Um dos setores mais afetados pela pandemia do covid-19, o turismo brasileiro poderá ter mais dificuldades em se recuperar da crise pela falta de investimento no segmento LGBTI+. Recentes declarações homotransfóbicas do presidente da Embratur, Gilson Machado, confirmam que dificilmente o turismo LGBTI+ terá qualquer ação de incentivo por parte dos órgãos governamentais.
Com essa postura, o Brasil perde uma grande oportunidade. Os viajantes LGBTI+ movimentaram U$ 218,7 bilhões em 2018 no mundo e U$ 26,8 bilhões no Brasil, segundo dados da pesquisa LGBT Travel Market, promovida anualmente pela Consultoria Out Now/WTM. Uma pesquisa divulgada durante o Fórum de Turismo LGBT, em 2016, traçou o perfil desse turista: realizam, em média, quatro viagens por ano; 45% viajam ao exterior todos os anos (a média nacional é de 9%), e seus gastos são 30% maiores em relação a outros viajantes. Só a Parada do Orgulho LGBTI+ atrai 3 milhões de visitantes para São Paulo, movimentando R$ 190 milhões.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]
Pesquisa do Harris Poll revela que 64% dos LGBTs pretendem viajar tão logo os protocolos de segurança sejam estabelecidos, contra 58% dos outros turistas.
[/g1_quote]Apesar dos números, para o governo brasileiro, esse turista não é bem-vindo. Em abril de 2019 o presidente Jair Bolsonaro afirmou que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”. Além de estimular o turismo sexual, a fala do presidente demonstra que o atual governo não terá interesse em divulgar o país como um destino LGBT friendly.
A escolha do atual presidente da Embratur, órgão responsável pela promoção do turismo brasileiro, confirma essa linha de pensamento. Em recente live ao lado da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, Gilson Machado revelou todo seu preconceito e desconhecimento do tema. Em uma parte chocante de sua fala, chegou a dizer que não tem nada contra “quem usa seu orifício rugoso infra lombar para fazer sexo”, mas que acha “abominável” a “tentativa de impor a sua sexualidade perante a maioria de cristãos brasileiros”.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosDepois da pandemia, 64% dos LGBTI+ querem viajar
Apesar de não citar o turismo em sua declaração, fica claro que, em sua gestão, não deverá haver qualquer incentivo para esse segmento. Isso se comprova pelo fato de o ministério e a Embratur terem abandonado o turismo LGBTI+, retirando-o do plano nacional do setor e não reeditando a cartilha “Dicas para atender bem o turista LGBT”. Além disso, não cumprem o acordo de cooperação assinado entre a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, Mtur e Embratur, com validade até junho de 2023, que visa à promoção do turismo LGBTI+ dentro e fora do país.
Esse posicionamento levará o Brasil a desprezar um público importante para a retomada do turismo no pós-pandemia. Pesquisa do Harris Poll revela que 64% dos LGBTs pretendem viajar tão logo os protocolos de segurança sejam estabelecidos, contra 58% dos outros turistas. Ao se posicionar de forma direta contra a comunidade LGBTI+, o presidente da Embratur faz grave ataque aos direitos universais, não colabora para a criação de empregos, em um período que o turismo pode contribuir para a saída da crise causada pela pandemia, e mina as relações internacionais brasileiras com países que valorizam a democracia e o fim do preconceito.
Vale ressaltar que países como Israel, Espanha, França, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Grã-Bretanha, Argentina e Uruguai, entre tantos outros, realizam investimentos constantes no Turismo LGBTI+ como forma de aquecimento dos negócios, bem como afirmação e respeito à cidadania. Ao se posicionar de forma contrária, o Brasil perderá mercado frente tantos destinos.
E muitas vezes a gente acaba sendo mais generoso, na hora de utilizar os serviços, chamados de Equipamentos de Turismo! Numa ocasião, ida a Goiania, o motorista sugeriu me levar a Brasilia. Noutra vez, no Nordeste, foram os passeios comigo, que ajudou o taxista a comprar um celular melhor! E além disso de a gente acabar voltando, pela amizade, mais entrosamento (especialmente intimidades), indo além do cliente e prestador de serviço!