O português Antonio Guterres, secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) vem renovando, a cada COP, suas imagens para alertar o mundo para a catástrofe climática. “Estamos em uma autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador”, alertou, no primeiro dia de reuniões da COP27, no Egito. “Estamos na luta de nossas vidas. E estamos perdendo. As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo. As temperaturas globais continuam subindo. E nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível”, acrescentou Guterres.
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O discurso do secretário-geral da ONU em Sharm El-Sheik, nesta segunda-feira (07/11), sucede ao relatório da Organização Meterológica Mundial (OMM) divulgado domingo apontando que os últimos oito anos estão a caminho de serem os oito mais quentes já registrados, com as concentrações cada vez maiores de gases de efeito estufa e o calor acumulado. “Ondas de calor extremas, secas e inundações devastadoras afetaram milhões e custaram bilhões este ano”, alerta o Estado do Clima Global de 2022, da OMM, agência da ONU.
Na COP26, em Glasgow, Guterres já havia sido enfático sobre o caminho para a catástrofe climática. “É hora de dizer chega. Chega de nos matar com carbono. Chega de tratar a natureza como banheiro. Estamos cavando nossa própria cova”. O tom foi semelhante na abertura da COP25, em Madri: “As emissões continuam aumentando, sem dar o menor sinal de que começarão a cair. Estamos claramente em uma crise. Se não mudarmos urgentemente nosso modo de vida, colocamos a própria vida no planeta em risco”, alertou o secretário-geral em 2019.
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Veja o que já enviamosTrês anos e uma pandemia depois, o relatório, ainda provisório, da OMM confirmou o aumento, o dobro, da taxa de subida do nível do mar desde 1993, atingindo novo recorde. “2022 teve um impacto excepcionalmente pesado nas geleiras nos Alpes europeus, com indicações iniciais de derretimento recorde. A camada de gelo da Groenlândia perdeu massa pelo 26º ano consecutivo e choveu (em vez de nevar) lá pela primeira vez em setembro”, afirmam os pesquisadores responsáveis pelo Estado do Clima Global 2022.
O documento da OMM lembra ainda que, apesar de um raro fenômeno La Niña triplo, com três anos de resfriamento nos oceanos, 2022 ainda assim será provavelmente o quinto ou sexto mais quente da história. No entanto, isso não reverte a tendência de longo prazo; é apenas uma questão de tempo até que haja outro ano mais quente da história.
O Estado do Clima Global 2022 aponta na direção da mesma autoestrada para o inferno climático, também mapeada pela UNCC (ONU Mudanças Climáticas): relatório divulgado no fim de outubro indicou que os países estão dobrando a curva das emissões globais de gases de efeito estufa para baixo, mas ressaltou que esses esforços permanecem insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius até o final do século.
De acordo com o relatório, as promessas climáticas combinadas de 193 Partes sob o Acordo de Paris podem colocar o mundo no caminho certo para cerca de 2,5 graus Celsius de aquecimento até o final do século. Os estudos das agências da ONU reforçaram o tom do discurso. “A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer. Ou um pacto pela solidariedade climática, ou um pacto pelo suicídio coletivo”, afirmou Guterres ao cobrar que Estados Unidos e à China – as duas maiores economias – trabalhem juntos no enfrentamento à crise climática e pedir um novo pacto entre países ricos e pobres para fazer cortes mais profundos nas emissões com ajuda financeira e eliminação gradual do carvão nos países ricos até 2030 e em outros lugares até 2040.
O discurso do secretário-geral da ONU abriu a Cúpula dos Líderes Mundiais na COP27. Até terça (8/11), dezenas de líderes mundiais falarão no auditório principal do Centro de Convenções de Sharm El Sheikh, onde a área destinada à sociedade civil estará fechada por razões de segurança. Espera-se que muitos chefes de estado, principalmente da África e da Ásia, vão relatar histórias de devastação, antecipando o inferno climático, que vão culminar, na tarde de terça, com um discurso do primeiro-ministro Muhammad Sharif, do Paquistão, onde as inundações de verão causaram pelo menos US$ 40 bilhões em danos e deslocaram milhões de pessoas em 2022.