‘Na autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador’

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na abertura da Cúpula dos Líderes, na COP27, no Egito: “Ou um pacto pela solidariedade climática, ou um pacto pelo suicídio coletivo” (Foto: Joseph Eid / AFP)

Secretário-geral da ONU renova alerta sobre catástrofe climática e apela por cooperação na abertura da Cúpula dos Líderes da COP27

Por Oscar Valporto | ODS 13 • Publicada em 7 de novembro de 2022 - 12:10 • Atualizada em 14 de novembro de 2022 - 15:23

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na abertura da Cúpula dos Líderes, na COP27, no Egito: “Ou um pacto pela solidariedade climática, ou um pacto pelo suicídio coletivo” (Foto: Joseph Eid / AFP)

O português Antonio Guterres, secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) vem renovando, a cada COP, suas imagens para alertar o mundo para a catástrofe climática. “Estamos em uma autoestrada para o inferno climático com o pé no acelerador”, alertou, no primeiro dia de reuniões da COP27, no Egito.  “Estamos na luta de nossas vidas. E estamos perdendo. As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo. As temperaturas globais continuam subindo. E nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível”, acrescentou Guterres.

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O discurso do secretário-geral da ONU em Sharm El-Sheik, nesta segunda-feira (07/11), sucede ao relatório da Organização Meterológica Mundial (OMM) divulgado domingo apontando que os últimos oito anos estão a caminho de serem os oito mais quentes já registrados, com as concentrações cada vez maiores de gases de efeito estufa e o calor acumulado. “Ondas de calor extremas, secas e inundações devastadoras afetaram milhões e custaram bilhões este ano”, alerta o Estado do Clima Global de 2022, da OMM, agência da ONU.

A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer. Ou um pacto pela solidariedade climática, ou um pacto pelo suicídio coletivo

Antonio Guterres
Secretário-geral da ONU

Na COP26, em Glasgow, Guterres já havia sido enfático sobre o caminho para a catástrofe climática. “É hora de dizer chega. Chega de nos matar com carbono. Chega de tratar a natureza como banheiro. Estamos cavando nossa própria cova”. O tom foi semelhante na abertura da COP25, em Madri: “As emissões continuam aumentando, sem dar o menor sinal de que começarão a cair. Estamos claramente em uma crise. Se não mudarmos urgentemente nosso modo de vida, colocamos a própria vida no planeta em risco”, alertou o secretário-geral em 2019.

Três anos e uma pandemia depois, o relatório, ainda provisório, da OMM confirmou o aumento, o dobro, da taxa de subida do nível do mar desde 1993, atingindo novo recorde.  “2022 teve um impacto excepcionalmente pesado nas geleiras nos Alpes europeus, com indicações iniciais de derretimento recorde. A camada de gelo da Groenlândia perdeu massa pelo 26º ano consecutivo e choveu (em vez de nevar) lá pela primeira vez em setembro”, afirmam os pesquisadores responsáveis pelo Estado do Clima Global 2022.

O documento da OMM lembra ainda que, apesar de um raro fenômeno La Niña triplo, com três anos de resfriamento nos oceanos, 2022 ainda assim será provavelmente o quinto ou sexto mais quente da história. No entanto, isso não reverte a tendência de longo prazo; é apenas uma questão de tempo até que haja outro ano mais quente da história.

O Estado do Clima Global 2022 aponta na direção da mesma autoestrada para o inferno climático, também mapeada pela UNCC (ONU Mudanças Climáticas): relatório divulgado no fim de outubro indicou que os países estão dobrando a curva das emissões globais de gases de efeito estufa para baixo, mas ressaltou que esses esforços permanecem insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius até o final do século.

De acordo com o relatório, as promessas climáticas combinadas de 193 Partes sob o Acordo de Paris podem colocar o mundo no caminho certo para cerca de 2,5 graus Celsius de aquecimento até o final do século. Os estudos das agências da ONU reforçaram o tom do discurso.  “A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer. Ou um pacto pela solidariedade climática, ou um pacto pelo suicídio coletivo”, afirmou Guterres ao cobrar que Estados Unidos e à China – as duas maiores economias – trabalhem juntos no enfrentamento à crise climática e pedir um novo pacto entre países ricos e pobres para fazer cortes mais profundos nas emissões com ajuda financeira e eliminação gradual do carvão nos países ricos até 2030 e em outros lugares até 2040.

O discurso do secretário-geral da ONU abriu a Cúpula dos Líderes Mundiais na COP27. Até terça (8/11), dezenas de líderes mundiais falarão no auditório principal do Centro de Convenções de Sharm El Sheikh, onde a área destinada à sociedade civil estará fechada por razões de segurança.  Espera-se que muitos chefes de estado, principalmente da África e da Ásia, vão relatar histórias de devastação, antecipando o inferno climático, que vão culminar, na tarde de terça, com um discurso do primeiro-ministro Muhammad Sharif, do Paquistão, onde as inundações de verão causaram pelo menos US$ 40 bilhões em danos e deslocaram milhões de pessoas em 2022.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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