Fim da escala 6×1, Antitrampo, Big Quit: conheça movimentos que prezam pelo equilíbrio profissional e pessoal

Rick Azevedo (de preto), líder do movimento Vida Além do Trabalho, em manifestação em Fortaleza ao lado do vereador Gabriel Aguiar: mais de 700 mil assinaturas contra escala 6×1 (Foto: Davi Pinheiro / Divulgação)

Novas gerações no mercado de trabalho denunciam longas jornadas, falta de tempo para lazer e impactos na saúde mental.

Por Ana Carolina Ferreira | ODS 8 • Publicada em 27 de março de 2024 - 15:48 • Atualizada em 3 de abril de 2024 - 08:22

Rick Azevedo (de preto), líder do movimento Vida Além do Trabalho, em manifestação em Fortaleza ao lado do vereador Gabriel Aguiar: mais de 700 mil assinaturas contra escala 6×1 (Foto: Davi Pinheiro / Divulgação)

As estatísticas refletem que o trabalhador brasileiro está exausto: o Brasil foi o segundo país com mais casos de burnout — doença ocupacional caracterizada pelo esgotamento físico, emocional e mental. Cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome, de acordo com pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR), realizada em 2021. Em busca de mudar esse cenário, brasileiros se reúnem nas redes sociais e fóruns online para reivindicar mudanças na escala de trabalho – com o fim da escala 6×1 – direitos trabalhistas, cultura das empresas e preocupação do Estado e empregadores com a saúde e bem-estar dos funcionários. Acompanhe, a seguir, alguns dos movimentos atuais que vêm ganhando força.

Leu essa? Vida Além do Trabalho: movimento pelo fim da escala 6×1 ganha força

1. Vida Além do Trabalho (VAT)

O VAT foi criado por Rick Azevedo a partir de publicações no TikTok, onde ele desabafava sobre o cotidiano como balconista de farmácia. A partir da fama e viralização na rede social, Rick criou grupos com os seguidores que o apoiaram, para protestar contra as condições de trabalho exaustivas que vivem. Com foco no fim da escala 6×1 (seis dias de trabalho seguidos e um de folga), o movimento criou um abaixo-assinado digital que já conta com mais de 740 mil assinaturas. O documento solicita a implementação de alternativas à escala 6×1 que promovam uma vida equilibrada, a criação de políticas de proteção ao trabalhador e uma fiscalização rigorosa.

A escala que consiste em quatro dias de trabalho por três de folga (Escala 4×3) é uma alternativa proposta pelo VAT em petição ao Congresso Nacional pela revisão da Consolidação das Leis do Trabalho. A proposta tem sido estudada e aplicada como piloto em empresas de todo mundo por meio da 4 Day Week Global — fundada em 2019, a organização orienta empresas em todo o mundo no planejamento e testes de implementação da iniciativa. O método propõe que funcionários recebam 100% do salário por 80% do tempo trabalhado, com metas de produtividade 100% alcançadas. 

Segundo o site da 4 Day Week Global, “acreditamos que o horário de trabalho reduzido é o futuro do trabalho e que, juntos, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal pode tornar-se a norma para todos, permitindo que os funcionários vivam vidas gratificantes e saudáveis, enquanto as empresas podem florescer e criar relações fortes com os seus colaboradores”.

2. Antitrampo

Versão brasileira da comunidade norte-americana antiwork na rede social Reddit, o fórum Antitrampo ganhou força durante a pandemia. A comunidade é uma rede de 94 mil membros, que se reúnem virtualmente para desabafar sobre humilhações sofridas por superiores, pedir auxílios quanto a demissões e denunciar condições de trabalho, muitas vezes degradantes.

3. Demissão silenciosa (quiet quitting)

Derivado da versão original em inglês quiet quitting, funcionários têm encontrado uma nova forma de lidar com o trabalho realizando o mínimo de tarefas demandadas, com o mínimo esforço, evitando longas jornadas e sobrecarga. “Ultimamente, estou em modo quiet quitting, fazendo o mínimo para continuar sem ir para o olho da rua enquanto não acho nada melhor, mas sem fazer pouco o bastante para levar uma justa causa”, conta um integrante do fórum no Reddit Antitrampo. Apesar de ser traduzido como demissão, a prática diz respeito ao esforço aplicado por um funcionário sobre as demandas de sua função  — eliminando a ideia de ser reconhecido na empresa por produzir mais do que se espera.

4. Big Quit (ou Grande Resignação)

Também conhecido como Grande Resignação, Grande Renúncia ou Grande Demissão, o termo se refere aos altos índices de demissões voluntárias a partir da pandemia da Covid-19. O Big Quit se iniciou após funcionários saírem em massa de empresas dos Estados Unidos, e outros países importaram a tendência, como o Brasil. Segundo levantamento da LCA Consultores, a partir dos dados do Ministério do Trabalho e Emprego, nunca houve tantos pedidos de demissão no país: foram mais de 7 milhões de demissões voluntárias no período de 12 meses até setembro de 2023. 

Ainda assim, pesquisas com recortes que consideram disparidades entre classes econômicas revelam que as demissões têm sido maior entre brasileiros mais escolarizados. 48,2% dos pedidos de demissão voluntária são de pessoas com ensino superior completo, e 33% são de pessoas com ensino médio completo, conforme a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro em levantamento de 2022.

5. Lazy Job

Outra tendência no mercado de trabalho impulsionada pela Geração Z é o “Lazy Job”, ou “Trabalho Preguiçoso”, no qual adeptos buscam por empregos menos estressantes e mais flexíveis, permitindo uma melhor conciliação entre vida profissional e pessoal — assim como a demissão silenciosa. Gabrielle Judge, influenciadora americana de 26 anos, foi a responsável por popularizar o conceito nas redes sociais, ao compartilhar sua própria experiência. Apesar do nome “preguiçoso”, o Lazy Job não se refere à prática de não trabalhar; faz parte de uma mentalidade que parte do próprio funcionário e é baseada no incentivo à procura de oportunidades que lhes proporcionem tempo e liberdade para investir em outras áreas da vida além do trabalho.

Ana Carolina Ferreira

Estudante de jornalismo na Universidade Federal Fluminense (UFF). Gonçalense, ou papa-goiaba, apaixonada pelas possibilidades de se contar histórias na área da comunicação. Foi estagiária na Assessoria de Comunicação do Ministério Público Federal e da UFF. Amante da sétima arte e crítica amadora do universo geek.

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