Pecuária brasileira investe no ‘menos é mais’

Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, Goiás. Sistema Integração Lavoura Pecuária Floresta – ILPF.

Novas tecnologias fazem melhor aproveitamento da terra, aumentam produtividade e colocam o Brasil em destaque no mercado internacional

Por Claudia Silva Jacobs | Conteúdo de marca • Publicada em 30 de março de 2018 - 08:21 • Atualizada em 18 de março de 2020 - 17:21

Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, Goiás. Sistema Integração Lavoura Pecuária Floresta – ILPF.

A pecuária brasileira está produzindo mais em menor espaço. O que pode parecer até uma contradição é, na verdade, fruto de investimento em novas tecnologias. A mudança pode ser comprovada em números. No ano 2000, o rebanho nacional contava 145 milhões de cabeças, espalhadas por 188 milhões de hectares de área para pastagem – uma média que oscilava entre 0,4 e 0,6 animais por hectare. Em 2017, contamos com 218 milhões cabeças de gado, em uma área de 167 milhões de hectares, ou seja, mais de um animal por hectare. Os dados, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são uma amostra dos avanços do setor, que apresentou aumento da produção conjugado à maior sustentabilidade econômica, social e ambiental.

O Brasil é um dos líderes mundiais da agropecuária. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de 2016, o rebanho do país é o segundo maior do planeta, representando 22% da produção mundial. No mesmo ano, foram produzidos aqui, segundo o IBGE, 33,6 bilhões de litros de leite de vaca, atrás somente de Estados Unidos, Índia e China. Foram produzidas também 9 milhões de toneladas de carne, colocando o Brasil em segundo lugar, superado apenas pelos Estados Unidos.

Cuidados com os animais também aumentam a produtividade na pecuária (Foto Fernando Maia)
O melhoramento genético faz os animais ganharem peso e tamanho mais prematuramente  (Foto Fernando Maia)

Melhoramento genético

Tecnologia e muita pesquisa têm sido a chave para o crescimento da pecuária no Brasil. Um dos pontos de destaque é o trabalho de melhoramento genético, que vem desenvolvendo sistemas capazes de maximizar a produtividade, garantindo uma relação melhor entre custo e benefício. O país deu um salto no setor ao investir no desenvolvimento de espécies mais produtivas, na escolha correta dos animais reprodutores, no bem-estar animal. Com isso, parte do rebanho já alcançou melhores condições de disputar o mercado internacional, como explica o consultor Mário Garcia, diretor executivo da Exagro, empresa de consultoria que trabalha pelo desenvolvimento da pecuária brasileira desde 1991, e membro da diretoria da APPS (Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável).

“Com o melhoramento genético, os animais apresentam uma performance superior, e, além disso, passamos a ter mais previsibilidade na performance do gado e no custo-benefício. Há cerca de 20 anos, um animal demorava entre quatro e cinco anos para chegar ao ponto de abate. Hoje, com os cruzamentos de espécies e vários outros avanços, conseguimos levar um animal para o abate com a idade entre 18 e 24 meses, com relativa tranquilidade”, explica Garcia.

Unir pecuária, agricultura e florestas em uma só área é um dos caminhos para reduzir impacto ambiental (Foto Fernando Maia)

O consultor lembra que o conceito de bem-estar animal é responsável por uma grande parcela dessa evolução dos rebanhos. Com pastos mais cuidados e melhores condições nutricionais, o rebanho se desenvolve em condições propícias e com resultados melhores.

“A padronização dos animais é importantíssima para os frigoríficos. Com o melhoramento genético, a alimentação balanceada e o ambiente controlado, o resultado na hora do abate é um rebanho mais coeso, sem problemas de saúde, com a mesma base de peso. Aí, você consegue ter um produto final parecido, sem grandes variações, o que agrega mais valor à produção”, completa Garcia.

O bem-estar depende, e muito, dos cuidados no manejo, realizado por profissionais bem treinados. É necessário evitar o estresse do animal, fazendo com que ele seja conduzido no pasto com calma, que possa fazer seus movimentos, que tenha tempo, alimento e água que possam suprir suas necessidades.

De acordo com o zootecnista Adriano Gomes Páscoa, da BEA Consultoria, em São Paulo, os produtores deixam de lucrar quando não tomam cuidados que garantam o bem-estar animal, desde o nascimento até o envio ao frigorífico: “Vacinar corretamente para evitar dores nos animais, desmamar o bezerro na hora certa, cuidar do transporte para o frigorífico evitando contusões, tudo isso se transforma em lucro para os produtores.”

