Diário da Covid-19: pandemia aumenta a pobreza extrema e a fome no mundo

Planeta chega a 33 milhões de casos e 1 milhão de mortes. Brasil, com 2,7% da população mundial, bate a marca de 141,4 mil mortes (14,2% do total global)

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 1ODS 3 • Publicada em 27 de setembro de 2020 - 15:33 • Atualizada em 8 de dezembro de 2020 - 10:10

Na Indonésia, um menino descansa sentando em frente a um mural que representa o coronavírus. Foto Aditya Aji/AFP

O mundo atinge o montante de 33 milhões de pessoas infectadas e a marca de 1 milhão de vidas perdidas para o SARS-CoV-2, neste domingo, 27 de setembro de 2020, segundo o site Worldometer. Sem dúvida, é a pandemia com o maior volume de vítimas fatais, desde a Gripe Espanhola há 100 anos e com o maior impacto econômico e social. O coronavírus atingiu em cheio também os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), com efeitos claros sobre o aumento da pobreza extrema e a fome no mundo. Um relatório da Fundação Bill & Melinda Gates, “2020 Goalkeepers Report”, divulgado este mês, mostra um retrocesso grave nas conquistas dos últimos anos. Veja o quadro com os impactos nos 17 ODS mais abaixo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) elevou o estado de contaminação do novo coronavírus para pandemia no dia 11 de março, quando havia 149 mil casos e 4,6 mil óbitos. Em pouco mais de 6 meses os números de casos e mortes foram multiplicados por mais de 200 vezes, colocando os quase 8 bilhões de habitantes do mundo em uma emergência sanitária sem precedentes. Definitivamente, não se trata de uma “gripezinha”.

Na semana em que a Organização das Nações Unidas completou 75 anos, a Assembleia Geral da ONU, iniciada no dia 22 de setembro, mostrou mais divergências do que convergências entre os países, escancarando a falta de unidade da Governança Global. O presidente dos Estados Unidos – em plena campanha presidencial para as eleições americanas de 03 de novembro – fez um discurso xenófobo definindo o SARS-CoV-2 como um “vírus chinês” e apostando em soluções locais e não globais. Os chefes de Estado dos EUA, Índia e Brasil (os três países com maior volume acumulado de casos e mortes da covid-19) nem de leve reconheceram os seus erros e muito menos apontaram soluções críveis e efetivas para o controle da covid-19.

O Brasil, que tem 2,7% da população mundial, chegou a 141,4 mil mortes (14,2% do total global) e a 4,7 milhões de pessoas infectadas (14,3% do total global). O país está em terceiro lugar no ranking internacional de casos acumulados e no segundo lugar no volume de mortes pela covid-19. Considerando o peso demográfico, o Brasil também fica entre os países mais impactados pela pandemia.

O pico das curvas epidemiológicas de casos e de mortes no Brasil ocorreu no final de julho e parece que o momento mais grave já ficou para trás. Mas isto não significa que a situação esteja tranquila. Mesmo com os novos casos ficando abaixo de 28 mil e as novas mortes ficando abaixo de 700 óbitos, o Brasil continua em terceiro lugar no ranking global de casos e óbitos diários (atrás apenas da Índia e dos EUA). O Brasil superou a Espanha e agora é o terceiro país em coeficiente de mortalidade (atrás apenas do Peru e da Bélgica).

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A pandemia não tem dado tréguas. Para Bill Gates, cofundador da Microsoft, os países desenvolvidos devem ficar livres da covid-19 somente no final de 2021 e o resto do mundo apenas em 2022. Mas, mesmo ele – que é o indivíduo mais rico do mundo e um reconhecido otimista – adverte que levará anos para a maioria dos países voltar para o ponto onde estavam no início de 2020, pois a pandemia causará perdas em uma magnitude só comparável às duas grandes Guerras do século passado.

O panorama nacional

Os dados oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde registraram 4.717.991 pessoas infectadas e 141.406 vidas perdidas, no dia 26 de setembro, com uma taxa de letalidade de 3%. Foram 28.378 novos casos e 869 óbitos em 24 horas.

