Diário da Covid-19: Brasil tem as menores médias do ano, mas o perigo continua

Em Mumbai, um grafite ajuda a conscientizar as pessoas sobre a importância do uso de máscaras. A Índia é o segundo país em número acumulado de casos de covid-19. Foto Indranil Mukherjee/AFP. Junho/2021

Variante delta já responde por 21,5% dos casos confirmados no país e o Rio segue sendo o epicentro da doença

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 15 de agosto de 2021 - 10:40 • Atualizada em 18 de agosto de 2021 - 10:03

Em Mumbai, um grafite ajuda a conscientizar as pessoas sobre a importância do uso de máscaras. A Índia é o segundo país em número acumulado de casos de covid-19. Foto Indranil Mukherjee/AFP. Junho/2021

O Brasil tem conseguido evitar a 3ª onda da covid-19 e, apesar de todos os percalços, avançou com o plano de imunização, registrando, na primeira quinzena de agosto, as menores médias diárias de casos e de mortes desde a virada do ano. O Brasil ganhou uma batalha, mas ainda não ganhou a guerra, pois os números da pandemia caíram, mas continuam altos e a difusão das variantes delta e lambda são como uma espada de Dâmocles pairando sobre o país.

A variante delta do novo coronavírus tem avançado rapidamente no Brasil. Segundo dados da Rede Genômica Fiocruz, em junho de 2021, quando a delta foi identificada inicialmente no país, ela correspondia a 2,3% dos casos confirmados da doença. Já em julho, a variante constituiu 21,5% das amostras, um crescimento de mais de nove vezes de um mês para o outro. A cidade do Rio de Janeiro é, no momento, o epicentro do país da variante delta segundo o 32º Boletim Epidemiológico do município.

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Outra cepa que está se espalhando rapidamente pela América do Sul é a variante lambda, que foi detectada pela primeira vez no Peru em agosto de 2020 e se espalhou para 29 países, principalmente na América Latina. As mutações dessa variante ajudam a driblar o sistema imunológico. No Chile, a variante lambda já é responsável por 31% das pessoas infectadas nos últimos 60 dias. O número de casos chilenos está em alta mesmo com 58,6% da população do país totalmente vacinada.

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Portanto, o Brasil avançou no processo de vacinação, mas não está livre do vírus e suas consequências em termos de morbimortalidade. O gráfico abaixo mostra diversos países selecionados segundo o grau de imunização. O pequeno território de Gibraltar já vacinou toda a população e já aplicou até uma terceira dose de reforço para parcelas dos habitantes e, em consequência, teve apenas uma morte nos últimos 5 meses. A Islândia já vacinou cerca de 81% da população com a 1ª dose e não registrou morte alguma em 2021. Cingapura já vacinou cerca de três quartos da população e tem um coeficiente de mortalidade de apenas 7 mortes por milhão de habitantes.

Porcentagem da população vacinada contra covid-19 em determinados países

O mundo já aplicou a primeira dose da vacina a cerca de 31% da população, sendo 23,4% com duas doses.  Todavia, mesmo países com prevalência alta da vacina, como Reino Unido (70% da população vacinada com pelo menos uma dose), Israel (69%), França (67%) e Estados Unidos (59%) estão passando por aumento dos casos diários da covid-19. Assim, o Brasil com 55% da população com a 1ª dose precisa avançar com o plano de imunização e com as medidas de prevenção.

O fato é que a vacinação é importantíssima para proteger contra a covid-19, mas nenhuma vacina tem 100% de proteção contra a infecção ou o falecimento. Tristemente, essa semana houve a morte do ator Tarcísio Meira – que já havia tomado as duas doses da vacina. Mas este e outros casos semelhantes devem servir de alerta para que todas as pessoas e todos os países redobrem as medidas de proteção mesmo após a dose dupla da vacina ou após a vacina de dose única.

O panorama nacional da covid-19

O Ministério da Saúde divulgou os dados nacionais da covid-19, registrando 20.350.142 pessoas infectadas e 568.788 vidas perdidas no dia 14 de agosto de 2021. A média móvel de 7 dias está em 28.338 casos e 862 óbitos diários. O Brasil está em terceiro lugar no ranking global de casos acumulados atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. No ranking de mortes está em 2º lugar, atrás apenas dos EUA e ocupa o 5º lugar no coeficiente acumulado de mortalidade.

O gráfico abaixo mostra as variações absolutas diárias do número de casos no território nacional entre 29/02/2020 e 14/08/2021 e a média móvel de 7 dias. Desde o início de março, o número de pessoas infectadas cresceu continuamente até o pico de 45 mil casos no começo de agosto de 2021. Nas semanas seguintes os números caíram para menos de 20 mil casos na primeira semana de novembro, mas voltaram a subir no restante do mês e, com uma pequena queda no final de ano, atingiu o pico em março de 2021, com média móvel acima de 75 mil casos diários. A média caiu para menos de 60 mil em maio e voltou a subir para a casa dos 70 mil casos diários em junho. Felizmente, o número de casos diminuiu e voltou para níveis da segunda quinzena de novembro de 2020.

