Verão com Aedes e sem saneamento

Descaso histórico cria ambiente perfeito para a proliferação de doenças

Por Edison Carlos | ODS 6 • Publicada em 4 de dezembro de 2016 - 23:39 • Atualizada em 5 de junho de 2019 - 03:27

Cerca de 35 milhões de brasileiros continuam sem ter acesso a água tratada (Foto: Custodio Coimbra)
Cerca de 35 milhões de brasileiros continuam sem ter acesso a água tratada. Foto de Custódio Coimbra
Cerca de 35 milhões de brasileiros continuam sem ter acesso a água tratada. Foto de Custódio Coimbra

Dia 21 de dezembro começa oficialmente o verão brasileiro, uma das estações mais aguardadas e ao mesmo tempo mais temidas por pessoas e autoridades. É a temporada do calor, do turismo, mas também o período das grandes chuvas, que alagam cidades gerando enormes prejuízos para a população e enxurradas de críticas aos governantes.

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No caso dos surtos de dengue, zika e febre chikungunya, não podemos nos contentar com campanhas para eliminar a água acumulada em plantas e quintais. Isso é insuficiente! Somente resolvendo as carências do saneamento básico vamos parar de “enxugar gelo”.

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É também a temporada favorita do mosquito Aedes aegypti. Estação das oportunidades para sua procriação e alimento farto, pois todos sabemos que, apesar da grande cobertura da imprensa, quase nada melhorou na infraestrutura das cidades.

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A incapacidade de nossos governantes de lidar com o mosquito é desoladora. De todas as áreas do “saneamento ambiental”, ou seja, acesso à agua potável, esgotamento sanitário, coleta e disposição do lixo e drenagem das águas de chuva, muito pouca coisa avançou no Brasil. A combinação da carência das quatro áreas é explosiva para a proliferação do mosquito e a transmissão das doenças a ele associadas – dengue, zika e febre chikungunya.

Em cidades onde não há acesso a um serviço regular de água potável, é comum ver as pessoas armazenando de forma inadequada, criando um ambiente ideal para a deposição dos ovos do mosquito. A falta de redes de coleta e estações de tratamento de esgotos faz as pessoas adoecerem, com diarreia, hepatite, problemas respiratórios e outras doenças.

Cidade sem coleta e disposição regular do lixo tem mais pontos de descarte ilegal, lixões a céu aberto e em terrenos baldios, locais ideais para criação das larvas do Aedes aegypti. A drenagem inadequada das águas das chuvas gera centenas de pontos de acúmulo de água, além dos piscinões sem manutenção, bairros sem escoamento, etc., tudo ideal para a proliferação de doenças.

Mesmo nos melhores anos para o saneamento, de 2007 a 2014, em que houve apoio do governo federal, pouco avançamos. Foto de Custódio Coimbra

A urbanização desordenada, a ocupação descontrolada do solo e a falta de preparo da maior parte de nossos governantes para cuidar da infraestrutura mais básica criaram as condições da tempestade perfeita: clima quente – mosquitos contaminados – falta de saneamento.

Dados do Ministério das Cidades, do ano de 2014, mostram que o Brasil ainda tem mais de 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada, mais da metade do país sem coleta de esgoto e apenas 40% do esgoto sendo tratado. É o tamanho do desafio para dar as condições mínimas de dignidade aos brasileiros. Mesmo nos melhores anos para o saneamento, de 2007 a 2014, em que houve apoio do governo federal, pouco avançamos, mesmo com programas como o PAC. As décadas de falta de investimento em saneamento reduziram a capacidade de planejamento, de fazer projetos, e ainda desorganizaram a já frágil coordenação que havia entre governos federal, estados e municípios com as empresas de saneamento.

O Governo Federal precisa urgentemente implementar novas medidas para fazer avançar o saneamento básico. Fortalecer as empresas públicas, pressionar pelo aumento da eficiência, estimular as parcerias com empresas privadas, induzir as soluções regionais via comitês de bacia e consórcios intermunicipais. Como cidadãos, temos que pressionar os novos prefeitos para acabarem com situações vergonhosas de doenças causadas pela falta de saneamento, pois somos as maiores vítimas.

No caso dos surtos de dengue, zika e febre chikungunya, não podemos nos contentar com campanhas para eliminar a água acumulada em plantas e quintais. Isso é insuficiente! Somente resolvendo as carências do saneamento básico conseguiremos algum avanço no combate, senão continuaremos “enxugando gelo”, gastando recursos em ações pontuais e que pouco resolverão esse drama brasileiro.

Edison Carlos

É Presidente Executivo do Instituto Trata Brasil. Químico industrial de formação, por muitos anos atuou em áreas ligadas à Comunicação e Relações Institucionais nos setores químico e petroquímico. Além de formado em Química pelas Faculdades Oswaldo Cruz, o executivo é pós-graduado em Comunicação Estratégica, já tendo atuado nas áreas de tratamento de águas e efluentes. Atuou por quase 20 anos em várias posições no Grupo Solvay, sendo que nos últimos anos foi responsável pela área de Comunicação e Assuntos Corporativos da Solvay Indupa. Em 2012, Édison Carlos recebeu o prêmio “Faz Diferença – Personalidade do Ano” do Jornal O Globo – categoria “Revista Amanhã” que premia quem mais se destacou na área da Sustentabilidade em todo o país.

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