O gráfico abaixo mostra os valores diários das variações dos casos e das mortes no Brasil da 16ª semana epidemiológica (SE = 12 a 19 de abril) até a 39ª SE (20 a 26/09). Nota-se que todas as baixas acontecem nos fins de semana e as elevações nos dias úteis. Mas as linhas (pontilhadas) da tendência polinomial de terceiro grau apresentam uma suavização das oscilações sazonais e indicam uma extrapolação para os próximos 7 dias. Observa-se uma tendência de queda do número diário de casos durante os meses de agosto e setembro. A média móvel de casos bateu o recorde no dia 29 de julho, com 46.393 novas pessoas infectadas e ficou abaixo de 30 mil casos no dia 12/09. Todavia, o número médio diário de casos voltou a ficar acima de 30 mil na 38ª SE. Em termos de mortes, a linha pontilhada vermelha mostra que a curva estava estacionada em alto platô com um pico da média móvel atingindo 1.097 óbitos no dia 25/07, mas a média caiu para 715 óbitos no dia 12/09 e na 38ª SE a média de vidas perdidas voltou a subiu para 760 óbitos. Mas, felizmente, os números voltaram a cair e atingiram o nível mais baixo na 39ª SE, sendo que o ajuste polinomial indica continuidade da queda na próxima semana (27/09 a 03/10).

O gráfico abaixo mostra a variação média diária do número de casos no Brasil nas diversas semanas epidemiológicas (SE). Nota-se que o número de pessoas infectadas passou da média de 397 casos na 13ª SE (variação relativa de 19,4% ao dia), para 37.620 pessoas na 27ª SE (2,6% ao dia), um aumento absoluto de quase 100 vezes. Houve uma queda nas duas semanas seguintes e um grande salto para 45.665 casos na média diária da 30ª SE. Nas quatro semanas seguintes os números diários foram menores. Na 36ª SE o número médio subiu e ficou em 39.550 casos, mas teve uma queda abrupta, para 27.527 casos. Contudo, o número de pessoas infectadas subiu para 30,4 mil casos na 38ª SE. Mas, por sorte, voltou a cair para 27,1 mil casos na 39ª SE. Como sempre fazemos todos os domingos, apresentamos uma projeção para a 40ª SE (27 a 03/10), com estimativa de 26,4 mil casos diários no Brasil, com variação relativa de 0,55% ao dia.

O gráfico abaixo mostra que o número de vítimas fatais foi de 13 óbitos ao dia na 13ª SE (variação relativa de 29,7% ao dia), passou para 387 óbitos diários na 18ª SE e chegou a 1.014 óbitos diários na 23ª SE. Nas semanas seguintes o número diário oscilou em torno de 1.000 óbitos e bateu o recorde de 1.097 óbitos na 30ª SE (variação de 1,34% ao dia). Nas semanas seguintes houve queda do número médio diário até 965 óbitos na 33ª SE e um ligeiro aumento para 1.003 óbitos na 34ª SE. Nas 3 semanas seguintes a queda foi a mais significativa da série, chegando à média móvel de 715 óbitos na 37ª SE (05 a 12/09). Contudo, na 38ª SE a média diária de vítimas fatais subiu para 760 óbitos. Mas a tendência de queda se manteve e a média de mortes ficou abaixo de 700 óbitos pela primeira vez desde a 19ª SE (03 a 09 de maio).  Nossa projeção indica que o número de vítimas fatais deve continuar caindo e deve ficar em 674 mortes diárias na 40ª SE, com variação relativa de 0,47% ao dia.

Os dados acima indicam que o volume de casos e de mortes continua caindo, mas ainda permanecem em um patamar alto. Em números acumulados, o Brasil é o terceiro país no ranking global de casos (atrás apenas dos EUA e da Índia) e o segundo lugar no ranking de vítimas fatais (atrás apenas dos EUA). Em termos de coeficiente de mortalidade o Brasil com 673 óbitos por milhão de habitantes está atrás apenas do Peru (972 óbitos por milhão) e da Bélgica (859 óbitos por milhão de habitantes).

O panorama global

O mundo já ultrapassou 33 milhões de pessoas infectadas e 998 mil mortes no dia 26 de setembro, com uma taxa de letalidade de 3%. A marca de 1 milhão de vidas perdidas será alcançada no domingo, 27 de setembro.

No gráfico abaixo, a curva do número de casos parecia indicar uma reversão em meados de abril, começando a esboçar um declínio. Porém, manteve a tendência de alta e acelerou a subida, quase batendo o recorde de 300 mil casos em 24 horas nos últimos dois dias de julho e finalmente ultrapassando esta marca em vários dias de setembro. A curva de mortalidade apresentou uma variação máxima diária em 16 de abril com cerca de 8 mil óbitos. A partir deste dia houve queda até o valor mínimo no dia 25 de maio. Porém, a variação diária voltou a subir e atingiu valores acima de 7.000 óbitos nos dias 06 e 13 de agosto. Atualmente a média móvel de mortes está pouco acima de 5 mil óbitos diários.