A qualidade do pasto também influencia na produtividade da agricultura (Foto Fernando Maia)

Sistemas integrados

Lucimara Chiari, doutora em genética e melhoramento e pesquisadora na área de Biotecnologia Vegetal da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, no Mato Grosso, também ressalta a importância das pesquisas no processo de evolução da pecuária, nos diferentes sistemas de produção. “Trabalhamos, junto com outros setores da Embrapa, no melhoramento das forrageiras, em diferentes regiões do país. A forrageira adequada e o manejo dos animais em rotação permitem uma maior intensificação do rebanho, sem a necessidade de ocupação de novas áreas de pastagens. Você vai rodando o gado para ter a pastagem todo o ano. Tudo isso, junto com o melhoramento genético, o cuidado na alimentação e complementos nutricionais, vem impactando positivamente nos resultados”, enumera Lucimara.

Na opinião da pesquisadora, o número de animais por hectare vai, facilmente, ser ampliado. Hoje, a média é de um animal hectare, mas, em alguns locais, já chega a 1,6, com a aplicação de sistemas integrados de uso da terra (em que, na mesma área, se alternam o cultivo de pastagens anuais ou perenes, destinadas à produção animal, e culturas destinadas à produção vegetal e/ou grãos), suplementação alimentar e melhoramento genético. “Em sistemas integrados de agricultura, pecuária e florestas, já registramos resultados de quatro animais por hectare. Temos que fazer isso. Com a pecuária integrada à agricultura, um compensa o outro e mantém a fazenda ativa, com produção e renda constante. Os resultados são muito melhores”, destaca Luciana.

O grupo Bom Retiro, que reúne quatro fazendas no município mineiro de Pouso Alto, é um dos exemplos das vantagens dessa integração. De acordo com Alexandre Fonseca Ribeiro, gerente-geral do grupo, já conseguem ter cerca de 2,5 animais por hectare, média bem acima do cenário nacional, mas esperam expandir a produção, sem utilizar uma área maior. “Para isso, trabalhamos com melhoria genética, adubação da forragem, produção dos insumos e controle maior da alimentação dos animais. Assim, já estamos garantindo maior produtividade, em menor espaço, cumprindo as regras ambientais em um sistema mais sustentável, com as portas abertas para um futuro ainda mais promissor”.

A pecuária leiteira também está em expansão no Brasil, com mais produção em menores áreas (Fotos Fernando Maia)

Da carne ao leite

A pecuária leiteira também está em evolução no país. Os dados de 2017 serão apresentados pelo IBGE nos próximos meses, mas a expectativa é que a produção do ano passado tenha ficado em torno 34,9 bilhões de litros, cerca de 4% a mais do que em 2016, de acordo com as previsões da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Esses bons resultados também estão ligados diretamente às pesquisas envolvendo o melhoramento genético, bem-estar animal, uso consciente do solo e intensificação do rebanho. Um laboratório para essas inovações é o Campo Experimental José Henrique Bruschi, da Embrapa Gado de Leite, nos arredores de Juiz de Fora, com seus 1037 hectares. Pedro Arcuri, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Leite, dá um exemplo simples de evolução.

Pastagens bem manejadas trazem vários benefícios. Um exemplo: o pasto (ou forragem) é um alimento barato para alimentar o rebanho e, se tiver qualidade, o que estamos conseguindo com as adequações genéticas, pode ajudar a diminuir a utilização de grãos ou outros elementos na dieta dos animais. Do ponto de vista ambiental, uma boa pastagem acumula mais matéria orgânica no solo, capturando o carbono”,  completa.

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Apex-Brasil

 

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Claudia Silva Jacobs

Carioca, formada em Jornalismo pela PUC- RJ. Trabalhou no Jornal dos Sports, na Última Hora e n'O Globo. Mudou-se para a Europa onde estudou Relacões Políticas e Internacionais no Ceris (Bruxelas) e Gerenciamento de Novas Mídias no Birkbeck College (Londres). Foi produtora do Serviço Brasileiro da BBC, em Londres, onde participou de diversas coberturas e ganhou o prêmio Ayrton Senna de reportagem de rádio com a série Trabalho Infantil no Brasil. Foi diretora de comunicação da Riotur por seis anos e agora é freelancer e editora do site CarnavaleSamba.Rio. Está em fase de conclusão do portal cidadaoautista.rio. E-mail: claudiasilvajacobs@gmail.com

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