Ponto de vista

Toda janela é tela de TV. Entretenimento. A vida, porém, insiste. Quer mais vida. Persevera. Rotinas, gestos, sons fazem com que um dia jamais seja igual ao outro. Foto Custódio Coimbra

Em tempos de pandemia, as janelas ganham ares de moldura e nos ensinam a arte de viver e de reaprender a existir

Por Custodio Coimbra | ODS 11 • Publicada em 25 de dezembro de 2020 - 09:59 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2021 - 16:36

Toda janela é tela de TV. Entretenimento. A vida, porém, insiste. Quer mais vida. Persevera. Rotinas, gestos, sons fazem com que um dia jamais seja igual ao outro. Foto Custódio Coimbra

Texto de Cristina Chacel (*) – A vida entra por janelas, varandas, fendas e frestas. O sol e a brisa chegam de fora para iluminar e arejar o tempo sombrio, inesperado, demolidor das velhas certezas, em que é imperativo reaprender a existir. Tudo é experiência. Amanhece, entardece, anoitece, acontece.

O tempo passa no olho de cada qual. De uma sacada o simbólico justapõe-se ao real, revelando as forças que movem a grande cidade. A mansão da escola estrangeira, o palácio da Prefeitura e a Favela Santa Marta são um tripé eloquente de um modelo desigual e injusto.

Toda janela é tela de TV. Entretenimento. Pactuados nas camadas virtuais, confinados batem panelas de indignação com o descaso à vida humana. A vida, porém, insiste. Quer mais vida. Persevera. Rotinas, gestos, sons fazem com que um dia jamais seja igual ao outro.

A gente trancafiada busca explicações. Na disputa com a acumulação, o consumo, a coisificação e a falta como motor da engrenagem, a vida ganha, salvo em currais manipulados pela pior política. Na busca por ela, vida, vasculho centelhas de alegria, atrás da porta, debaixo da máquina de lavar, naquele canto em que repousa um velho vaso com terra adubada esquecido no fundo dos fundos do último ralo da casa.

A vida que pulsa só existe hoje. Amanhã é imaginação.

(*) Cristina Chacel escreveu este texto durante à pandemia de covid-19, enquanto seguia na luta corajosa contra um câncer. Ela nos deixou no dia 28 de julho.

 

Custodio Coimbra

Fotógrafo de imprensa há 36 anos, Custodio Coimbra, 61 anos, passou pelos principais jornais do Rio e há 25 anos trabalha no jornal O Globo. Nascido no Rio de Janeiro, é hoje um artista requisitado entre colecionadores do mercado de fotografia de arte. Além de fotos divulgadas em jornais e revistas mundo afora, participou de dezenas de mostras coletivas no Brasil e no exterior. Tem sua obra identificada com a história e a paisagem do Rio de Janeiro.

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