Cerrado pode perder mais de mil espécies de plantas

Avanço das plantações de soja e cana de açúcar são as principais causas da destruição

Por Roberta Jansen | FlorestasODS 13ODS 14 • Publicada em 24 de março de 2017 - 10:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 15:52

Aplicação de herbicida numa plantação de soja no Cerrado. Foto de Yasuyoshi Chiba/AFP
Aplicação de herbicida numa plantação de soja no Cerrado. Foto de Yasuyoshi Chiba/AFP
Aplicação de herbicida numa plantação de soja no Cerrado. Foto de Yasuyoshi Chiba/AFP

Se o desmatamento no Cerrado continuar no ritmo atual, pelo menos 1140 espécies de plantas poderão ser extintas nos próximos 30 anos – um número oito vezes superior ao de todas as espécies de plantas dadas como extintas desde 1.500, em todo o mundo. A catastrófica previsão faz parte de um estudo internacional coordenado por pesquisadores brasileiros e publicado na “Nature Ecology and Evolution”.

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Trata-se de um bioma riquíssimo em termos de espécies que só existem nele. No entanto, já perdeu metade de sua área e pode perder ainda mais

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O Cerrado já perdeu praticamente a metade de sua área (de 202 milhões de hectares restam 100 milhões), mas ainda reúne 4.600 espécies de plantas endêmicas, ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do planeta. No ritmo atual, deve perder mais um terço de seu tamanho até 2050, causando o desaparecimento das plantas. Isso ocorre por conta da baixa proteção formal – menos de 10% do Cerrado é coberto por Unidades de Conservação – e de sua alta aptidão agrícola.

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“Trata-se de um bioma riquíssimo em termos de espécies que só existem nele”, explica o coordenador do Centro de Ciências para a Conservação e Sustentabilidade da PUC, Bernardo Strassburg, responsável pelo estudo. “Por outro lado, já perdeu metade de sua área e pode perder ainda mais. Essa perda somada ao endemismo muito alto de espécies é que nos leva à projeção da maior extinção de plantas já registrada. São números realmente assustadores”.

Para piorar o quadro, já existe uma projeção segundo a qual os plantios de cana de açúcar e soja na região devem se expandir nas próximas décadas, ocupando 15,5 milhões de hectares a mais do que ocupam hoje. Tal avanço em áreas virgens do Cerrado poderia ser fatal para o bioma.

Turistas fazem fotos na Chapada dos Guimarães, uma regiões mais visitadas do Cerrado. Foto de Yasuyoshi Chiba/AFP

Além de ser fundamental para a preservação dos recursos hídricos do país, o Cerrado tem uma importância crucial para as metas nacionais e internacionais de combate às mudanças climáticas: o desmatamento projetado levaria à emissão de 8,5 bilhões de toneladas de CO2 – mais que o dobro do que o Brasil deixou de emitir no período de grande queda do desmatamento da Amazônia, entre 2005 e 2013.

O grupo de Strassburg, no entanto, não se limitou a detectar o problema. Estudando mais a fundo a região, os cientistas conseguiram oferecer uma solução que preserva o Cerrado e, ao mesmo tempo, é atraente para o agronegócio. “Cerca de 80% da área já desmatada do Cerrado é formada por pastagens”, afirma o pesquisador. “E trata-se de uma pecuária de baixa produtividade: apenas um animal por hectare”. A ideia dos cientistas é usar parte desta área justamente para a eventual expansão do plantio de soja e cana.

Como já existem muitos movimentos internacionais e o comprometimento de algumas das maiores indústrias do mundo de não aceitar mais a compra de produtos oriundos de áreas desmatadas, Strassburg acredita que a proposta pode funcionar. Um movimento semelhante brecou a expansão do plantio de soja em áreas virgens da Amazônia. Hoje, o ritmo do desmatamento do Cerrado é 2,5 vezes superior ao da Amazônia.

“Não é preciso reinventar a roda, as políticas necessárias já existem e foram usadas com sucesso na Amazônia, em um passado recente”, afirmou. “Há espaço suficiente para conciliar o aumento da produção agrícola e a conservação e restauração do que sobrou do Cerrado. Não é simples, mas com um esforço concentrado dos atores públicos e privados envolvidos, e a pressão adequada da sociedade, o Brasil pode transformar um gigantesco desastre em uma grande história de sucesso”.

Roberta Jansen

Trabalhou como repórter especializada em ciência, saúde e meio ambiente nos jornais Estado de S. Paulo e O Globo. No último ano integrou a coordenação de internacional da GloboNews. É feminista desde os 11 anos de idade

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