Primeiro sábado de inverno e o céu quase todo azul sobre o Centro – histórico – do Rio de Janeiro, muitas vezes deserto. Mas não hoje quando programas tradicionais e novos se encontram na cidade.
Na Praça Tiradentes, tem uma pequena aglomeração em torno dos guias que, às vésperas do Dia do Orgulho, promovem um passeio por lugares de memória e resistência da comunidade LGBTQIAP+ no Centro do Rio. Turismo a pé já faz parte das tradições da cidade, principalmente em sua parte mais antiga. Neste mesmo sábado, há pelo menos outros dois roteiros – um de lugares com fama de mal assombrados, outro por livrarias. O Rolé LGBTQIAP+, organizado pelo projeto Rolé Carioca, passou pelos teatros Rival e João Caetano, pelos cinemas Íris e Rex, lembrou os cabarés Casanova e da Jacke, falou de Madame Satã e dos grupos Dzi Croquetes e Eloína e os Leopardos.
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No sábado de manhã, também já estão montadas as barracas de duas feiras: a Feira de Antiguidades, na Praça XV, e a Feira Rio Antigo (com poucas antiguidades) na Rua do Lavradio. A feira do Lavradio era uma vez por mês – voltou semanal na reabertura pós-pandemia, para evitar aglomerações. Não adiantou: a feira é um sucesso, tem movimento todos os sábados. Neste, teve até a voz poderosa de Nana Kozak, na Praça Emilinha Borba no projeto MPB na Feira.
Nem todo o sábado é assim, mas podia ser. Dá para emendar a outra feira, a de Antiguidades, com o lançamento do livro do professor Luiz Antonio Simas – o carioquíssimo ‘Crônicas exusíacas & estilhaços pelintras’ – no renovado Al-Farabi, mistura de sebo, bar e ponto cultural que não sobreviveu à pandemia na Rua do Rosário, mas está sendo reinaugurado na Rua do Mercado, com mesas para as duas saídas do estabelecimento – a outra é na Orla Conde. Ali, ao lado do Rio Minho, Simas dá autógrafos enquanto, naturalmente, rola um sábado.
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Veja o que já enviamosSó um sábado é assim com Moacyr Luz e os bambas do Samba do Trabalhador dando show no Amarelinho, em nova fase depois da aquisição por Antonio Rodrigues – dono da rede Belmonte. Um sábado por mês, Moa e seus parceiros levam o samba ali um sábado por mês: o Samba do Trabalhador e o Amarelinho ocupam espaço maior na Cinelândia, o bar lota, estabelecimento do lado também. A Cinelândia precisa de vida, mais vida, e não apenas no fim de semana.
Nem todo sábado é assim, com gente na rua por todo o Centro, mas devia ser. E, neste sábado, enquanto os trabalhadores de Moa dão expediente na Cinelândia, a Feira das Yabás – tradicional evento gastronômico e cultural das tias do samba em Madureira – está montada na frente da Igreja da Candelária, com palco montado pelo CCBB para que Marquinhos de Oswaldo Cruz, patrono dessa festa, leve seu samba de primeira.
Quem tem fôlego vai acabar a noite naquele trecho da Lapa, entre o Beco do Rato, quase na Glória, e o Vaca Atolada, na Gomes Freire, uma região onde, no sábado, a noite acaba quase de manhã.
Nem todo sábado é assim, mas todo carioca tem que trabalhar para que seja. O Centro – histórico – do Rio precisa de mais atrações, mais vida cultural, mais bares abertos e, sim, muito mais gente morando e vivendo nesta área que tem o privilégio de guardar a memória da antiga capital da colônia, do império e da república.