A Índia é o país com maior número diário de casos e de mortes. Os EUA e o Brasil, embora se mantenham no topo do ranking, apresentam queda nas últimas semanas. A França tem batido todos os recordes de número de casos, mas mantem os óbitos em volume pequeno. A Espanha e o Reino Unido também enfrentam uma segunda onda dos casos da covid-19. A Argentina é atualmente o país com maiores coeficientes diários de incidência e mortalidade da América Latina. O Irã enfrenta uma terceira onda de casos e de mortes. O Líbano apresenta um número de casos e de mortes cerca de 10 vezes mais elevado do que existia antes da explosão do porto de Beirute.  A pandemia continua afetando o mundo todo, mas em ritmo diferenciado nos países.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a covid-19

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sucederam os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). Eles foram propostos como resolução da Rio + 20, Conferência realizada em 2012, no Rio de Janeiro, foram elaborados após uma ampla consulta à comunidade internacional e ficaram constituídos por 17 objetivos, 169 metas e mais de 300 indicadores. De 25 a 27 de setembro de 2015, em Nova York, a Organização das Nações Unidas realizou um encontro, com status de plenária de alto nível da Assembleia Geral, onde decidiu pela adoção dos ODS.

Cinco anos depois, em 2020, o Planeta entrou em um pandemônio econômico e social em função da pandemia do SARS-CoV-2. No dia 27 de setembro de 2020, o mundo registrou 33 milhões de pessoas infectadas e 1 milhão de vidas perdidas. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) a economia global deve ter uma contração de 4,9% em 2020, com uma queda da renda per capita de 6%. Desta forma, o mundo vai ficar mais pobre e serão as parcelas mais carentes da sociedade as mais afetadas pelas consequências econômicas da pandemia. Neste sentido, os 17 objetivos, que fazem parte da Agenda 2030 da ONU, devem sofrer um revés em 2020, como veremos de forma a estimular o debate, na breve síntese a seguir.

ODS 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares

Em 1990, 36% da população vivia na extrema pobreza (US$ 1.90 ao dia). Em 2015, este percentual caiu para 10% (aproximadamente 700 milhões de pessoas). Mas com a recessão global de 2020 haverá queda da renda média e um contingente de cerca de 500 milhões de pessoas pode ser incluído nas estatísticas da extrema pobreza. Pela primeira vez em 30 anos o mundo deverá ter aumento da pobreza extrema.

ODS 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável

Entre 1991 e 2015 o número de pessoas passando fome no mundo foi reduzido de 1 bilhão para 784 milhões de pessoas. Contudo, a fome voltou a aumentar para 821 milhões em 2017. Com a pandemia, a situação se agravou e houve um aumento do Índice global de preço dos alimentos da FAO, embora uma avaliação mais ampla sobre a insegurança alimentar deverá ser feita somente no ano que vem.

ODS 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades

A covid-19 aumentou a morbimortalidade global em 2020. A pandemia tem sido mais letal para os idosos, mas atinge outras parcelas da população com comorbidades e as camadas mais pobres da sociedade. Pela primeira vez em décadas, o mundo deve apresentar declínio na esperança de vida ao nascer em 2020.

ODS 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos

A educação foi uma das áreas mais afetadas pela pandemia. Na maioria dos países as escolas ficaram fechadas e as crianças e jovens ficaram sem acesso à educação presencial, sendo que a juventude de baixa renda foi a mais prejudicada. Já se fala em uma “geração covid” que deve passar por um processo de mobilidade social descendente.

ODS 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas

O sexo feminino foi profundamente afetado pela pandemia, pois uma proporção maior de mulheres perderam o emprego, ficaram fora das escolas e tiveram que assumir uma carga extra de trabalho doméstico. As mulheres são maioria entre os profissionais de saúde e foram as mais sobrecarregadas na gestão diária da doença.

ODS 6. Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos

A água é um bem escasso e imprescindível e está distribuída de forma desigual. O consumo se intensifica com o crescimento populacional e a maior demanda agrícola e industrial, sendo que a poluição reduz a disponibilidade de água limpa. Além dos conflitos locais, os recursos hídricos são motivos de disputas entre as nações. A falta de saneamento e de tratamento do esgoto é a maior vergonha da civilização humana.

ODS 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos

O mundo está passando por uma transição energética, mas em ritmo muito lento. A matriz energética mundial ainda é muito dependente dos hidrocarbonetos e pouco tem sido feito para reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis e para baratear o preço da energia renovável e acelerar o processo de descarbonização da economia.

ODS 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho decente para todos

O objetivo 8 é o mais controverso, pois a junção de “crescimento econômico sustentado” e “sustentabilidade” é considerado um oximoro. Mas a questão do pleno emprego é fundamental para a inclusão social, a autonomia dos indivíduos e para o aproveitamento do bônus demográfico. Acontece que a pandemia gerou um grande aumento do desemprego e um grande desperdício do potencial produtivo da força de trabalho na maioria dos países do mundo.

