Uma vida sem shampoo

Novas técnicas de lavagem dos cabelos prometem ser mais saudáveis e sustentáveis

Por Laura Antunes | ODS 12 • Publicada em 7 de agosto de 2016 - 08:36 • Atualizada em 8 de agosto de 2016 - 16:34

A técnica No Poo se propõe a abolir o shampoo. Em seu lugar entram condicionadores sem substâncias químicas
A técnica No Poo se propõe a abolir o shampoo. Em seu lugar entram condicionadores sem substâncias químicas
A técnica No Poo se propõe a abolir o shampoo. Em seu lugar entram condicionadores sem substâncias químicas

Já ouviu falar em “Low Poo” e “No Poo”? Se não faz ideia do que seja, em breve, você certamente, saberá. Afinal, são as abreviaturas para duas tendências que vêm ganhando força mundo afora e, literalmente, fazendo a cabeça de quem se preocupa com a saúde capilar e, de quebra, com o planeta. A técnica de lavar os cabelos, com toda aquela abundância de shampoo e condicionador, anda perdendo adeptos, que preferem agora libertar os fios de substâncias químicas – como sulfatos e petrolatos – presentes nesses produtos, que rendem milhões de dólares à indústria de beleza. Assim, uma corrente de consumidores declarou guerra a eles, que seriam nocivos à saúde das madeixas e, consequentemente, ao ambiente.

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É uma tendência bem recente. De menos de um ano para cá, no máximo. Eu diria que em torno de 4% das clientes já aderiram ao Low Poo. E são praticamente as jovens, na faixa dos 15 aos 25 anos, com os cabelos ainda virgens, sem a química da pintura.

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“Low Poo” (pouco shampoo) e “No Poo” (sem shampoo) vieram para mudar o ritual de lavagem, numa tendência que surgiu nos Estados Unidos e já desembarcou no Brasil. Sem os produtos clássicos para a limpeza dos fios, o novo processo reduz o tempo sob o chuveiro – já que a produção de espuma (por meio do Lauril Sulfato) é pouca ou nenhuma – o que resulta num menor consumo de água. Um banho de 15 minutos chega a consumir 135 litros de água. Porém, se o tempo gasto for de apenas cinco minutos, serão necessários cerca de 45 litros. Nada mal, não? Esses produtos já podem ser encontrados em perfumarias, lojas de cosméticos e até nas grandes redes de drogarias.

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Acostumado a cuidar dos cabelos de uma centena de clientes, o cabeleireiro Robson Gomes de Azeredo, da equipe de um grande salão carioca, conta, por exemplo, já ter comprovado essa economia de água. Segundo ele, algumas de suas clientes já chegam ao estabelecimento com os próprios produtos (livres de sulfatos e petrolatos) para a lavagem. Em geral, o processo (dependendo do comprimento dos fios) consome entre sete e dez litros, mas, pela falta de espuma, essa quantidade cai para cerca de cinco litros.

– É uma tendência bem recente. De menos de um ano para cá, no máximo. Eu diria que em torno de 4% das clientes já aderiram ao Low Poo. E são praticamente as jovens, na faixa dos 15 aos 25 anos, com os cabelos ainda virgens, sem a química da pintura. Esses fios aceitam melhor as menores quantidades de shampoo e condicionador. Já os tingidos, não respondem tão bem ao novo método porque continuam recebendo química, por meio da tintura – diz Robson.

Segundo os adeptos das novas técnicas, os sulfatos e petrolatos são compostos químicos presentes em todas as marcas de shampoo e condicionadores. Os primeiros produzem a espuma, o que dá a sensação de limpeza dos fios. No entanto, não são saudáveis ao couro cabeludo. Nos condicionadores, os vilões seriam os petrolatos – cuja função é dar a sensação de fios hidratados – mas igualmente danosos.

[g1_quote author_name=”Edson Micelli” author_description=”Dermatologista” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

Se a pele está íntegra, não há problemas. Mas, como o couro cabeludo tem grande concentração de glândulas sebáceas, no nosso clima, quente e úmido, essa produção de oleosidade aumenta. Portanto, não há como fazer uma higienização somente com água. É preciso usar substâncias que reduzam essa gordura que vai levar a oleosidade para o fio. É bom se informar bem sobre os produtos que serão usados nas duas técnicas.

