Cobertura global de gelo marinho alcança baixa recorde

Relatório do Copernicus, serviço europeu sobre mudanças climáticas, aponta que temperaturas no Ártico ficaram 11 graus acima da média em fevereiro

Por #Colabora | ODS 13 • Publicada em 6 de março de 2025 - 13:00 • Atualizada em 6 de março de 2025 - 13:08

Gelo marinho no Ártico: cobertura combinada de gelo marinho das regiões polares caiu para uma extensão mínima recorde em fevereiro (Foto: Wikimedia Commons)

A cobertura combinada de gelo marinho da Antártida e do Ártico — águas do oceanos que congelam e flutuam na superfície — caiu para uma extensão mínima recorde de 16,04 milhões de quilômetros quadrados em 7 de fevereiro de 2025, de acordo com o Copernicus, serviço europeu de mudanças climáticas. Relatório divulgado nesta quinta (06/03) aponta que o mês passado foi o terceiro fevereiro mais quente já registrado, com o prosseguimento de uma série de aquecimento persistente desde 2023, alimentado por emissões de gases de efeito estufa.

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O comunicado do Copernicus lembra que os polos são as regiões mais sensíveis às mudanças climáticas no planeta, aquecendo várias vezes mais rápido do que a média global. A cobertura de gelo do Ártico, que normalmente se expande para seu máximo anual de inverno em março, atingiu uma baixa histórica em fevereiro, 8% abaixo da média, informou o relatório, destacando que este é o terceiro recorde mensal consecutivo.

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Na Antártica, onde agora é verão e o gelo está derretendo, a cobertura congelada estava 26% abaixo da média em fevereiro, segundo o Copernicus. A região da Antártica pode ter atingido seu ponto mais baixo anual no final do mês – o boletim acrescenta ainda que, se confirmado, esta seria a segunda menor cobertura mínima diária no registro de satélite. “Fevereiro de 2025 continua a sequência de temperaturas recordes ou quase recordes observadas nos últimos dois anos”, disse Samantha Burgess, geóloga e geoquímica marinha do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo, que administra o serviço.

Vice-diretora do Copernicus, ela alertou para o ritmo do aquecimento global. “Uma das consequências de um mundo mais quente é o derretimento do gelo marinho, e a cobertura recorde ou quase recorde de gelo marinho em ambos os polos empurrou a cobertura global de gelo marinho para um mínimo histórico”, afirmou Samantha Burgess em comunicado que acompanha o relatório.

A redução da cobertura de gelo não afeta os níveis do mar porque o gelo já está flutuando na água, mas seu recuo tem sérios impactos nos padrões climáticos, clima global, correntes oceânicas, pessoas e ecossistemas. Quando a neve e o gelo altamente refletivos dão lugar ao oceano azul escuro, a energia do sol que teria ricocheteado de volta para o espaço é absorvida pela água, aumentando a temperatura da água e desencadeando um ciclo de derretimento do gelo e mais aquecimento global.

O derretimento do gelo marinho no Ártico está abrindo novas rotas de navegação e atraindo atenção geopolítica – o presidente dos EUA, Donald Trump, já afirmou querer assumir o controle da Groenlândia, território autônomo dinamarquês. A perda de gelo polar é um perigo para um grande número de animais para os quais ele fornece abrigo, reprodução e áreas de caça, incluindo ursos polares, focas e, na Antártica, pinguins. “A atual extensão recorde de gelo marinho global revelada pela análise do Copernicus é uma preocupação séria, pois reflete grandes mudanças no Ártico e na Antártida”, disse o oceanógrafo Simon Josey em entrevista. De acordo com o pesquisador, as temperaturas quentes do oceano e da atmosfera “podem levar a uma falha extensa do gelo em crescer novamente” na Antártida durante o inverno do hemisfério sul.

Os oceanos armazenam 90% do excesso de calor retido na atmosfera pelos gases de efeito estufa, que são em grande parte causados pela atividade humana, incluindo a queima de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás. As temperaturas da superfície do mar foram excepcionalmente quentes em 2023 e 2024, e, de acordo com o Copernicus, as leituras em fevereiro foram as segundas mais altas já registradas para aquele mês.

Planeta cada vez mais quente

De acordo com o serviço europeu, globalmente, fevereiro foi 1,59 °C mais quente do que os tempos pré-industriais. Enquanto as temperaturas ficaram um pouco abaixo da média no mês passado em partes da América do Norte, Europa Oriental e grandes áreas do leste da Ásia, fevereiro foi bem mais quente do que a média no norte do Chile e Argentina, no oeste da Austrália, no sudoeste dos Estados Unidos e México.

As temperaturas foram particularmente elevadas ao norte do Círculo Polar Ártico em fevereiro, com média de 4 °C acima do período de referência de 1991-2020, apontou o relatório do Copernicus. Uma área perto do Polo Norte estava 11 °C mais quente do que a média ao longo do mês. O serviço Copernicus usa observações de satélite de regiões polares que remontam à década de 1970. Em todo o mundo, são bilhões de medições de satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas para auxiliar seus cálculos climáticos, com registros que remontam a 1940.

Cientistas climáticos esperavam que a onda de calor excepcional em todo o mundo diminuísse após o fim do fenômeno El Niño, que esquenta as águas dos oceanos e atingiuseu  pico em janeiro de 2024. As condições gradualmente mudaram para uma fase de resfriamento típica do fenômeno La Niña. Mas o ano passado foi o mais quente da história registrada; a Organização Meteorológica Mundial, agência da ONU, informou que a fase La Niña era “fraca” e provavelmente seria breve.

De acordo com o Copernicus, nos últimos 20 meses, apenas em julho de 2024 a temperatura ficou abaixo do limite de 1,5 °C de aquecimento, acima da média pré-industrial. Para os cientistas, isso indica que será quase impossível manter a promessa que os líderes mundiais fizeram no Acordo de Paris de 2015 de impedir que a temperatura média de longo prazo do planeta suba mais de 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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