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Reviver a esperança nos casarões históricos do Centro do Rio

Iniciativa carioca leva à ocupação, por projetos culturais, de mais de 40 espaços abandonados

ODS 11ODS 12 • Publicada em 14 de janeiro de 2025 - 09:51 • Atualizada em 14 de janeiro de 2025 - 10:03

Eu cheguei à Casa do Pandeiro em outubro, atraído por uma oficina sobre história do samba, conduzido pelo músico e pesquisador Luiz Felipe de Lima, e descobri que o espaço – na Travessa do Ouvidor, no coração do centro histórico do Rio – abrigava muitas outras atividades: cursos de instrumentos de percussão (pandeiro à frente naturalmente), workshops, encontros musicais. E fazia parte do Reviver Centro Cultural, iniciativa da Prefeitura do Rio para movimentar a região histórica, coração do Rio de Janeiro, nos tempos de capital da colônia, do Império e da República, esvaziada, primeiro, pela transferência da capital para Brasília, pela valorização da Zona Sul como polo residencial e comercial e, nesta década, pelo impacto da pandemia.

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Apesar de apaixonado pelo Centro, este carioca não tinha percebido o impacto do Reviver Cultural: não ligou a iniciativa a abertura do Iboru – o “Centro de pesquisa avançada do novo samba onde couro come”, espaço aberto pelo cantor e compositor Marcelo D2 na Sete de Setembro, nem a Casa Tucum, uma loja de artesanato indígena e galeria de arte dos povos originários que já vinha atraindo turistas nos fins de semana à Rua do Rosário. Na verdade, esses dois projetos eram provavelmente aqueles com mais visibilidade, mas o Reviver vinha fazendo renascer outros espaços no Centro do Rio desde o começo de 2024.

Exposição inspirada em temas carnavalescos na Casa do Carnaval: Reviver incentiva projetos culturais em imóveis antes abandonados (Foto: Oscar Valporto)
Exposição inspirada em temas carnavalescos na Casa do Carnaval: Reviver incentiva projetos culturais em imóveis antes abandonados (Foto: Oscar Valporto)

O objetivo do projeto da Prefeitura do Rio é ocupar imóveis abandonados – muitos casarões e sobrados quase centenários -numa área delimitada pelas avenida Presidente Vargas e a Praça XV, incluindo as avenidas Rio Branco e Primeiro de Março e parte da Orla Conde e também tranversais ruas tradicionais, hoje apenas para pedestres, como Ouvidor, Rosário, Mercado, Alfândega. O município garante financiamentos aos projetos que podem chegar a até R$ 192 mil (R$ 1 mil por metro quadrado) para a reforma dos espaços, além de R$ 14 mil (R$ 75 por metro quadrado) de auxílio para despesas mensais como aluguel, água e luz. O programa Reviver Centro Cultural recebeu, inicialmente, a inscrição de 39 imóveis, com proprietários dispostos a alugar, e de 132 projetos culturais, interessados em ocupar espaço: 43 foram aprovados pela Prefeitura.

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Desde outubro, além de passar a frequentar a Casa do Pandeiro (comprometido com a difícil missão de aprender a tocar), venho descobrindo os poucos mais de 20 projetos do Reviver Cultural que já estão em funcionamento. Na mesma Travessa do Ouvidor, foi inaugurada a Academia Brasileira de Artes Carnavalescas, criada para discutir a folia, formar e aperfeiçoar mão de obra, através de cursos, workshops e oficinas, e funcionar como centro de memória para difusão da cultura do carnaval carioca. A festa popular também inspira a Casa Carnaval, também dedicado à celebração dos carnavais e suas manifestações culturais: inaugurada em dezembro, a exposição de abertura traz trabalhos do escultor Humberto de Castro com figuras do Carnaval em arames.

A Casa Tucum, de artesanato, moda e artes indígenas: projetos do Reviver movimentam Centro do Rio (Foto: Oscar Valporto)

Nos últimos dias de dezembro, foi aberto o Museu da Caricatura Brasileira, na Rua Primeiro de Março – o casarão de três andares abriga exposições permanentes de caricaturistas desde o começo do século 20, além de mostras de trabalhos de artistas contemporâneos. O museu faz companhia para dois outros espaços dedicados a artes visuais: o Centro Carioca de Fotografia, já em funcionamento na Travessa do Comércio, no Arco do Teles, com o objetivo de fomentar e preservar a memória visual do Rio de Janeiro; e o Museu do Grafitti, que deve abrir as portas agora em 2025, na Primeiro de Março. A Travessa do Comércio também abriga o QueeRioca, o Centro Cultural de Referência de Arte e Cultura Queer, voltado para manifestações culturais e artística de toda a comunidade LGBTQIA+.

Centro Carioca de Fotografia, no Arco do Telles: projetos culturais variados no Reviver Centro (Foto: Oscar Valporto)

Também já estão funcionando, através do incentivo do Reviver, as galerias de arte Refresco, Meta Gallery, Abapirá, e Arrecife e os espaços culturais Volta ao Mundo, Junta Local e Amarathi e até a escola de dança Emex, o Rio Café Comedy Club (com shows de comediantes stand-up) e a oficina de tricô, crochê e outras costuras Nah Linha. E ainda neste primeiros meses de 2025 estão previstas as inaugurações de um espaço cultural dedicado ao forró e um museu do café.

Essa multiplicação de atividades culturais anima os frequentadores do Centro e o comércio local, atrai turistas e visitantes de outras partes da cidade e movimenta uma parte da cidade que tinha perdido o vigor – para alegria também de proprietários dos imóveis e de todo o setor. O coração carioca se enche de expectativa e esperança, mas também sabe que sempre é preciso desconfiar. Os próximos dois anos – a maioria dos contratos tem duração de 30 meses – são garantidos pelos subsídios iniciais da Prefeitura do Rio. O Reviver Centro, para ser sustentável, deve contar com o compromisso permanente das autoridades municipais, do setor imobiliário, dos empreendedores e da população.

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