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Os adeptos do Low Poo utilizam substâncias mais leves. A jovem atriz e jornalista Valentine Fontanella aderiu à técnica em outubro passado, por meio de um amigo, que já era adepto. Ela se diz satisfeita com os resultados.

– Ele sempre falava sobre isso no nosso grupo de amigos no WhatsApp. Eu via que o cabelo dele estava ficando ótimo e que usava produtos muito baratos, que chegavam a R$ 5,99. Fiquei interessada e pedi dicas para ele, que me ensinou a fazer co-wash (lavagem utilizando somente o condicionador). Depois, me deu uma lista enorme de vários produtos, de diferentes marcas, livres de petrolatos, silicones insolúveis e sulfato. Então, fui em frente – conta Valentine, que acabou influenciando algumas amigas a se interessassem pelo Low Poo.

Ainda segundo a atriz, elas agora fazem parte de um grupo de praticantes de Low e No Poo, no Facebook, no qual trocam dicas e experiências.

– Como o meu cabelo, hoje em dia, está descolorido, estou passando máscaras diferentes toda vez que lavo. Passo shampoo duas ou três vezes na semana. Às vezes, lavo só com as máscaras, sem o shampoo – acrescenta Valentina, que tem uma longa lista de produtos livres de sulfatos e petrolatos para usar.

Após quase dez meses de Low Poo, ela afirma que sentiu as mudanças nos fios desde as primeiras lavagens. Feliz por contribuir para um menor consumo de água, a moça não pretende abandonar o novo método de lavagem, mas ainda não sabe se vai migrar para o No Poo:

– Já pensei em adotar o No Poo. Não sei se um dia vou fazê-lo porque, sinceramente, tenho preguiça da fase de adaptação que é preciso fazer. Meu cabelo é muito oleoso. Então, nas primeiras semanas de Low Poo, ele ficava parecendo sujo. Depois, o couro cabeludo foi se acostumando e hoje em dia fica normal. Para começar o No Poo, eu teria de passar por essa adaptação novamente…

A técnica No Poo se propõe a abolir o shampoo. Em seu lugar entram condicionadores (sem qualquer dos produtos químicos). Porém, antes de praticar, é melhor consultar um dermatologista sobre os melhores produtos e, assim, evitar o risco de bactérias e fungos no cabelo.

A secretária carioca Maria Cláudia Carvalho está prestes a entrar para o time crescente de adeptos do Low Poo. E, quem sabe, futuramente, migrar para o No Poo.

– Tenho me informado a respeito e estou tentada a experimentar. Quero aproveitar enquanto não pinto os cabelos porque, depois, acho que não responderão tão bem. Além disso, vou me sentir bem em consumir menos água na lavagem. É uma questão de sustentabilidade. Quero fazer a minha parte – completa a moça.

O dermatologista Edson Micelli é cuidadoso ao comentar sobre as duas técnicas. De acordo com ele, se o paciente não apresentar qualquer tipo de dermatite (inflamação ou irritação) ou dermatose (doenças dermatológicas) no couro cabeludo, ele não vê problemas na prática do Low Poo. Ele faz restrições, no entanto, ao No Poo.

– Se a pele está íntegra, não há problemas.  Mas, como o couro cabeludo tem grande concentração de glândulas sebáceas, no nosso clima, quente e úmido, essa produção de oleosidade aumenta. Portanto, não há como fazer uma higienização somente com água. É preciso usar substâncias que reduzam essa gordura que vai levar a oleosidade para o fio. É bom se informar bem sobre os produtos que serão usados nas duas técnicas – completa.

Laura Antunes

Depois de duas décadas dedicadas à cobertura da vida cotidiana do Rio de Janeiro, a jornalista Laura Antunes não esconde sua preferência pelos temas de comportamento e mobilidade urbana. Ela circula pela cidade sempre com o olhar atento em busca de curiosidades, novas tendências e personagens interessantes. Laura é formada pela UFRJ.

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