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Por um Lula equatoriano no meio ambiente

Lição do pequeno país que, em plebiscito, vetou a exploração de petróleo em sua Amazônia está aí para ser aprendida – e seguida

ODS 13ODS 14ODS 15ODS 7 • Publicada em 15 de setembro de 2023 - 16:17 • Atualizada em 19 de setembro de 2023 - 11:22

Entre muitos paradoxos, os brasileiros somos muito mais ligados nos vizinhos que se parecem menos conosco. Acompanhamos as dores e as delícias de Argentina, Uruguai e Chile com muito mais proximidade e interesse do que o cotidiano e as desventuras de Colômbia, Peru, Paraguai. E a Venezuela só ganhou alguma atenção no bojo da polarização política, a partir da eleição de Hugo Chávez e o que se seguiu.

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Nesse ostracismo geopolítico, ignoramos totalmente a existência do Equador. Aqui na face oriental do continente sabe-se muito pouco, quase nada, do que vai pelas bandas daquele canto à beira do Pacífico. No máximo, conhecemos a LDU (Liga Deportiva Universitaria), o clube que venceu uma Libertadores, batendo o Fluminense em pleno Maracanã, década e meia atrás.

Pena – porque o país oferece lições preciosas que o Brasil precisa aprender com urgência. Mês passado, em plebiscito casado com a eleição presidencial, a população determinou que o país suspenda a exploração de petróleo na parte da Amazônia próxima à fronteira com o Peru.

A decisão afeta especialmente o Parque Nacional Yasuni, o bloco 43, onde está uma das maiores biodiversidades do planeta, além de grupos indígenas isolados. Segundo estimativas de pesquisadores, em um hectare daquela terra há mais espécies animais do que em toda a Europa, e variedade de árvores superior à da América do Norte Sob esse lugar de sonho, jaz a maior reserva de petróleo bruto do país. Nos padrões do capitalismo de antigamente, uma riqueza inestimável.

Está longe de ser decisão simples. Por ela, serão desativados campos responsáveis por 12% da produção diária de petróleo (o setor responde por 40% das exportações), no país que ocupa a 95ª posição no IDH (o Brasil, gigante da região, passa vexame em 87º). Sexta maior economia do continente, tem um PIB de quase US$ 106 bilhões – o verde-amarelo, primeiro lugar, soma US$ 1,6 trilhão.

Muitos outros números poderiam ser citados, mas a resposta do povo à riqueza que envenena a biodiversidade, a floresta e, por extensão, o planeta foi… não.

Lição que grita nos ouvidos de Lula e do Brasil o caminho a seguir, em relação à barbaridade da proposta de explorar petróleo na foz do Rio Amazonas. Bem a seu estilo, o presidente faz cera para decidir se avaliza o crime, enquanto o debate se acirra. Demore o tempo que for, o petista não escapará do julgamento mundial, após percorrer convescotes ecológicos com discurso de líder ambientalista. Em menos palavras: não pode!

Na procastinação, Lula fragiliza uma das grifes de seu ministério: a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Arrisca-se a repetir 2008, quando ela deixou o mesmo cargo, após cinco anos engolindo sapos do desenvolvimentismo desenfreado daqueles tempos de PAC. Após aguentar muito esvaziamento e sabotagem, desistiu e se foi para a oposição.

O contexto, hoje, dá muito mais importância ao meio ambiente, diante de cenários dramáticos como o agravamento da crise climática. O Brasil mal iniciou sua recuperação, após a devastação bolsonara, e não pode errar (mais).

Há, ainda, a essencial questão da imagem. É inaceitável juntar “petróleo” e “Amazônia” na mesma frase – a não ser que seja com palavras como “veto”, “proibição”, “nem pensar”, “sem chance” e afins a conectá-las. Ficará feio demais para o Brasil aos olhos do planeta – e os negócios, hoje cada vez mais atrelados a uma nova configuração que valoriza a preservação ambiental, vão sofrer também. Mas Lula toca para o lado.

E toma decisões que sinalizam anacronismo – como a liberação de R$ 300 milhões, em junho passado, para incentivo a produção de carros populares. Em pleno século 21! A medida turbina, por exemplo, o transporte por aplicativo, praga que assola cidades grandes, médias e pequenas, além de incentivar a lógica individual na mobilidade urbana. Não se pode esperar nada de virtuoso nesse caminho engarrafado.

Lula precisa ser equatoriano no meio ambiente. O planeta suplica.

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