(Por Simon Thuault*) – Desde a expedição de Napoleão ao Egito (1798-1801), o interesse ocidental pelo país – especialmente por sua história ancestral – nunca diminuiu. Há evidências recentes: a mostra “Osiris: os mistérios submersos do Egito” (Osiris: Egypt’s Sunken mysteries) levou mais de 200 mil visitantes ao Instituto do Mundo Árabe, em Paris. A apresentação, pelo Museu Britânico, de oito múmias de sua coleção – “Vidas ancestrais, novas descobertas”- atraiu multidão equivalente em 2014 e 2015. Enquanto isso, o Metropolitan Museum, de Nova York, lançou a primeira grande mostra cobrindo o Reino Médio (2100 a.C. – 1580 a.C.) – “Ancient Egypt Transformed: The Middle Kingdom”.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A preocupante situação econômica do país, o crescimento do fundamentalismo religioso e as disputas políticas criam uma atmosfera de ansiedade que os egípcios esperam ver diminuir quando os prestigiosos projetos estiverem prontos.
[/g1_quote]Mas, no Egito, a história é inteiramente diversa. Apesar de sua excepcional herança cultural, o país encontra enormes dificuldades para atrair visitantes desde a revolução de 2011 que derrubou o ditador Hosni Mubarak, num dos pontos altos da Primavera Árabe. Em grande parte, a culpa cabe a uma série de ataques terroristas, incluindo a explosão de uma bomba que derrubou um jato russo sobre o Deserto do Sinai, matando 224 pessoas, em novembro. Ministérios do Exterior de vários países ocidentais desestimulam a visita de seus cidadãos a partes do território egípcio.
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Veja o que já enviamosNuma tentativa de reviver a crucial indústria do turismo, o governo do Cairo lançou uma série de projetos sensacionais. A iniciativa mais badalada é o pouco ortodoxo estudo do túmulo do faraó Tutankamon (King Tutankhamun’s tomb), no Vale dos Reis. As análises levaram o ministro das Antiguidades, Mamdouh Eldamaty, a garantir estar “90% certo” de que há câmaras escondidas, relançando fantasias sobre o túmulo do jovem rei, descoberto em 1922 por Howard Carter.
Essa paixão pelo Egito, às vezes muito próxima do misticismo, é ilustrada pela excitação gerada pelo projeto ScanPyramids. Através do escaneamento em alta definição de várias pirâmides (Quéops e Quéfren, na Necrópole de Gizé, e a Pirâmide Curvada, no complexo de Dahshur), pretende-se descobrir câmaras desconhecidas, ou entender, finalmente, como esses gigantes de pedra foram construídos.
Outros projetos em larga escala estão em andamento, com o objetivo de permitir ao Egito exibir suas riquezas arqueológicas. No Cairo, dois museus ultramodernos abrirão suas portas em breve: o há muito esperado Grande Museu Egípcio (long-delayed Grand Egyptian Museum) e o Museu Nacional da Civilização Egípcia (National Museum of Egyptian Civilisation). Juntos, oferecerão 150 mil metros quadrados, abrigando perto de 200 mil objetos sob condições ótimas, e dispondo de salas de conferência e teatros.
O governo também anunciou recentemente que recomeçará a construção do Museu Submerso de Alexandria (Alexandria Underwater Museum). Quando estiver pronto, permitirá aos visitantes observar as ruínas submersas da cidadela de Quait Bey e seu farol, o Pharos.
A exemplo de outros países durante a Primavera Árabe, a herança cultural do Egito sofreu na esteira caótica da revolução de 2011. Nesse período, mais de mil itens foram roubados do Museu Mallawi e também ocorreram escavações ilegais. Mas esses incidentes foram limitados e a maioria dos egípcios estava consciente da necessidade de proteger a herança arqueológica do país.
Um dos mais impressionantes exemplos foi um grupo de cidadãos anônimos formar uma corrente em torno do Museu do Cairo para protegê-lo dos saqueadores. Mais recentemente, livros sobre a história milenar do país voltaram a ser publicados. A intenção é encorajar as pessoas a se interessarem pela rica história do país.
Os projetos em execução e seu impacto na vida dos egípcios estão despertando enorme interesse, criando esperança, mas também suspeitas. A preocupante situação econômica do país, o crescimento do fundamentalismo religioso e as disputas políticas criam uma atmosfera de ansiedade que os egípcios esperam ver diminuir quando os prestigiosos projetos estiverem prontos – mesmo em meio a uma certa desconfiança sobre seu custo.
*Simon Thuault é egiptólogo da Universidade Paul Valéry, Montpellier III
Artigo original em https://theconversation.com/egypt-hopes-to-lure-back-wary-tourists-with-3d-scanned-pyramids-and-an-underwater-museum-53711
(Tradução: Trajano de Moraes)