ODS 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação

A pandemia, em geral, gerou recessão e aumento dos déficits e das dívidas públicas. Desta forma, dificultou os investimentos públicos em infraestrutura, acelerou o processo de desindustrialização e reduziu os investimentos em ciência e tecnologia. O Brasil, cada vez mais dependente das exportações de commodities, vive um processo de reprimarização da economia e de “especialização regressiva”.

ODS 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles

Segundo relatório da Oxfam (janeiro 2020), os 2.153 bilionários do mundo têm uma riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas – ou cerca de 60% da população mundial. Para Thomas Piketty a pandemia afetou, em maior proporção, a população mais pobre dos países e permitiu um crescimento da riqueza dos bilionários, como Jeff Bezos, da Amazon e Jack Ma, da Alibaba.

ODS 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis

A pandemia do coronavírus ressaltou a importância do planejamento das cidades e mostrou a vulnerabilidade das populações vivendo em favelas e em assentamentos precários. O controle da pandemia exige que questões como aproveitamento dos espaços públicos, a mobilidade urbana e as condições de habitação sejam bem equacionadas.

ODS 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga da Terra e, apesar das desigualdades, o volume das atividades antrópicas degradam os ecossistemas e provocam a perda de biodiversidade. Segundo a Global Footprint Network a Pegada Ecológica da humanidade já está 70% acima da Biocapacidade Planeta e o déficit ecológico cresce ano a ano.

ODS 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos

A pandemia paralisou a economia global e teve como resultado a redução das emissões de CO2 nos primeiros 6 meses do ano. Porém, o Instituto Climate Action Tracker já registra aumento das emissões e considera quase impossível se atingir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5º C, acima dos níveis pré-industriais.

ODS 14. Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável

Os oceanos sofrem com a sobrepesca, o aquecimento das águas, a acidificação e o branqueamento dos corais. Estima-se que até 2050, existirá mais plásticos que peixes nos mares. Até as máscaras usadas contra o coronavírus terminam poluindo os oceanos e ameaçando a vida marinha.

ODS 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda

Segundo a WWF a biodiversidade da Terra foi reduzida em 68% entre 1970 e 2016. O mundo perde cerca de 10 bilhões de árvores por ano e as queimadas se intensificam em todo o mundo, sendo que os fogos na Amazônia e no Pantanal são alguns dos casos mais visíveis.

ODS 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis

A democracia está em retrocesso no mundo de acordo com o Índice de Democracia da “The Economist Intelligence Unit”. A pontuação atual é a mais baixa desde 2006. Apenas 22 países, com 430 milhões de habitantes, foram considerados “democracias plenas”. Mais de um terço da população mundial vive sob regimes autoritários.

ODS 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável

As disputas entre os EUA e a China (as duas maiores potencias do Planeta) ameaçam jogar o mundo em uma nova Guerra Fria. A governança global vive uma crise, pois há um aumento das práticas nacionalistas e xenófobas, enquanto muitos países condenam o multilateralismo para a solução de conflitos, dificultado a implantação do objetivo 17 dos ODS.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sofreram um grande baque em 2020. Segundo documento recente da Fundação Bill & Melinda Gates, “2020 Goalkeepers Report”, divulgado em meados de setembro, o progresso que vinha ocorrendo em anos anteriores foi interrompido e houve um retrocesso nos 17 ODS. O relatório analisa os danos que a pandemia já fez e ainda está fazendo e considera que quanto mais tempo levarmos para perceber isso, mais tempo levará (e mais custará) para os países do mundo se recuperarem.

O ano de 2020 não tem sido o pior dos tempos e nem o melhor dos tempos, como diria Charles Dickens. Mas tem sido um ano difícil e com recuo na maioria dos indicadores dos ODS. A emergência sanitária já deixou 33 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e 1 milhão de vidas perdidas. A humanidade precisa tirar lições desta pandemia, reavaliar os erros cometidos e fazer um esforço para construir um mundo mais feliz, mais justo e mais sustentável.

Frase do dia 27 de setembro de 2020

“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice, foi a época da fé, foi a época da incredulidade, foi a estação da luz, foi a estação das trevas, foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós”

Charles Dickens (1812-1870), escritor britânico

Referência:

Bill & Melinda Gates. COVID-19: A global perspective 2020 Goalkeepers Report, Bill & Melinda Gates Foundation, September 2020

https://www.gatesfoundation.org/goalkeepers/downloads/2020-report/report_letter_en.pdf

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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