A imensa – e cada vez maior – tribo dos inovadores sociais e digitais espalhada pelo mundo vai se reunir no Rio, em novembro. Vem gente da França, Espanha, Alemanha, Israel, Inglaterra, Estados Unidos, Chile, Colômbia para pensar o futuro da América Latina à luz das novas economias. A ideia surgiu em Paris, na última edição do OuiShare: por que não fazer um evento naqueles moldes voltado para questões latino-americanas? Estava plantada a semente do ColaborAmerica, que vai rolar entre nos dias 17, 18 e 19 do mês que vem, no Rua City Lab, laboratório de inovação urbana, no Santo Cristo.
A proposta do festival é mostrar o que de mais interessante está sendo discutido no mundo, em novas economias, e trazer para a realidade do continente. “O festival em Paris surgiu muito voltado para economia colaborativa. No Rio, vamos abordar as novas economias, não só a colaborativa, mas a circular, a solidária, os modos de vida tradicionais e o que podemos aprender com eles. O Brasil é líder mundial em economia solidária, fomos pioneiros… Então, vamos pensar nisso também. Outro pilar do evento são os negócios sociais”, conta a designer industrial Manuela Yamada, uma das organizadoras e representante do OuiShare no Brasil.
[g1_quote author_name=”Manuela Yamada” author_image=”Organizadora do festival” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]O que faz com que o Uber seja rechaçado dentro da economia colaborativa é que é um modelo em que a propriedade e o capital são centralizados
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosOutro representante do festival francês no país é Tomás Lara, colíder do Sistema B no Brasil. Ele e Manuela também estão entre os fundadores da Goma, associação interdisciplinar de empreendedores, que funciona no Centro do Rio, atualmente com 92 associados. Agora, eles estão juntos na empreitada de organizar a primeira edição do ColaborAmerica. Serão três dias intensos de debates – para repensar e propor um modelo de desenvolvimento mais consciente para América Latina. Eles vão girar em torno de quatro grandes temas: “Trabalho e aprendizagem na era da interdependência”, “O capital na era da descentralização”, “Produção e Consumo na Era da Consciência” e “Estruturas de Poder na Era da Transparência”.
Cofundador do OuiShare, o francês Antonin Leonard já confirmou presença na primeira edição do festival latino-americano. Outro destaque entre os palestrantes é o físico teórico e empreendedor israelense Matan Field. Criador das plataformas Backfeed e La’Zooz, ele é considerado um dos maiores especialistas em blockchain da atualidade. O La’Zooz é um aplicativo de transporte urbano que funciona na base da “carona”. Em linhas gerais, a ideia é diminuir a quantidade de automóveis nas ruas, estimulando os motoristas a oferecerem assentos vazios em seus carros. Manuela Yamada faz uma comparação com o Uber. “Uma das principais críticas que o Uber recebe, que faz com que ele seja rechaçado dentro da economia colaborativa, é que é um modelo em que a propriedade e o capital são centralizados. Na verdade, é só uma roupagem nova para o velho sistema capitalista. O que iniciativas como o La’Zooz fazem é distribuir a propriedade também. É como se o motorista quanto mais dirigisse mais ações recebesse do próprio Uber. Isso é muito importante e muito revolucionário também”.
Pelo visto não vão faltar ideias revolucionárias esquentando os debates na primeira edição do ColaborAmerica. Outro palestrante é o economista Ricardo Abramovay, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, autor, entre outros, do livro Muito Além da Economia Verde e um dos colaboradores do Projeto #Colabora. Em uma entrevista, em 2014, para o programa “Provocações”, que Antônio Abujamra apresentava na TV Cultura, ele fala das transformações que a economia colaborativa começa a provocar no mundo. “Um dos principais vetores de mudança está no fato de que as mídias digitais estão permitindo que a colaboração entre as pessoas seja cada vez mais direta e menos dependente de estruturas hierárquicas e burocráticas”. Abramovay dá como exemplo o automóvel. “Ele hoje é um fator de degradação dos tecidos urbanos. Daqui a 10 anos, o automóvel vai ser uma plataforma digital, altamente conectada, sem motorista, e de uso coletivo, compartilhado” (Veja vídeo abaixo).
http://www.youtube.com/watch?v=Jos7UDkM31c
Entre os palestrantes brasileiros do ColaborAmerica também estão Gabriela Agustini (do Olabi), Alessandra Orofino (do Meu Rio), Rodrigo Baggio (do Comitê para a Democratização da Informática – CDI) e Camila Carvalho (do Tem Açúcar?).Os organizadores calculam reunir cerca de 2,5 mil pessoas no evento. Nos dois primeiros dias, haverá palestras gratuitas e outras pagas, com conteúdo mais aprofundado e especializado. No terceiro, todas as atividades serão de graça.