografias específicas, é um ótimo panorama para quem se sente perdido ou deslocado no tema. No lançamento virtual, em junho, Tom Goldtooth, representante da Indigenous Environmental Network, destacou que “informação é poder e podemos quebrar o véu das mentiras que foram criadas pelas elites para fingir que as soluções são reais”.

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