O gráfico abaixo mostra as variações absolutas diárias do número de óbitos no território nacional entre 14/03/2020 e 14/08/2021 e a média móvel de 7 dias. Nota-se que o número de vidas perdidas cresceu rapidamente desde o primeiro óbito em meados de março até o final de maio quando ficou acima de 1 mil vítimas fatais diárias e se manteve neste patamar elevado até o pico de 1.061 óbitos no final de julho.

Entre agosto e outubro a média caiu para um patamar abaixo de 400 óbitos diários, mas subiu no mês de novembro e chegou no pico de cerca de 3 mil mortes diárias em abril. A média móvel de 7 dias caiu para baixo de 1,8 mil óbitos no final de maio, mas voltou subir para a casa de 2 mil óbitos diários na primeira quinzena de junho. Ainda bem que o inverno não foi marcado por um novo surto pandêmico e a média da semana passada está no nível da virada do ano.

O panorama global da covid-19

Segundo o site Our World in Data, com dados da Universidade Johns Hopkins, o mundo chegou a 207 milhões de pessoas infectadas e ultrapassou 4,3 milhões de vidas perdidas pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 2,1%. As médias móveis estão em 640 mil casos e 9,6 mil óbitos. Já são quase 200 países e territórios com mais de 1 mil casos da covid-19 e 31 países com mais de 1 milhão de casos.

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Nos meses de janeiro e fevereiro de 2021 a pandemia estava, fundamentalmente, restrita à Ásia. Mas no mês de março a propagação do SARS-CoV-2 atingiu fortemente a Europa e os Estados Unidos e houve uma desaceleração na segunda metade de abril. Contudo, conforme mostra o gráfico abaixo, o número de casos continuou crescendo continuamente a partir de maio, deu uma nova desacelerada no final do ano e teve um pico com média de 700 mil casos em janeiro.

Em seguida, a média caiu até algo em torno de 400 mil casos em final de fevereiro e deu um novo salto para o pico de toda a série no final de abril com média acima de 800 mil casos. Nos meses de maio e junho os números cairiam, ficando abaixo de 400 mil casos diários. Mas a propagação da doença voltou a aumentar e a média chegou a 640 mil casos na última semana.

O gráfico abaixo mostra o número diário de óbitos no mundo e a média móvel de 7 dias. A primeira subida do número de mortes aconteceu em março de 2020 e o pico da média móvel ocorreu em meados de abril com cerca de 7 mil vidas perdidas por dia. A partir deste pico, o número diário de vítimas fatais caiu até o final de maio e voltou a crescer e a oscilar entre 4 mil e 6 mil mortes diárias. Todavia, a 2ª onda ocorrida na Europa e na América do Norte fez o mundo alcançar novos recordes de mortes no final do ano passado.

Novo pico foi alcançado em janeiro de 2021 e a média móvel ultrapassou 14 mil mortes diárias. Os números caíram em fevereiro, mas voltaram a subir com o surto da Índia, chegando a 13 mil mortes diárias no início de maio.  A curva de mortalidade voltou a cair entre maio e julho, mas reverteu a tendência nos últimos 30 dias. A média móvel de mortes voltou para o patamar próximo de 10 mil óbitos diários.

O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, mostra não apenas que a média de mortes no mundo está aumentando, mas também que os surtos pandêmicos têm se alternado entre os países e regiões do mundo. Por exemplo, no início de 2021 a Europa e os EUA eram responsáveis pela maioria das mortes globais. Em abril, o destaque foi o Brasil e a América Latina. Em maio e junho foi a vez da Índia ficar no epicentro mundial da pandemia. No final de julho e início de agosto a alta mortalidade se deslocou para outros países asiáticos (como Indonésia, Irã, Malásia, Tailândia, Bangladesh etc.) e, em menor proporção, para países africanos (como África do Sul, Marrocos, Líbia, Tunísia, Quênia etc.). Na América Latina, Cuba é o país com os maiores coeficientes diários de incidência e de mortalidade atualmente.

O mundo tem avançado de forma desigual com as vacinas. O processo de imunização evitou uma nova onda pandêmica e impediu um outro pico superior àquele cume máximo ocorrido no final de janeiro de 2021. Contudo, o processo de vacinação não foi suficiente para trazer a média de mortes para níveis inferiores ao primeiro pico da pandemia ocorrido em abril de 2020. Isto quer dizer que o horizonte para o fim da pandemia vai além do final do ano. O cenário mais provável é que o planeta atinja baixos níveis de casos e de mortes da covid-19 apenas em 2022. Com muito esforço, com vacinas para todos e com medidas de prevenção, espera-se que o Brasil e o mundo possam conseguir reduzir as transmissões e as mortes para patamares suficientemente baixos, viabilizando a plena volta das atividades econômicas e sociais.

Frase do dia 15 de agosto 2021

 “As pessoas nunca praticam o mal de maneira tão completa e feliz como quando o fazem por convicção religiosa”

Blaise Pascal (1623-1662)

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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