População de rua vai ao ‘shopping’

Projeto em São Paulo oferece dignidade e um dia raro de escolhas

Por Florência Costa | ODS 12 • Publicada em 25 de novembro de 2016 - 09:10 • Atualizada em 27 de novembro de 2016 - 12:13

O projeto “The Street Store” (“Loja de rua”) já atendeu milhares de pessoas no mundo inteiro. Foto Divulgacao
O projeto “The Street Store” (“Loja de rua”) já atendeu milhares de pessoas no mundo inteiro. Foto Divulgacao
O projeto “The Street Store” (“Loja de rua”) já atendeu milhares de pessoas no mundo inteiro. Foto Divulgacao

Escolher é um verbo que os mais destituídos mal conseguem conjugar. É um privilégio que os moradores de rua não têm. Eles se acostumam a aceitar o que lhes é dado, gostem ou não do que é oferecido. No entanto, uma experiência que começou na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 2014, e fez sucesso em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, começa a mudar essa realidade, mesmo que seja por apenas um dia.

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Quando você vai ao shopping, escolhe o que quer comprar, o que vai comer e beber. Você decide que corte de cabelo deseja. Quando um morador de rua tenta entrar em um shopping center, ele é barrado. Meu intuito é resgatar a autoestima deles e proporcionar esta experiência de cidadão com capacidade de escolha, nem que seja por um dia.

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O projeto “The Street Store” (“Loja de rua”) já atendeu milhares de pessoas e vêm inspirando voluntários no mundo inteiro. Um dos brasileiros que abraçou a ideia foi o cirurgião-dentista e empresário Marcus Lima, de São Paulo. No ano passado, o evento que ele ajudou a organizar na cidade arrecadou cinco mil roupas, 800 sapatos e 300 brinquedos em 4 meses. Mais de 400 pessoas foram atendidas. Para muitos, foi a primeira experiência de escolha de suas vidas.

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Este ano, os organizadores da “Loja de Rua” esperam atrair cerca de 700 moradores de rua, que poderão escolher com dignidade as suas próprias roupas, sapatos, acessórios, seu corte de cabelo e o prato que querem experimentar.

“Quando você vai ao shopping, escolhe o que quer comprar, o que vai comer e beber. Você decide que corte de cabelo deseja. Quando um morador de rua tenta entrar em um shopping center, ele é barrado. Meu intuito é resgatar a autoestima deles e proporcionar esta experiência de cidadão com capacidade de escolha, nem que seja por um dia. Estas pessoas estão à margem, acostumadas a aceitar qualquer coisa que lhes é oferecida. No nosso evento, eles não recebem esmola, mas escolhem o que quiserem”, disse. Não se trata apenas de oferecer a experiência da compra, explica Lima, mas também de entretenimento, lazer, saúde, beleza e alimentação.

O shopping improvisado, com opções de compras, alimentação e lazer, terá voluntários que servirão como atendentes, oferecendo logo de início sacolas aos interessados. Camisetas, blazers, casacos, calças, saias, vestidos e calçados estarão separados por numeração, como numa loja.

Este ano, os organizadores da “Loja de Rua” esperam atrair cerca de 700 moradores de rua, que poderão escolher com dignidade as suas próprias roupas e sapatos. Foto Divulgação

Na praça de alimentação, eles poderão pedir os pratos relacionados em um menu: nesta seção, o evento contará com o apoio de food trucks. Uma equipe de dentistas voluntários estará disponível na praça para orientar e atender as pessoas e doar kits de prevenção bucal. Haverá psicólogos e um caminhão com chuveiro. Até mesmo seus animais de estimação serão atendidos por uma equipe de veterinários. Neste ano, haverá ainda uma exposição de fuscas antigos no local e um palco com música e atrações.

Há uma diferença em relação ao projeto sul-africano: lá a ONG coletava os itens em um dia e imediatamente colocava à disposição dos moradores de rua. “Aqui se arrecada meses antes e organizamos as coisas como um shopping”, explicou Lima, que prepara uma edição bem mais ampliada neste ano, algumas semanas antes do Natal, no dia 4 de dezembro. Será das 8h às 17h, no Largo do Rosário, no bairro da Penha, Zona Leste de São Paulo.

Florência Costa

Jornalista freelance especializada em cobertura internacional e política. Foi correspondente na Rússia do Jornal do Brasil e do serviço brasileiro da BBC. Em 2006 mudou-se para a Índia e foi correspondente do jornal O Globo. É autora do livro "Os indianos" (Editora Contexto) e colaboradora, no Brasil, do website The Wire, com sede na Índia (https://thewire.in/).

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