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O projeto foi idealizado no campus do IFSC em Gaspar em 2014 e desde então já atendeu mais de 600 imigrantes, sendo 95% haitianos. Neste ano, são 270 alunos matriculados, divididos em nove turmas, nas cidades de Blumenau, Gaspar e Pomerode. As inscrições para o curso são lançadas por meio de edital, que é divulgado na comunidade. Quando há mais inscritos do que a quantidade de vagas, é feito um sorteio. Quando há vagas remanescentes, elas vão sendo preenchidas por ordem de chegada. Em dois anos de curso, os participantes aprendem o português, conhecem um pouco da cultura brasileira e recebem qualificação profissional, com orientações sobre legislação trabalhista e o sistema público de saúde. O projeto ganhou o Prêmio ODS SC 2019 na categoria instituição de ensino. A entrega da premiação ocorreu durante o Fórum Brasil ODS, no fim de junho, em Florianópolis.
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Além das aulas para imigrantes, o projeto também tem uma frente de trabalho junto às redes assistenciais e escolas dos municípios para capacitação de servidores públicos, com o objetivo de qualificar o atendimento e acolhimento. “A inclusão social dos imigrantes, que já constituem 1500 núcleos familiares nas três cidades onde o projeto atua, é necessária para combater o aumento da desigualdade social na região, que é muito atrativa para estrangeiros. Com o curso, a condição de empregabilidade para eles aumenta”, afirma Ana Paula Kuczmynda da Silveira, diretora geral do IFSC – campus Gaspar. “A inserção social é perceptível. A maioria deles está empregada, com filhos, com a vida resolvida”, complementa Rita de Cássia da Silveira Cordeiro, professora do curso desde o início do projeto.
A vinda de haitianos para o Brasil aumentou significativamente a partir do terremoto no Haiti em 2010, ao qual se seguiu uma epidemia de cólera e uma guerra civil. Ana Paula credita a preferência pelo Brasil, dentre outros países latino-americanos, devido à missão diplomática que foi realizada no Haiti e à condição de país emergente. Genevieve conta que escolheu o Brasil por ser um país receptivo e que Blumenau, onde mora e trabalha atualmente, é parecida com a cidade haitiana onde vivia, “tranquila e com pessoas gentis”. A enfermeira veio para cá depois de ficar um mês em São Paulo sem conseguir emprego. Procurando informações na internet, Genevieve descobriu a Associação Brahaitianos Unidos (ABHU), fundada em Blumenau em junho de 2015 por dois haitianos, que hoje são professores do curso.
Webster Fievre, 29 anos, e Adelson Augustim, 32, respectivamente presidente e vice-presidente da associação, estão no Brasil há quase seis anos. Adelson veio ao Brasil por curiosidade. Tinha amigos aqui, gostou, ficou. Já trabalhava como professor de idiomas no Haiti, onde tinha uma vida equilibrada, então continuou sua profissão aqui. Além de francês e crioulo, que são as línguas oficiais do país caribenho, ele fala inglês e português. Webster morava e estudava na República Dominicana e passou por alguns países antes de chegar ao Brasil. Falar espanhol facilitou a adaptação. Além desse e das línguas nativas, fala inglês, português, italiano e alemão, o que lhe proporcionou trabalhar como professor em escolas de idiomas de Blumenau. Hoje, atua como professor no curso do IFSC e também como programador.
Por serem haitianos, os dois entendem a importância de aprender o idioma quando o imigrante chega ao país. “Sem falar português, a pessoa não consegue fazer nada, pois não se comunica”, comenta Webster. Adelson afirma que cerca de 70% dos alunos do curso conseguem emprego e tem a possibilidade de continuar a estudar, como é o caso de Genevieve e de mais alunos que estão matriculados em cursos de nível técnico ou superior no IFSC ou em outras instituições de ensino.
O projeto surgiu a partir da demanda de uma grande empresa em Blumenau que recebia muitos haitianos para trabalhar, mas a comunicação era inviável. Ana Paula conta que, a partir de então, outras empresas começaram a entrar em contato e surgiram demandas tanto dos haitianos quanto das redes assistenciais públicas. O projeto possui parcerias com prefeituras e entidades como Cáritas Diocesana de Blumenau, Fundação Pró-família e a ABHU. Dos professores, alguns são do quadro do IFSC, alguns são pagos pela Cáritas e outros são voluntários (caso dos três citados nesta reportagem).
Nenhuma empresa patrocina o projeto, que recebe somente a bolsa de auxílio compulsório paga pelo governo federal para quem entra no país por refúgio ou imigração humanitária. Cada matriculado recebe uma bolsa de R$ 120,00 por módulo de curso (são quatro ao total) para pagar o transporte até o local das aulas. Felizmente, como diz Rita de Cássia, essa bolsa não é afetada pelos cortes de verbas para instituições de ensino superior federais.
A perspectiva é continuar o projeto até que todos os haitianos e migrantes de outros países estejam adaptados e inseridos na sociedade, afirma Webster. O Instituto Federal Catarinense (IFC) também tem um projeto de extensão com o mesmo foco, denominado “Português como língua de acolhimento para imigrantes haitianos”. Rita de Cássia, que é professora concursada no IFC, diz que a intenção para 2020 é fazer um convênio entre as duas instituições para ampliar o alcance dos cursos.
Desde o início, o Projeto de Acolhimento e Qualificação Profissional de Imigrantes já gerou cinco projetos de pesquisa, envolveu 12 bolsistas e oito alunos pesquisadores e motivou o desenvolvimento de um aplicativo para auxiliar os imigrantes recém-chegados a encontrar serviços das redes assistenciais e a se ambientar na cidade. Com projetos de responsabilidade social como esse, as condições e estruturas para receber imigrantes, entre eles a mãe de Genevieve, que planeja vir para cá no futuro, tendem a melhorar e aumentar a qualidade de vida deles no Brasil.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]64/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil
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